A EDUCAÇÃO E A PEDAGOGIA SISTÊMICA 3. Cada um em seu lugar

 p. Daniel H. Della Valle Cauci

Nada o quase nada de tudo isto, pode ser desenvolvido se no aluno, não se desenvolve a percepção de si mesmo ou sem a percepção do seu verdadeiro lugar dentro da sua realidade, que nos primeiros anos de vida se define, justamente, no pertencimento a sua família (e na compreensão do que significa pertencer a ela), e peloss seu processo de socialização, que começa na família, mas que se continua e se amplia numa escola capacitada e respeitosa de tudo o que ele é e representa.

Esta percepção de se mesmo é essencial, e, deveria ser ensinada dentro da construção dos laços familiares. Porém, nem sempre acontece, pelas tarefas sistêmicas que cada família está chamada a realizar. A escola então pode jogar o papel de ajudar a reconectar o aluno com a sua força familiar de forma respeitosa e sutil, esclarecidamente, através de uma pedagogia sistêmica na sala de aula.

Mas, para ser mais exatos, a percepção de se mesmo e do lugar no projeto de inter-relacionalidade instituição, professor, aluno e sua família, não se restringe, de jeito nenhum ao aluno. Todas as partes devem reaprender a se perceber na sua essência e na sua identidade, para aprender a fazer uso sistêmico das suas atribuições por meio de uma participação responsável dentro do processo educacional, que não termina na escola ou no ensino fundamental, mas que se faz imprescindível nestes níveis.

Isto se denomina dentro da visão sistêmica dos relacionamentos, “estar no seu lugar”.

O interessante, é a drástica diminuição de conflitos e desgastes em todos os atores do processo educacional dentro da escola, quando cada um “está no seu lugar”.

1)      O aluno passa realmente a ser o centro do processo, sendo tido em conta no seu aspecto coletivo e individual, passa a ser respeitado pelo instituto, pelo professor e apoiado pela sua família.

2)      Se diminui consideravelmente o desgaste físico e emocional do professor. Melhora seu desempenho profissional, atinge melhores resultados no ensino e conquista a possibilidade de recuperar seu equilíbrio sistêmico nos outros sistemas de pertencimento (família estendida, matrimônio, a relação com seus próprios filhos, etc.),

3)       e se alivia o papel conciliador de conflitos das instituições, dedicando-se desta maneira, a suas atividades intrínsecas. 

Em resumo: A pedagogia sistêmica é uma abordagem educacional que busca promover uma visão mais ampla e integrada do processo de ensino e aprendizagem. Ela se baseia nos princípios da teoria dos sistemas e reconhece que os seres humanos estão inseridos em diferentes sistemas, como a família, a escola e a sociedade, e que esses sistemas estão interligados e influenciam o desenvolvimento e o aprendizado dos indivíduos. Como diz a Psicopedagoga, Lucimara Maia:

“...a nova abordagem traz a possibilidade de criarmos a partir da escola um ambiente de inclusão onde todos possam assumir os seus papéis, levando em conta os sistemas familiares, educativos e institucionais.” (Link na bio)

Para atingir uma mudança de paradigma educacional, se necessitaria da decisão e apoio político-ideológico dos governos, mas pode acontecer na concordância dentre a direção e os educadores das instituições.

E não necessariamente aumenta o esforço e a doação já imensa dos professores. Na realidade a humaniza e a diminui. Só necessita de uma nova forma de ver a relação com os alunos e suas famílias, e se permitir a eliminação ou, pelo menos a diminuição da autoexigência em relação ao controle do processo educacional, que, de todas as formas, em geral, já não possui.

 

OS PROBLEMAS DA ESCOLA

 

Agora bem. A Pedagogia é a ciência que estuda a educação, organizando dentro das suas características, os processos, métodos e técnicas que utiliza para a formação dos indivíduos, entanto que a Pedagogia Sistêmica, é a ciência pedagógica concebida dentro da teoria geral dos sistemas, e mais especificamente, dentro da visão da filosofia sistêmica de Bert Helliger.

São vários os problemas que a escola enfrenta e a pedagogia a aplicar deve ter em conta e se sobrepor a estes problemas… A categorização e hierarquização destes problemas se podem listar segundo diferentes pontos de vista.

Mas dentre os problemas que mais se repetem, podemos listar a evasão dos alunos, a dificuldade de acesso às instituições de ensino, a falta de participação das famílias dos alunos nas escolas, a indisciplina, o bullying e as distrações na aula, as dificuldades de leitura, a desvalorização dos professores, e outras muitas questões que em alguns casos, mais que problemas, como diz a Pedagoga Mexicana Angelita Olvera, surgem como um sentimento de “culpa”, ao comprovar que as crianças não aprendem. Culpas que são carregadas pelos professores, pais, alunos e até as matérias historicamente difíceis, como “mochilas” indesejadas que pesam nas costas, sem que professores, escola ou família saibam o que fazer com elas, ou, em todo caso, sem poder achar os verdadeiros culpados.

Os filhos não aprendem, os pais culpam ao professor ou professora, estes culpam a família por não fazer sua parte e à instituição que não apoia, os diretores se vem limitados pelas políticas educacionais e se desgastam achando culpados nos constantes conflitos...

Mas, tratando-se dos processos, métodos e técnicas dos que se vale a educação para transmitir aos seus educandos, conhecimentos, vivências, valores e ferramentas para interagir com a realidade; tratando-se da compreensão das circunstâncias da escola e da sua inserção na sociedade à que pertence, da realidade particular da sala de aula, dos relacionamentos dentro das instituições de ensino e da especialíssima relação professor/aluno, optar por uma visão sistêmica que procure, ache e priorize o essencial dentro de um grande sistema, que se rege por uma interação solidária em prol de objetivos comuns, fará toda a diferença.

Outra opção seria cada um por si, como uma aposta ilusória à meritocracia, o que não traria nenhum benefício real para a educação e sem dúvidas nos afastaria das possíveis e verdadeiras soluções. Ou, talvez, uma estrutura vertical, onde, geralmente quem está no ápice da pirâmide, não vê nem se interessa muito pela base, e procura resultados estatísticos e positivos na relação custo/benefício.

 

A ESCOLA COMO SISTEMA E AS LEIS SISTÊMICAS

 

Agora, definindo a escola como um sistema, conformado pelos seus principais atores e a própria instituição, características e conceitos como recursos, dedicação, importância, hierarquias e responsabilidades, se auto organizam. Fundamentalmente porque dentro de uma escola tudo se define na efetividade dos relacionamentos interpessoais, que possuem hierarquias e funcionalidades intrínsecas bem específicas.

A Pedagogia Sistêmica é uma abordagem que busca compreender as dinâmicas e interações presentes nos sistemas educacionais, considerando a escola como um sistema complexo. De acordo com essa perspectiva, o sistema escolar é concebido como um conjunto de elementos interdependentes que se influenciam mutuamente, e, que agindo conjuntamente podem gerar como emergente sistêmico, uma educação de qualidade superior.

Se consideramos a escola como um sistema, veremos que fazem parte dela os seguintes atores:

1)      Alunos:

Os estudantes são considerados parte essencial do sistema escolar. Suas características individuais, necessidades, potencialidades e dificuldades são levadas em conta para promover uma educação mais personalizada e adequada a cada um.

2)      Professores:

Os educadores são vistos como elementos fundamentais dentro do sistema escolar. Seu papel vai além da transmissão de conhecimentos, sendo valorizada sua capacidade de estabelecer vínculos com os alunos, compreender suas demandas e criar um ambiente de aprendizagem saudável.

3)      Gestores escolares:

A gestão escolar desempenha um papel crucial na conformação do sistema. Os diretores e coordenadores são responsáveis por estabelecer as diretrizes pedagógicas, gerenciar recursos, promover a participação da comunidade e criar uma cultura institucional que favoreça o desenvolvimento dos estudantes.

4)      Famílias:

A Pedagogia Sistêmica reconhece a importância da participação ativa das famílias no sistema escolar. Porém reconhece e confirma que o aluno chega à escola, indefectivelmente com seus pais, e que estes estão presentes nos seus filhos o tempo todo. O reconhecimento desta relação absolutamente sistêmica entre escola e aluno-família é vista como um fator determinante para o sucesso educacional dos alunos. E cada caso é um caso, até porque os pais biológicos podem estar física e emocionalmente presentes O NÃO, na vida dos seus filhos, mais, sistemicamente, sempre o estão.

5)      Comunidade como sistema maior:

A escola também é integrada à comunidade na qual está inserida. A relação entre a escola e o entorno social é considerada relevante para a formação dos estudantes. A comunidade pode contribuir com recursos, experiências e apoio para enriquecer o processo educativo.

Estes elementos fazem parte do sistema. Mas, sentar a todos eles ao redor de uma mesa e lhes dar voz e voto, de por si, não lhes outorga direção, sentido, nem os chancela como sistema. Para isto, se necessita “fazer parte”, ter pertencimento, ter objetivos e metas comuns muito bem articuladas e muito bem definidas, e, fundamentalmente, permitindo que cada um dos elementos tenha seu lugar e hierarquia. Cada um dos elementos deve saber o que se espera dele... o que deve ou pode dar, assim como o que é que pode esperar dos outros.   

No coração da Pedagogia Sistêmica está à compreensão de que todos estes elementos estão interconectados e que qualquer ação ou mudança em uma delas pode afetar o sistema como um todo. Positiva ou negativamente.

E é aqui que surgem as leis sistêmicas de Bert Hellinger e que a Sra. Marianne Franke-Gricksch tão acertadamente levou para as salas de aula.

1.      Ordem e hierarquia:

Esta lei sistêmica fala da a importância de honrar a ordem e a hierarquia nos sistemas educacionais. Reconhecer e respeitar a autoridade dos professores, diretores e funcionários da escola é fundamental para o bom funcionamento do sistema, mas, agora, tendo em conta a família do aluno, e, principalmente a seus pais, tendo em conta que eles vêm primeiro e que qualquer interação, dentro da filosofia sistêmica, nunca é dentre indivíduos e sim dentre sistemas. A relação escola aluno, ou professor/aluno... muda essencialmente.

2.      Pertencimento e inclusão:

Aqui se destaca a importância de criar um ambiente escolar inclusivo, onde cada aluno se sinta pertencente ao sistema. Isso envolve reconhecer e honrar a diversidade dos alunos e garantir que todos sejam valorizados e respeitados. E mais uma vez, a família também pertence e deve ser incluída, principalmente através da ressignificação do papel dos pais e da família no aluno e através do respeito a suas existências por parte da escola e dos professores. As famílias estarão presentes segundo as suas possibilidades, mas, o comportamento sistêmico, dentro da posta em prática de uma pedagogia sistêmica, trará soluções sistêmicas para conseguir sua aproximação.

3.      O equilíbrio (dentre dar e receber);

Se trata de um equilíbrio complexo e compreensivo. Pelas características sistêmicas, a relação professor/aluno, dentro desta lei, é muito parecida com a relação pais/filhos. Se diz que os pais sempre dão e os filhos sempre recebem, e em termos de equilíbrio sistêmico, os professores também sempre dão e os alunos sempre recebem, sem ter condições de dar ou tentar devolver alguma coisa para seus professores. Esta lei de equilíbrio, define e muito a relação e as características do comportamento professor/aluno + seus pais (ou responsáveis), onde o aluno é o mais importante, mas que, hierarquicamente, primeiro estão os pais, depois os professores e finalmente o aluno.

Ao reconhecer e respeitar as dinâmicas familiares, as relações interpessoais e as necessidades individuais dos estudantes, tendo em conta às leis sistêmicas, os educadores podem criar uma base sólida para o crescimento acadêmico, emocional e social dos alunos.

Os elementos mais preciosos dentro do processo educacional são os educandos. Para eles e pelos benefícios que todo o trabalho de educar trará para a sociedade, é que se estabelece toda a estrutura, a formação de educadores e toda a logística que permite a existência da educação.

Atingir uma educação através da pedagogia sistêmica requer de uma certa mudança de percepção e com certeza de uma nova consciência. Uma consciência e uma inteligência sistêmica. Talvez seria necessária uma nova filosofia, que de sustento conceitual a tanta ressignificação.

Mas, todo a seu tempo.

 

Abraço a todos

Muita luz

 

 

Comentários