A AUTOEXIGÊNCIA: VIRTUDE OU PROBLEMA?

 p. Daniel Héctor Della Valle Cauci

O ato de nos exigir demais, de sempre tentar a perfeição e não aquilo do que sou capaz, de ter altas expetativas e anelos urgentes de atingir determinados objetivos, e sem opções de fracasso, não parece ser uma opção para termos uma vida tranquila e relaxada;

Não parece ser uma possibilidade de existir sem estresse. Sobretudo se é que esta “característica” da personalidade existe em nós de forma constante.

A autoexigência na realidade é dúbia, pois pode nos dar uma ajudinha ou pode nos complicar.

Em ocasiões, pode ser considerada uma virtude. Podemos pensar na autoexigência como uma forma de potencializar a capacidade de realização, de concretização e de sermos muito mais efetivos na hora de fazer ou gerenciar, qualquer tipo de atividade. Qualquer uma!

Pode ser executar um projeto milionário, uma obra de arte, um bolo, trocar a roupa de cama ou fazer amizade com o vizinho... Passear o cachorro...

O que importa não é o que se faz, mas sim a forma impecável em que o fazemos. O que importa é que a tarefa seja feita em tempo e na forma em que o planificamos. Que seja muito bem feito. Se for possível, feito melhor que ninguém! 

De outra forma, a autoexigência pode ser considerada um peso morto que nos esgota e nos deixa inoperantes, à mercê da desinteligência do perfeccionismo.

Ela pode nos conduzir à inercia e a procrastinação, e pode nos levar a consumir nosso tempo em tarefas intermináveis sem obtermos jamais êxitos ou satisfações, o que é muito frustrante. Isto, independentemente de nos isolar, pois ao sermos autoexigentes, provavelmente, teremos dificuldades em aceitar as outras pessoas fazendo as coisas de uma outra forma que não a nossa.

Mas, de onde vem a autoexigência?...

O que é a autoexigência?

Obviamente, autoexigência é exigir demais de si mesmo.

Dependendo da identificação que tenhamos com essa parte de nós, da intensidade da nossa auto exigência e do preço que pagamos para sermos auto exigentes, esta característica pode ser leve e positiva, simplesmente cansativa e frustrante, ou, pode chegar a ser o ponto de partida para chegarmos até doenças e desequilíbrios que nos debilitem física e emocionalmente, até nos afetar de forma drástica.

Desde o ponto de vista psicológico nossa autoexigência, quando constante e estigmatizante, e pode ser compreendida como uma consequência da vida moderna, cheia de exigências, urgências e competitividade; como a consequência da ansiedade, do medo, da insegurança que tentamos preencher com enormes esforços para ganhar a aceitação e admiração do outro, realizando as coisas não como seria certo ou apropriado para nós e sim por fazê-lo do jeito que a pessoa da qual necessitamos a aceitação e a admiração, prefere.

Comumente, somamos à autoexigência já de por si debilitante, um excesso de planificação, um pouco (pouco não... sempre muito) de perfeccionismo, e uma tendencia a somar muitas tarefas e responsabilidades, fazendo das nossas empreitadas tarefas praticamente impossíveis.

Dessa forma, geralmente terminamos subjugados pelo pensamento repetitivo, pela tensão neuromuscular e pelo estresse, descontrolando o sistema nervoso vegetativo.

A autoexigência nos conduz a compararmos com outros e a duvidar de nós, a duvidar da nossa capacidade, a sentir a possibilidade de sermos menos que as outras pessoas...

Nos conduz à baixa autoestima. Ainda que, como dizemos, nem sempre somos conscientes destes sentimentos.

Desde o ponto de vista sistêmico, não podemos catalogar à autoexigência como uma virtude, a não ser em contadíssimas circunstancias.

Dentro de uma visão sistêmica, a autoexigência constante dificilmente é um movimento a favor da vida, pois é um comportamento que desgasta, que está aí para nos impedir realizar algo que seria essencial.

A autoexigência é uma auto sabotagem, e, poderíamos dizer, que age grosseiramente transvestida de sutileza. A prova disso é que uma das suas consequências negativas e a procrastinação, pois nunca estamos prontos o suficiente.

É um sentimento comum na pessoa auto exigente o medo de falhar, de não fazer certo, e então, é um comportamento também comum o deixar para depois, quando tudo esteja pronto, tudo planificado, quando tudo esteja no controle...

Como naturoterapeuta e iridólogo, a percepção comportamental da auto exigência surge nos primeiros momentos da anamnese, e a visualização iridológica da mesma é imediata: no primeiro instante de observação iridológica.

E se podemos observá-la nas íris tão rapidamente, os iridólogos compreenderão isto mais facilmente, é porque surge como claros sinais que não deveriam existir; como sinais que apontam estados disfuncionais ou patológicos.

O acúmulo de toxinas ácidas de origem hepático e renal, sua sedimentação, preferindo a área cerebral, rodeando a linha de expressão ou simpática, junto aos sinais clássicos de estresse sobrepovoando essa mesma região, e ao tipo de coloração que impregna o tecido iridiano... são sempre clara e rapidamente visíveis para o iridólogo.

Logo, não pode ser coisa boa.

Na iridologia familiar sistêmica fica clara a incidência dos estímulos “de casa” nos primeiros anos de vida, pela rigidez ou ausência de afetos que a pessoa sentiu nos momentos em que estruturava sua psique... lhe impedindo a correta compreensão dos seus vínculos, seja que falemos dos vínculos por pertencimento ou dos outros, os vínculos construídos, os vínculos de amor, do jeito que eles existiam no seu momento.

Fica claro que por traz de características comportamentais fortes como o é o perfeccionismo, a auto postergação, a procrastinação, o sacrifício e o excesso de controle, existe forte e dominante o sentimento que antecede: A autoexigência.

Mesmo assim, o ser autoexigênte exerce seu direito de ser quem ele é. De colher os benefícios e as consequências do comportamento que sua consciência lhe define.

O problema, se é que existe, é que ele de alguma forma e em algum momento da sua autoexigência, começa a transgredir leis sistêmicas, seja em direção a sua ascendência, ou em direção aos inter-relacionamentos horizontais.

Vamos a falar de essas transgressões em outro artigo, mas por agora, podemos concluir que:

A exigência de sermos certos e efetivos nos nossos afazeres, essa autoexigência, pode e deve ser aplicada e sentida com normalidade, nos trazendo a sensação de dever comprido, de bem estar por ter resolvido de forma apropriada e equilibrada os assuntos em questão.

No momento em que essa autoexigência passa a ser sentida como uma obrigação, como uma condição para me aceitar, como uma forma de agregar “valor” a minha pessoa, deixa de estar a favor da minha evolução, pois como ferramenta evolutiva será muito menos efetiva.

Na relativização dos conceitos expostos à dualidade certo-errado, e para não perder a amizade, podemos dizer que a autoexigência é boa ou má.

Na observação das consequências de sermos exigentes ou de conviver com alguém que o seja, podemos observar sistemicamente, que existe “um sair do seu lugar”, uma saga de exclusões que se efetuam inconscientemente, uma soberba que nasce de uma postura infantil e  uma reação a sensação de não ter recebido algo que achamos deveríamos ter recebido, lá traz, quando pequenos.


Um forte abraço a todos...

Muita luz...

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