SUA AJUDA... AJUDA?

  p.Daniel H. Della Valle Cauci

Em um outro post, onde explorávamos o significado da expressão “quero me curar!”, falávamos da necessidade de compreender o que é que as pessoas realmente pedem, quando pedem ajuda para se curar.

Algumas, pedem um colo ou necessitam de compaixão, outras pedem uma ajuda real, clara, prática para iniciar um processo de recuperação. Algumas pedem ajuda para se curar, mas, não estão dispostas, e outras pessoas, só querem chamar a atenção.

Saber o que as pessoas realmente querem quando pedem ajuda, não só é importante para o terapeuta, senão para qualquer pessoa que tenha verdadeira e sincera vontade de ajudar, simplesmente, porque dependendo de qual seja a postura de quem reclama por ajuda, esta será possível ou não.

Se dispor a ajudar, sempre é maravilhoso. Até porque isso supõe uma doação por parte de quem ajuda, que não só é humana e mostra empatia, senão que as vezes pode evitar sofrimento e até salvar uma ou várias vidas.

Ajudar, é um verbo que possui muitas acepções. Por exemplo:

Prestar socorro, assistência; auxiliar, assistir... e também, tornar mais fácil; facilitar, propiciar...

Mas, isso não significa que, quando falamos de saúde e de todos os seus processos, toda ajuda seja um socorro, ou que toda ajuda deva simplesmente facilitar determinado processo, sem olhar para a necessidade do aprendizado que a dificuldade traz. Assim, a ajuda pode ser de várias formas e ter diferentes consequências, sejam estas positivas, neutras ou negativas.

A verdade é que a ação de ajudar tem pelo menos três facetas interessantes, nas quais devemos prestar atenção.

·         A própria ajuda, que existe em um amplo leque de possibilidades.

·         O ajudado, que está em desequilíbrio e nem sempre tem consciência da sua situação, e pelo tanto, nem sempre compreende nem suas necessidades, nem sua situação de vida...

·         O ajudante, já que ele mesmo pode estar fora do seu lugar, em desequilíbrio, ou sujeito ao julgamento da sua própria consciência, em cujo caso não teria como ajudar sem gerar consequências negativas para si, para sua família e para quem se propõe ajudar.

*Não podemos ser insensatos e desconhecer que há ajudas urgentes que devem ser rapidamente atendidas. E não nos referimos aqui a esse tipo de ajuda. Fome, cataclismos, acidentes, necessidades essenciais para a vida, e outros tipos de urgências requerem ou até exigem nossa atenção e ajuda. São situações de socorro.

A nossa reflexão está destinada à ajuda que se dá à pessoa que diz que quer se curar. Nos referimos a uma ajuda real e possível que se realiza para assistir a alguém que está sem forças físicas ou emocionais, que atravessa ou atravessou situações desgastantes e que pede ajuda ou demostra necessidade de ser ajudado para tentar um processo de recuperação ou de cura.  

Se trata de uma ajuda que bem pode ser material, monetária, emocional, espiritual, legal ou de qualquer outra forma.

*A pessoa que procura ajuda pode estar vivendo um sem fim de situações. Pode estar depressiva, estressada, doente, sem energias, desmotivada, dolorida, em luto ou até passando pela noite escura da alma. Talvez sofra de todas estas circunstancias juntas. Mas, como vimos antes, a doença, o desequilíbrio, as circunstâncias que cada pessoa experimenta, são em realidade uma construção que pode ser da sua única e inteira autoria, uma construção que pode ser adquirida nas dinâmicas “Eu por você”, “Eu com você”, ou pode ser uma herança sistêmica, que chega à pessoa como uma tarefa irrecusável, na procura de soluções para antigos emaranhamentos (como são rijas de família, exclusões por raça, credo, ideologia, ou por qualquer outro problema, violência, abandono, incompatibilidade a partir de sistemas de crenças, e outros...).

Pode estar em qualquer situação de dificuldade, mas o que realmente importa, é quanto esta pessoa está aqui e agora, numa atitude adulta, preparada para adentrar num processo de percepção e transformação.

Estar aqui e agora no seu lugar de pertencimento e em um estado de ego adulto, nos assegurará que fará o que deva fazer dentro das suas reais possibilidades, saindo de qualquer postura de vítima, de criança ou de injustiça, que lhe atrapalhe ou deforme sua perspectiva de futuro sem doença nem desequilíbrio.

*A última faceta que temos a observar é a do ajudante. E é sem dúvidas a mais difícil de analisar. Tal vez, porque o ajudante parece estar por cima de quem é ajudado, ... más poderoso, maior e melhor.

 

Isto não deixa de ser um crasso equívoco, pois todos estamos sujeitos a uma “força Superior”, perante a qual somos todos iguais. Mas, segundo a lei sistêmica que fala sobre o equilíbrio, quem doa, quem dá, quem cede alguma coisa, gera uma dívida em quem recebe. Dívida que bem poderia ser resolvida com um sincero obrigado, porém, no dia a dia das nossas vidas, carregadas de urgências, de apegos e de carências, a sensação de dívida permanece em quem recebe, que sente a necessidade de devolver algo pelo menos semelhante a aquilo que recebeu, e sobrevive em quem deu, sobretudo pela satisfação por ser credor e pela sensação de inocência que isto traz para sua consciência.

Quem ajuda se sente bem. Alimenta seu coração; se sente credor, parece que queima seu karma através das boas ações. Nem sempre isto é claro ou evidente para quem ajuda, pois se trata de sistemas de crenças muito antigos que habitam nos indivíduos.

Tudo isto sem deixar de ver que, sempre que possamos ajudar e que isso não nos tire do nosso lugar e das nossas obrigações sistêmicas, poderemos ajudar.

Alguns ajudantes profissionais, se abraçam à ideia de ajudar sem olhar para quem e sem medir esforços... Porém, que tipo de ajuda estamos dando para uma pessoa para a qual não olhamos... como determinar a melhor forma que temos para lhe ajudar... se não olhamos para a pessoa, nem conhecemos suas circunstancias, nem suas reais necessidades. E mais, olhar para o indivíduo sem olhar para seu sistema familiar e a sua história, irá deixar uma enorme quantidade de “pontas soltas” diminuindo a efetividade e diluindo as razões de  toda e qualquer ajuda.

Todas as situações são diferentes.

Uma vez mais, a máxima “depende, depende, depende” funciona dominante nos nossos análises.

E como ajudar sem medir esforços, sendo que fazemos parte de nosso próprio sistema, de uma família, que também necessita de nós, de nosso tempo, de nossa saúde, dos nossos recursos, e nada disto é inesgotável.

Esse tipo de ajuda é louvável, mas, sem olhar a quem se ajuda, a ajuda perde sua força e até seu sentido. As pessoas que não possuem outras formas de ajudar, e simplesmente ajudam sem olhar, se sentirá bem e fará uma boa ação, mas sua ajuda poderá postergar necessidades mais urgentes que deveriam ser observadas por um bom ajudante, ou poderá encobrir situações que deveriam ser encaradas muito mais responsavelmente.

A ajuda e o ajudante existem em uma relação direta de dar e receber.  Como a caixa d’agua de uma casa, que supre as necessidades desse lar. Todo o mundo se beneficia. Mas se por sua vez, a caixa d’agua não recebe água da cidade, não terá mais nada a dar.

O “querer ajudar”, também tem muitas conotações. Da mesma forma que “Eu necessito ajuda para me curar”, “Eu quero ajudar”, pode ter muitos significados. E em alguns deles, o resultado de querer ajudar nos pode levar até consequências inesperadas e indesejadas.

Eu sei que em geral não pensamos assim. Que quando a gente quer ajudar ajuda mesmo sem olhar as consequências. Mas, por favor, necessitamos observar que não toda situação é igual.

A pessoa que deseja ajudar deve perguntar-se se pode ajudar; se tem condições de ajudar. Mas ajudar de qualquer jeito... não é viável, pois há só uma ajuda possível, se é que queremos resolver problemas e não desencadear uma enxurrada de novos inconvenientes.

A ajuda possível, fora da ajuda socorro que não faz parte da nossa reflexão, se resume nas cinco (5) ordens de ajuda de Bert Hellinger, que enumeraremos a seguir.

1      A ajuda é equilibrada: Só dou o que tenho e tomo o que necessito; respeito os limites do dar e tomar.

2)      A ajuda é consciente e humilde: As circunstâncias determinam se posso ou não posso ajudar. Só ajudo se me é permitido.

3)     A ajuda só pode ser madura: só podemos ajudar de igual para igual, cada um desde seu próprio lugar, para evitarmos transferências e contratransferências.

4)     A ajuda é sistêmica: Quer dizer que na nossa ação de ajudar, jamais incidimos só no indivíduo e sim em todo seu sistema. Na ajuda, sempre devemos ver para todo o seu sistema.

5) A ajuda é profundamente respeitosa: Quando ajudamos, não importam as diferenças que possam existir entre mim e a pessoa que ajudarei.

   Sei que podem existir dificuldades para compreender estes conceitos sistêmicos.

   Estaremos aqui para tirar suas dúvidas.


Um forte abraço, muita luz, ...até.


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