UM OLHAR PARA O DIABÉTICO (Primeira parte)

 por Daniel Héctor Della Valle Cauci

Geralmente, quando se fala de Diabetes, se pensa no excesso de doces e de uma alimentação errada, problemas de peso, vida sedentária, e no temor à insulina injetável.  Se pensa no sintomas mais desagradáveis... na obesidade... nas restrições imensas que o diabético tem para sua alimentação diária... e se pensa muito pouco nas consequências físicas reais que esta doença impõe ao indivíduo. E estas, lamentavelmente, não são poucas.

Por ser uma doença nutricional, seu avanço ou controle depende, quase que exclusivamente, do controle alimentar. Pelo menos é assim que começo a conversação quando chega um consulente diabético.

Acontece que cuidar da alimentação é um grande problema cultural para todos nós, mas, para o diabético, por ser esse seu “calcanhar de Aquiles”, pode ser muito mais difícil.

Vejamos:

A Diabetes Mellitus é uma doença metabólica crônica, e a medicina nos diz que é de origem genética. Também nos diz que não tem cura. Mesmo assim, vamos com calma...

A Diabetes Mellitus não é uma e sim um grupo de doenças. Não existe só uma Diabete. Se trata de várias doenças que possuem em comum, o fato de provocar dificuldades para que o organismo possa controlar os níveis de glicose do sangue, mantendo-os sempre acima do normal (de 70 a 100-110 mg/dl). Os diversos tipos de Diabetes se diferenciam por apresentar causas diferentes e mecanismos distintos para a desregulação da glicemia.

Como somos do time dos naturoterapeutas não Médicos, não iremos a analisar a doença desde o ponto de vista médico ou científico. Também não vamos a dar soluções naturais magicas nem gritar aos quatro ventos que temos a cura natural da Diabetes como sendo uma contrapartida irresponsável à visão da Medicina. Nada a ver.

Como Naturoterapeutas não médicos cremos que existe, em algum ponto na gráfica da cura e da não cura, um espaço que poderemos ocupar e desde o qual, possamos “ajudar” aos Diabéticos, dentre os quais, Eu mesmo me encontro.

De partida, o nosso discurso não muda muito do discurso dos Médicos e especialistas. No mundo são mais de 463 milhões de pessoas dentre 20 e 79 anos com Diabetes e em Brasil se estima que mais de 17 milhões[i] de pessoas possuem níveis altos de glicose (e aproximadamente o 50% nem sabe que possui a doença),e, em tanto na Europa a Diabetes se estabiliza, no terceiro mundo só aumenta. No Brasil o crescimento foi de 31% segundo a última medição do Atlas da Diabetes (nona edição). É muita gente e é um tema sério![ii]

Falar da Diabetes sem perder coerência é o nosso cometido.

Quais podem ser as diferenças dentre a visão da Medicina e a visão Natural?

Quais são os pontos em comum?

Que podemos dizer de novo ou que podemos extrair do velho repertorio naturopático que seja um aporte importante e de real ajuda para aqueles que vivem a Diabetes no dia a dia?

Bem..., graças a algo maior, a Medicina já não é a mesma. Ainda continua a ser um “dinossauro branco” (ver Alex Botsaris: “Sem Anestesia”, Ed. Objetiva, 2001), mas é possível acharmos profissionais esclarecidos e atentos ao evidente que estão optando por uma abordagem multidisciplinar, saindo do esquema biomecânico e nesciamente objetivista. Pelo tanto não vamos generalizar. Mas é objetivo dizer que a medicina tem uma abordagem especifica e histórica muito forte em relação as doenças e a Diabete Mellitus não foge disso. Sobretudo na prática do consultório, onde o doente nem sempre é tratado, sendo a doença a verdadeira estrela da ocasião.


A Medicina reconhece em termos teóricos que o tratamento desta doença metabólica crônica, não é complexo, mas, “exige muito comprometimento dos pacientes” (LAAOCCI). As recomendações generalistas mais importantes são:

ü  Alimentação saudável, com baixa ingestão de gorduras e açúcar;

ü  Atividades físicas regulares (30 minutos, 5 vezes por semana);

ü  Perda do excesso de peso e controle de peso;

ü  Adesão à tomada dos remédios prescritos pelo médico;

ü  Monitoramento periódico dos níveis de glicose no sangue;

ü  Visitas médicas regulares para avaliação do controle da doença e monitoramento dos riscos associados.

Para a Naturologia não é diferente.

Um Naturoterapeuta que se respeite, no pode mudar estas recomendações. Na certeza de que a Diabetes é uma doença metabólica crônica nutricional do nosso corpo físico, a Naturologia pedirá muito cuidado na alimentação e na ingesta de líquidos, do exercício e pelo tanto da diminuição ou da manutenção do peso corporal. Também pedirá que respeite o tratamento medicamentoso do médico e que faça todos os controles que ele solicite. Entretanto, a naturologia possui critérios de alimentação próprios e se esmera na ajuda inicial, com técnicas de desintoxicação e desacidificação, que virão a melhorar o aspecto crônico da doença, através do funcionamento orgânico e metabólico geral do paciente. Através de cuidados trofoterapêuticos, jejum, ervas medicinais, suplementos fitoterápicos e/ou alimentares, geoterapia, diversas técnicas energéticas, PNL, meditações, ioga, massagens, acupuntura, Constelações Familiares Sistêmicas, e tantas outras opções terapêuticas que estão no âmbito do repertório natural, se pode ocupar aquele espaço de ajuda ao Diabético de forma efetiva e nem tão demorada como se supõe comumente (pelo fato de ser natural).

Estamos falando de diminuir a glicemia, pero também de melhorar a qualidade de vida, a autoestima, e diminuir os fatores genéticos que hoje se sabe que dependem diretamente da relação com o meio em que o consulente se encontra hoje, assim como a relação que estabeleceu com sua realidade desde a sua gestação. A Medicina sabe dos fatores emocionais e da relação que existente dentre a Diabetes e a herança genética familiar, mas, também sabe que não é só isso. Sabe que existem heranças epigenéticas e sabe que estas, em conjunto com as influências do meio ambiente são muito mais determinantes que as heranças genéticas até agora cultuadas pela biologia mecanicista.

Para a naturoterapía, por outra parte, a Diabetes como doença pode não ter cura, mas isso não é o importante. Muitas condições metabólicas consideradas enfermidades podem ser mantidas sob controle com os cuidados apropriados, podendo levar assim, uma vida normal e de qualidade. Desordenes metabólicos mantidos sob controle por tempo suficiente pode até deixar de ser uma ameaça. Pode. É só lembrar o que o corpo e uma mente disposta e em assentimento à vida podem fazer, si se eliminam os obstáculos que persistam para que a vida flua entre si e a sua realidade.

O maior ponto em comum, dentre estas duas visões de saúde, é o indivíduo. O que mais importa é a saúde da pessoa com Diabetes; o que mais importa é a sua recuperação, seu controle, com cura o sem cura, no suposto caso de que ela não exista. O problema é que cada lado da contenda possa se despir das suas armaduras e crenças limitantes. Tal vez até contribuir uma com a outra na sua função original; na priorização do essencial.

Por um lado, a tecnologia avança para dar soluções novas na dosagem e controle de medicamentos para os casos mais graves (bombas infusoras de insulina e os sensores de monitorização da glicose, por exemplo). Da mesma forma os laboratórios trabalham com novas formas de insulina e outros medicamentos (insulina aspártico de ação ultra rápida, a insulina inalável, a insulina DEGLUDEC, inibidores do SLGT2 para os Rins, medicamentos protetores do coração para diabéticos, injetáveis não insulínicos como os análogos GLP-1, para mencionar alguns deles) para melhorar a condição diabética e melhor tratar os picos desde desequilíbrio. Os avanços dos especialistas em nutrição e alimentos tracem luz e nos esclarecem a cada dia mais sobre aquilo que é o não apropriado para nos ajudar a controlar a concentração da glicose no sangue, segundo cada caso em particular.

Na naturologia os avanços não são tão evidentes assim. Os nossos avanços se nutrem do avanço da humanidade, e da compreensão cada vez mais profunda da relação do homem com a vida. Por tanto filosofia, ciência, tecnologia, conhecimento popular, a revisão constante das diferentes culturas, o aumento constante do cone perceptivo sobre as diferentes formas nas quais existimos se admita ou não... como seres físicos, energéticos, sociais, mentais, emocionais e espirituais, fazem parte da evolução e da maturidade da Naturologia como conhecimento e como atitude. E é dessa forma que a Naturologia pode ajudar na Diabetes, da mesma forma que pode ajudar em todo desequilíbrio de saúde.

COMO A NATUROLOGIA PODE AJUDAR?

Pode ajudar e muito!

Contudo, não será de forma irresponsável e induzindo às pessoas a permanecer na inconsciência, no quietismo ou acomodadas na sua área de conforto.

O primeiro a entender então, e que é ajudar e como podemos realmente ajudar (tanto médico como naturoterapeuta) ao Diabético.

Uma das leis de ajuda mais claras e sensatas da Hellinger Sciencia (todas o são), é a que diz que só se pode ajudar como adulto a um outro adulto. Isto é, que só estando no meu lugar histórico/espacial, adaptado e em assentimento a minha realidade, fora de qualquer contratransferência, como ajudante, poderei ajudar a uma outra pessoa adulta, isto é, que está no seu lugar histórico/espacial, adaptado e em assentimento com sua realidade, fora de qualquer tentativa de transferência, que como consulente, procura soluções a seus problemas.

A primeira questão é: Ou o consulente quer ou não quer fazer alguma coisa para melhorar.

Na postura paternalista ou de salvador, o terapeuta geralmente aceita as condições do cliente, no seu estado de criança, de fazer aquilo que esteja ao seu alcance...(?!) e tenta, sempre dentro do seu papel não de terapeuta adulto e sim de pai ou tio condescendente, começando sempre com a frase... Ok! Vamos ajudar você! E neste instante, o consulente tiro de si a única e primeira responsabilidade que deveria ter: a de si mesmo. E o fez com o consentimento e cumplicidade do Terapeuta.

O primeiro requisito para ajudar ao diabético e que este deve ser consciente da sua situação, assim como das consequências da sua não persistência.

Na diabetes é simples. Se você come errado ou mais do recomendável, ainda que se trate de comida “boa”, a glicemia sobe! Mas, não é só isso, alterações emocionais, estresse, sobretudo aquele que acomete de forma mais ou menos constante, sedentarismo, falta de água (água!), falta de descanso, excesso de trabalho e outras circunstâncias que poderemos analisar mais detidamente em outra ocasião, são motivos suficientes para ajudar a sua Diabetes a crescer e se manter forte. Assim, a forma como nos relacionamos com a vida, sempre é determinante. E, neste sentido, fica evidente qual deveria ser a primeira atitude para ser responsável, tendo em conta todas estas formas de agravamento da condição diabética... SER CONSCIENTE!

Seja consciente, se observe, veja onde estão as suas falhas e se proponha realmente uma mudança de atitude. Neste sentido comumente brinco com os meus consulentes... “mude, ou nem faça tratamentos, gastando dinheiro e se privando das comidas que lhe trazem mais prazer. Mude, ou espere a ficar pior e procure a ajuda do Médico”. E acredite, não é crueldade! É a atitude do adulto que ajuda a um outro adulto.

O fato de sermos cada vez mais conscientes, nos coloca em evidência a necessidade de mudar as atitudes erradas aprendidas, adquiridas ou herdadas, sejam estas fácies de enxergar ou aparentemente invisíveis ou inexistentes (aparentemente, porque de fato elas existem).

Provavelmente, este passo, o de sermos conscientes, é o mais difícil e o que possui um custo emocional enorme para o diabético.  Isto de por si, e uma amostra de quantos motivos estão por trás da etiologia real de uma Diabetes. Al final das contas, diminuir a glicemia com remédios e remediar e não resolver, o que nos leva a aquela necessidade de ocupar um espaço na gráfica da “cura/não cura”.

Curiosamente (na realidade estou sendo sarcástico) podemos enquadrar este primeiro quesito para trabalhar a favor da saúde do Diabético, dentro de uma das principais premissas da Naturologia, que é “EDUCAR PARA A SAUDE”[iii]

A segunda questão: O ser como um Holos Sistêmico (totalidade organizada)

Existe a certeza da necessidade da colaboração do consulente para qualquer tratamento que tenha êxito sobre a condição Diabética.  Na realidade, para todo quadro patológico, o indivíduo está no topo seja na lista de interessados como na lista de alquimistas. É ele por ele (deveria ser), e isso se reafirma no fato de que ele é o único que pode gerar alguma transformação dentro de si mesmo. Não é possível, ou minimamente é sinal de desequilíbrio, que a mente, a razão queira ser diferente e a emoção não o permita. Da mesma maneira, não é viável que o pâncreas faça o esforço de recuperação, funcional ou medicamentoso, entanto que o fígado se mantenha em disfunção, ou exista uma forte acidose ou uma disfunção ou doença renal. Nosso organismo mantem seu equilíbrio como um todo ou se esforça como um todo para recuperá-lo.

Pelo tanto, para a naturoterapía (atual) o ser é e só pode ser, uma unidade complexa e dinâmica.

Qualquer tentativa de separar em partes, sejam estas físicas, estruturais ou sistêmicas é inviável e leva a confusão. Esta ideia é a essência filosófica da decadência do paradigma mecanicista ou cartesiano.

A Terceira questão: A memória de saúde do nosso organismo é poderosa.

Sendo um organismo complexo e altamente dinâmico, o ser possui muitos recursos valiosos para manter seus múltiplos equilíbrios e muitas vezes, perante o esquecimento das nossas necessidades vitais (cada vez que esquecemos quem somos ou pretendemos ocupar o lugar de outro, por soberba ou por amor), nosso organismo entra em “modo resistência”, ajustando aqui, exigindo um pouco mais de lá... Por vezes, passamos anos em “modo resistência”, mantendo uma condição de desgaste extremo (ver Nova Medicina Germânica).

É assim que surge ou se possibilita o surgimento de qualquer doença, mas, o interessante é que na realidade, nosso organismo sabe o que fazer quando pode fazer. É só ajudar a eliminar os obstáculos, diminuir as dificuldades, desintoxicar, diminuir as causas ou a atitude perante do estresse.

A quarta questão: quais são as prioridades... quais são as questões essenciais?

Responder esta pergunta devolve a responsabilidade ao indivíduo.  

E a resposta pode ser superficial ou profunda. Dizer que o essencial é chegar no horário ou manter a limpeza da casa, bem pode ser superficial, por mais que isso seja uma necessidade imposta e compulsiva que fora impressa no subconsciente infantil.  Dizer que devemos ser fortes e carregar as dores e os deveres da família, pode também ser superficial, ainda que pareça um destino inevitável. Sacrificar nossa vida e nossos interesses mais íntimos pela saúde e felicidade dos nossos pais ou do cônjuge além de superficial e pretencioso de mais[iv]. Fundamentalmente quando deixamos de ver a essencialidade da vida e o significado da morte como marco da nossa existência.

Poder ver o essencial nos permite descobrir o caminho de retorno à saúde. Dissipa a nevoa das boas intenções que faz de nós crianças inocentes, mas que não trazem soluções aos verdadeiros problemas.

Se o consulente é consciente da sua situação, sabe que não é só seu corpo físico que está em dissonância com a vida e está disposto a verificar sua saúde e equilíbrio em todas as formas em que ele existe; se está disposto a tomar as medidas necessárias para descontaminar seu corpo e permitir que sua essência tome as rédeas da sua vida, então o resto... todo  que se faça, seja com o médico ou com o naturoterapeuta, será proveitoso e se somará as novas condições que sua vida começará a ter.   

Depois sim, a naturologia pode ajudar, sempre mantendo aquelas recomendações gerais antes mencionadas:

 

(SEGUNDA PARTE)

CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS PARA O EXITO NO CUIDADO DO DIABÉTICO


[i] Os dados diferem sendo alguns recolhidos nos meios oficiais e outros de associações e organizações médicas

[ii]  Esses dados estão no Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF)

[iii] O conceito de educar vai muito além do ato de transmitir conhecimento, educar é estimular o raciocínio, é aprimorar o senso crítico, as faculdades intelectuais, físicas e morais... (https://educador.brasilescola.uol.com.br/orientacoes/o-que-educar.htm)

[iv] Esta afirmação traz constantemente como contrapartida muitas críticas de quem faz a leitura de forma superficial. Querer saúde e felicidade para nossos pais ou cônjuge é normal. A gente assumir a responsabilidade total por essa saúde ou por essa felicidade é o errado e fundamentalmente nos tira do nosso lugar, que é o único lugar que poderíamos ocupar. Não estando no nosso lugar abrimos uma oportunidade a mais para emaranhamentos e, pelo tanto, para mais infelicidade.

 


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