O QUE DEVO FAZER DEPOIS DE FAZER UMA CONSTELAÇÃO?

 p. Deniel H Della Valle Cauci

O resultado de uma constelação nunca pode ser colocado no papel, ser medido o contido em explicações simples. É algo que se vivencía através da percepção diferenciada da realidade por detrás da realidade. E todo “depende, depende e depende”.

Aprendemos esta frase, que é bastante simpática e que nos chama atenção sobre a enorme diversidade de possibilidades por trás de uma Constelação Familiar, nas primeiras aulas da nossa formação como Consteladores. E é mesmo assim, porque tudo depende de muitos fatores, e principalmente da percepção alcançada pelo consulente perante seu campo de constelação.

Só que para chegar a essa percepção, para o consulente chegar a essa consciência, houve toda uma caminhada coletiva numa sucessão de conflitos e soluções familiares, de intensas lutas contra os apegos e dores do desamor, assim como também instâncias de intensa e calma felicidade, em repentinos momentos de compreensão, assentimento e ressignificação, seja nessa ou em outra ordem. 

Olhando para as informações que se desprendem do campo de constelação e seus representantes, ou talvez do campo montado com bonecos ou objetos, ou mesmo através de respeitosas dinâmicas sistêmicas com o consulente, podemos ver que as causas dos emaranhamentos, ou seja, antigas resistências e crenças, criadas e reafirmadas por gerações, vão se desmontando, perdendo sua força com cada nó que se desata no coração e na mente do consulente.

Para algum tipo de êxito na nossa tarefa, a única necessidade é que o consulente deve estar disposto... disposto e disponível. Disposto, ou seja preparado. Disponível, ou seja livre ou desimpedido para realizar sua parte no processo de cura.

Tudo, nesta abordagem das problemáticas que se originam na inter-relacionalidade humana, é único e irrepetível. Por tanto, não existe a possibilidade de predizer alguma coisa ou rotular formas, receitas ou ações.

Nenhuma experiência é igual a outra.

Dependerá de como é que reagimos às circunstâncias, dependerá de quem e como somos, da própria experiência da constelação, do contexto em que estamos inseridos, da nossa cultura, da nossa sensibilidade, do grau de racionalidade, do conhecimento e da informação que tenhamos sobre o que é e significa crescer e evoluir, assim como tantas outras questões… que é impossível qualquer tentativa de descrever que é o que acontecerá numa constelação... com algum tipo de antecipação.

Sempre que falamos de comportamento humano e de inter-relacionamentos, o único que sabemos é que cada situação é única e irrepetível. E as reações que observamos nos consulentes após de fazer uma constelação, não indicam outra coisa. Sempre são diferentes.

Há quem se permite o processo de observar para si mesmo e para suas dinâmicas familiares e há quem não; há quem apresenta mais resistência seja pela dor de ter que olhar para si mesmo ou pelo grosso escudo da racionalidade com a qual tenta lidar com as suas experiências de vida.

Há quem continua absorvendo o que foi percebido, o que foi ressignificado durante a constelação, durante alguns minutos, horas, semanas ou meses. Em geral, as pessoas, após fechar a constelação, necessitam desde alguns instantes a dias, para sintetizar tal experiencia. São muitas emoções. Parece que um ciclone passou por cima de nós e então muitos sentimentos devem ser colocados em ordem. As vezes parece que fizemos tudo errado, ou que deveríamos ter feito diferente e nos julgamos... mas, jamais é assim... 8 ou 80.

 

O processo de fazer consciente a forma em que fomos parte das dinâmicas familiares, não é de julgamento nem de uma simples soma o resta de acertos e equívocos.

Quando existe a necessidade de colocarmos de um ou de outro lado de uma suposta verdade, geralmente é quando perdemos o rumo sistêmico do processo de uma constelação, seja como facilitadores ou como constelandos.

Como dizemos, é necessário estar disponíveis para compreender que qualquer solução necessita incluir, tender pontes e deixar portas abertas, tudo isto, com amor o sem ele. Restabelecendo os vínculos dos quais somos responsáveis para que não se desintegre a teia de inter-relacionamentos, devolvendo a dignidade dentro de nós a quem a perdeu e permitindo que cada quem carregue com suas “malas” e com suas decisões e escolhas, da melhor forma que lhe seja possível.

Aproveitar a constelação e disfrutar do processo, dos novos pontos de vista que esta nos traz, só é possível vencendo toda a resistência ao evidente na informação do campo e toda e qualquer intenção de manter o controle.

Acredite... a racionalidade não tem vez no trabalho de uma constelação.

Dentro do fato de fazer consciente a história e as raízes dos emaranhamentos ou dos conflitos originais, há sutis e velozes processos de desaprendizagem e reaprendizagem de conceitos e de construções psicológicas, que antes geravam estresse, mal-estar e contradições na nossa vida. São esses processos os que nos levam a encalhar em relacionamentos defeituosos ou desequilibrados, e, principalmente, os que nos convidam, constantemente, a nos sair do nosso lugar.

 

Se não se desaprende e aprende uma nova abordagem, estaremos girando em círculos e batendo a testa sempre contra o mesmo muro, empurrando para mais tarde os emaranhamentos que queremos resolver, sem achar soluções sistêmicas.

Outras pessoas, dentre tanto, possuem mais dificuldades para se permitir essas percepções.

Elas sentem que antes de perceber, devem entender o que está para ser percebido, o que fecha totalmente as possibilidades de achar soluções sistêmicas.

Para chegar a ter consciência e perceber a necessidade de soluções, as Constelações Familiares Sistêmicas, se valem da informação que se resgata fenomenologicamente, da forma mais pura e direta, do campo de constelação. Isso quer dizer que, por definição, temos que estar cientes e nos afastar dos nossos próprios preconceitos e suposições, suspendendo tudo e qualquer julgamento. Daí que, de querer entender o problema antes de percebê-lo, transformaremos nosso trabalho em um processo racional, e já não mais, estaremos numa constelação.

Dentre estes dois grandes grupos de pessoas, acharemos todo tipo de reações.

Mas, ... tudo bem... pensemos que a Constelação já terminou; já foi realizada.

Ok!

E Agora... o que é que o consulente deve fazer...

Em definitivas, se trata de uma pergunta válida... 

 

Após a constelação, ...Tudo está resolvido?

Os problemas desaparecem?

Na realidade a constelação é o início de um processo de harmonização e não seu final. Extrair um dente é um processo que tem um começo, uma metade e um final relativamente imediato.

Porém, uma constelação é diferente. Ela traz à tona novas informações e permite a transformação das informações antigas, que por sua vez, foram no passado, o marco sobre o qual fizemos nossas escolhas, tomamos as nossas decisões ou agimos de tal ou qual maneira.

As novas informações nos permitem ver mais longe, mais amplamente, e nos oferecem um novo diagnóstico de situação sobre o qual, fica muito mais fácil compreender os equívocos, nossos ou de outros, já não como falhas intencionais, elucubrações truculentas ou pecados irrepetíveis, e sim como produto do contexto, das circunstâncias e informações à disposição naquele momento.

Uma vez que sabemos disso, que temos como ajustar nosso sentir, que temos como olhar com maior sabedoria para nossas experiencias, para nossas vidas, para nós mesmos, ...podemos perceber o que antes não soubemos ver, e que agora nos permite cortar amarras conceptuais, tirando o peso que manteve nosso ser longe da realidade. Podemos ver aos outros e a suas ações nas suas verdadeiras dimensões e podemos finalmente nos priorizar.

A maior parte das vezes aprendemos imperfeitamente a viver e a sentir.

A “escola” de casa deu as melhores ferramentas possíveis para enfrentar os desafios do cotidiano... Nem sempre nos deu as melhores.

A partir daí, a gente sempre vive da melhor forma possível. No acerto ou nas decisões menos afortunadas. Porém, sem a opção de “fazer cortes ou de editar”, a nossa vida como em um filme, de forma de fazê-la mais assertiva ou desfrutável.

A nossa vida é essa, e cabe a nós a opção de nos sentarmos no meio-fio a chorar nossa frustração, ou, munidos das novas informações sistêmicas, subtrair as energias e a força que o nosso sistema sempre pode nos oferecer, agora em um novo e melhor equilíbrio pessoal, e tomar as atitudes corretas para fazer da nossa vida algo verdadeiramente significativo. 

Nada é de um dia para o outro. Os resultados de uma constelação podem chegar de forma rápida, em horas o podem surgir através de mudanças paulatinas por meses, se é que nos damos esse tempo.

Os ajustes dentro de um sistema familiar depois de uma constelação, podem ser mais que assombrosos e revitalizantes, mas não são, em geral, imediatos. E, também, dependerão do que suceda com o consulente depois da constelação.

Se o consulente teve a sorte de se permitir fazer parte do movimento de solução, ainda fica se ajustar para fazer parte do novo equilíbrio do seu sistema, agora muito mais consciente e com as informações necessárias como para fazer diferente e de forma includente.

Na constelação, se inicia um processo a partir das informações recebidas fenomenologicamente. E essa atitude fenomenológica deve se manter após a constelação. Raciocinar e pretender dar respostas ao porquês da nossa mente, nos convida a ter que dar respostas que nem sempre temos. Compartilhar a nossa experiencia de ter constelado, com outras pessoas, é nos expor a ouvir opiniões que podem gerar dúvidas ou incertezas que diminuam a força que colhemos do campo e das heranças dos nossos ancestres. 

Então, o que fazer depois de constelar?

É continuar vivendo, só que agora com mais sabedoria; sem estarmos amarrados a ideias e sentimentos inadequados, percebendo a realidade e o nosso próprio ser desde um ponto de vista mais alto, dentro de um cone perceptivo maior, e de forma muito mais leve.

É lentamente nos deixar voltar a nosso lugar de sabedoria, nosso lugar na vida, determinado pelo contexto (pertencimento), pelas nossas circunstancias (ordem) e pela forma em que decidimos nos inter-relacionar com as pessoas ao nosso redor (equilíbrio).

Na prática, guardamos no nosso coração todo esse processo, que teve início na constelação.

Não se deve falar dele com ninguém; não se devem dar detalhes da constelação, nem tentar explicar os sentimentos que surgiram nela. Só depois de alguns dias, podemos comentar, sem dar nenhum detalhe; só de forma bem geral e se é totalmente “necessário”.

Não analise na sua memória as diversas instâncias da sua constelação... deixe-a agir dentro de você, dentro do seu sistema, como sendo um observador ou observadora, dando tempo a que cada parte tome seu lugar. Só assim, a constelação se realiza. Semanas..., meses..., O tempo necessário. Você certamente saberá.

A solução sistêmica que surge de uma constelação é uma obra em construção, onde você, como ator principal, através de uma visão mais profunda e de um agir muito mais compreensivo, levanta com novas atitudes um novo espaço de convivência e de inter-relacionalidade. Tudo, no seu sistema, incluindo seus integrantes, ancestres de várias gerações, aqueles que hoje fazem parte do seu dia a dia, assim como também e talvez mais, seus descendentes, fazem parte dessa obra. Obra à qual, você..., você que constelou..., ajudou diretamente, dando novos e melhorados alicerces.  

Nem sempre poderemos resolver todos os problemas, mas sempre poderemos fazer o melhor independentemente dos resultados imediatos, para dessa forma, botar a funcionar um movimento bem maior, de soluções inclusivas e pacificadoras.

 

Um forte abraço a todos

Muita luz

Até.


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