SEMPRE HÁ UMA MÃE, SEMPRE HÁ UM PAI

 p. Daniel Héctor Della Valle Cauci


Faz um tempo, facilitando numa constelação, uma jovem consulente me falou que não tinha mãe.

Havia muita dor nas suas palavras. A dor de ter sido traída, de ter sido deixada para atrás na vida, absolutamente desprotegida…, mas com muita dor. A mãe a tinha dado em adoção com 3 anos e nunca mais a viu.

Agora, recentemente, um outro consulente, e dentro do relato breve da sua história, mencionou com naturalidade que a Mãe morava em outro estado e que não tinha Pai.

Quando questionei..., com muita tranquilidade falou que seus pais tinham se conhecido, se apaixonado, a mãe engravidou e que aquele que seria seu pai, logo desapareceu. E nunca mais se soube dele.

Suas palavras eram pronunciadas com tranquilidade, mas podia se SENTIR que por trás de cada uma delas havia MAIS.

O interessante é que, nos dois casos, o tema que pretendiam constelar, não se relacionava com a mãe que deu em adoção, nem com o pai que desapareceu. Os temas eram outros.

Estas são situações recorrentes nas constelações familiares.

O tema a constelar pode ser qualquer um… empresarial inclusive. No entanto, em geral nos levam a necessidade de refazer vínculos de pertencimento, e a contribuir com a reinclusão das figuras do pai e/ou da mãe, que foram afastadas… recortadas da vida das pessoas, como quem recorta uma foto, na tentativa de esquecer a alguém, seja por amor ou desamor.

Não são todos os casos, mas, sim uma boa parte deles. A maioria.

São assim de importantes as figuras do Pai e da Mãe, para as Constelações Familiares.

 

OLHEMOS UM POUCO PARA A HISTÓRIA

 

A base da sociedade é a família.

E a família base ou nuclear que consideramos como ponto de partida, é formada por pai, mãe e filho ou filhos. Mas, o certo é que, a família evoluiu muito, a partir de uma incontável quantidade de adaptações sociais, culturais, históricas e materiais, desde aquele primeiro esboço de convívio primitivo, onde existia uma distribuição de tarefas por idade e por sexo, que tem sem dúvidas mais de 1 milhão de anos.

Hoje, sabemos que a família base o nuclear pode estruturar-se em base a outros arranjos como no caso de dois pais, duas mães, mães ou pais sozinhos e outras muitas possibilidades, como avôs ou tios cuidando de netos ou sobrinhos, famílias mistas ou irmãos maiores cuidando dos menores etc.

Por tudo isto, na família, nem sempre estão presentes os progenitores.

As vezes por conflitos e crises, outras por falecimento, vício ou doença, por trabalho ou outros assuntos familiares, mas, nem sempre os progenitores estarão presentes na vida dos filhos e isso, pode ter consequências no equilíbrio e funcionalidade dessas famílias, mas sobretudo, poderá ter (e terá) consequências nos filhos.

Mas, veja bem, nada disto quer dizer que a família fora dos padrões clássicos seja inviável, pois a estrutura familiar é muito dinâmica e cambiante. Só temos que estar atentos às leis do amor.

Na sociedade primitiva o vínculo afetivo era inexistente e a consanguinidade reconhecida existia no filho que nascia da sua Mãe, em tanto que o pai permanecia geralmente desconhecido, pois a sexualidade existia em base à afinidade ou preferência do momento.

Também, nas agrupações primitivas, o cuidado dos filhos era uma tarefa coletivizada.

Poderíamos dizer que, a descendência do filho desde sua mãe, foi a semente do que hoje conhecemos como família. Naquele tempo, o pai permanecia anônimo. E o grupo ou clã como um todo funcionava como uma primeira forma de família.

Só na última parte da história do homem, que é uma parte bem pequenina, podemos ver e experimentar a família tal qual hoje a conhecemos, com pesos e complicações arrastadas desde o patriarcado e com conquistas e dificuldades a vencer na atual família pós-moderna.

São curtos milhares de anos de evolução na estrutura familiar, os que nos levam a família nuclear atual.

O patriarcado deixou como herança uma visão do pai deturpada e uma visão da mãe imprecisa e confusa. Foi um período que podemos chamar de “condenável” e ao mesmo tempo necessário

Podemos observar, a partir de tudo isto, que o laço relacional Mãe/Filhos é primário e mais antigo que o laço Pai/Filhos que surge depois, decorrente da necessidade de certificar parentesco.

E sim... Podemos conversar muito; discutir e analisar muito toda essa zaga familiar, todas as cicatrizes que ficaram, o legado da loucura do machismo e a atrofia do submetimento feminino, da forçada submissão feminina, e, da mesma forma, poderíamos analisar e discutir as possibilidades que se abrirão a partir de toda essa experiência; a partir de todo ter sido do jeito como foi.

A família nuclear de pai, mãe e filhos, podem se projetar como modelos a seguir ou perder sua forma original…, pois a realidade se abre em leque para dar espaço a múltiplas possibilidades, modificando lentamente os campos morfogenéticos.

Podemos desenhar a família da forma que for, mas, de uma coisa podemos estar seguros:

SEMPRE, SEMPRE HAVERÁ UMA MÃE E HAVERÁ UM PAI.

Em todo caso, sempre e sem excepções, ainda nos momentos mais difíceis e faltos de afetos, os filhos sempre receberão 50% da carga genética paterna e o 50% da carga genética materna.

Ainda que o pai ou que a mãe se afastem, morram ou desapareçam, suas heranças sistêmicas SEMPRE permanecerão.  Ou seja, as figuras do pai e da mãe, fundamentais para gerar a vida, existirão na concepção e desde aí, continuarão existindo.

É uma questão biológica iniludível de Esperma e Óvulo.

Nas primeiras agrupações humanas, a relação de parentesco existia, mas, resultavam imperceptíveis e a união em grupos se realizava por motivos práticos e naturais.

A Mãe, como relação de consanguinidade e descendência direta acompanha a criança desde a concepção. Mas, nem sempre continua por perto da sua prole.

O pai, geralmente presente na concepção pode permanecer ou pode dar sua herança e sair da cena.

É evidente que o que hoje se espera, é que a Mãe permaneça junto ao filho, o amamente e dentro do seu papel sistêmico seja um marco amoroso, cuidadoso e firme para a evolução do pequeno, assim como o pai, sempre por perto nas primeiras horas do nascimento do seu filho, permanecendo perto da mãe, durante a gestação e após do parto, no seu papel de esposo e de pai, compartilhando todos os momentos e cuidados do filho recém-nascido.

Hoje sabemos da enorme importância destas atitudes parentais no crescimento harmônico biopsicossocial do filho.

O estudo antropológico destas questões que falam da origem do que podemos chamar de família, é um tema vasto e que ainda se discute pela complexidade e multiplicidade de formas nas qual se estruturam seus diferentes arranjos, dependendo da história, das culturas e das religiões..

De todas as formas, para as Constelações Familiares, importa o que sucede nas famílias estabelecidas e suas consequências, e não como foi que chegamos a uma determinada formatação do lar.

Para o constelador, o modelo base, é a família clássica da sociedade onde se constele e não outra.

Isso sim, tendo em conta que, por trás de famílias de qualquer tipo, sejam básicas, substitutas, monoparentais, homoafetivas ou em base a qualquer outro padrão de relacionamento, sempre, sempre, sempre, ... existirá um pai biológico e uma mãe biológica, e, consequentemente, haverá heranças sistêmicas intransferíveis.

Sempre, sempre, sempre, ... existirá uma MÃE biológica e um PAI biológico.

Por tudo isto, esta afirmação tem um validade universal

SEMPRE HÁ UMA MÃE, SEMPRE HÁ UM PAI.

Na negação desta afirmação, pisca escancarada, a exclusão de um ou de ambos os progenitores, e a nossa própria exclusão. Pois sem um deles nós já não existiríamos.

 

Um forte abraço a todos!

Muita luz!

Até!

 


Comentários