p. Danielo H. Della Valle Cauci
INTRODUÇÃO
Como pessoa comum, ou como naturoterapeuta…
O que é que posso aportar com responsabilidade falando da
educação?
Sei que não sou um “expert” no assunto… nem muito menos.
Mas, vivo neste mundo, participei da condução da educação das minhas filhas e
fui educado dentro de um sistema educacional como o atual, além de ser filho de
uma excelente professora, e, posteriormente, melhor diretora de escola, lá na
minha terra natal.
Não é um tema para o qual venha a trazer caminhos de
solução. Mas, como constelador e estudioso da concepção sistêmica da vida,
assumo o atrevimento de comentar algumas opções.
Salvando minhas limitações, há um outro inconveniente: o
tamanho do tema em questão é enorme! Pois, ao falar de educação,
inevitavelmente entramos no campo da política, do estrutural, dos paradigmas,
na metodologia e da didática e da própria definição de educação para uma
determinada sociedade.
Entramos também na delimitação do poder de direcionamento
do processo educacional, do papel da família, do papel da escola, da formação e
evolução dos encarregados de botar em prática a educação de crianças, jovens e
adultos em atividades acadêmicas e de tantos outros temas de extrema complexidade,
que incluem questões atuais, como pobreza e inclusão em tanto dívida histórica,
ideologias, neoliberalismo, solidariedade, espiritualidade e senso de
humanidade.
O tema é imenso.
A educação possui uma rica história evolutiva, e passou, de
não ser um direito de todos e ser um instrumento de poder das classes
socialmente dominantes, de ser um processo de controle das massas trabalhadoras
e uma geradora de mão de obra para as grandes fábricas na era industrial, a ser
hoje uma escola ainda provedora de mão de obra e em definição, que incorpora
novas linhas de pensamento e resiste as articulações político-ideológicas que
esperam manter o poder e o controle da sociedade, se aferrando às velhas
práticas educacionais, vestidas de “novas” e reformadoras propostas.
Pode ser que para chegar a uma educação melhor, capaz de
dar ferramentas de crescimento, gerar consciência social e ambiental, com
responsabilidade e independência, tenhamos que ter passado por todos estes
períodos, períodos que hoje podemos ver e até julgar como torpes e absurdos.
Mas, respeitando as regras de jogo da visão sistêmica, muitas coisas do passado
devem ficar no passado, e respeitando-o, temos a condição de traçar caminhos
que hoje achemos mais apropriados para a educação. Com mais informação, com
tecnologia, com um urgente viés ecológico e sustentável e cada vez mais
humanizada e humanizante.
Há muito trabalho e muitos esforços a serem realizados por
aqueles que estão na vanguarda das teorias pedagógicas e das metodológicas,
mas, à luz da visão sistêmica, existem alguns ajustes básicos que deveriam ser
observados, pois parecem estar cada vez mais maduros, evidentes e necessários.
Independentemente do sociólogo, filosofo ou pedagogo que às proponha.
Se define e empodera à
educação, como responsável da formação de indivíduos que se encaixem na
sociedade seguindo normas de convivência e respondendo a uma determinada
expetativa do social, inclusive sendo um forte elemento de coesão e de
identificação. Se diz que a educação é a responsável pela formação dos futuros
cidadãos, e, por tanto, de sociedades mais fortes e evoluídas.
Está claro que muitos dos
grandes problemas da educação se podem listar dentro das responsabilidades
governamentais, pela ausência de respostas e de definições políticas, e porquê em
geral, se acredita que a educação é algo mais ou menos negligenciável, dentro
das convicções ideológicas dos representantes eleitos.
Olhando para tudo isto, é lógica a
afirmação de que nenhum país tem soluções para a sala de aula através das
políticas públicas ou privadas!
Desde os governos não se olha para as
crianças. Tudo fica nos discursos.
DE UM LADO A EDUCAÇÃO. DE OUTRO A
FAMÍLIA
Se diz que a educação joga um
papel fundamental na sociedade por trazer à vida dos indivíduos, virtudes e
capacidades, junto com informações e ensinamentos para o avanço e crescimento
de todas e cada uma das pessoas de uma cidade, de um país ou de um continente.
Só que esta visão de futuro a partir da força e da capacidade educativa das
instituições com a responsabilidade de educar, dá a educação um protagonismo
heroico que possui pelas circunstâncias, mas que não deveria carregar sozinha.
É um peso que, um pouco mais adiante, provocará os desequilíbrios e as
transgressões que mais tarde se verificarão como os problemas históricos das
escolas e do ensino.
A educação é imprescindível
para a sociedade, mas, não deveríamos botá-la em “camisa de onze varas”,
esperando que assuma a resolução de muitos dos problemas da sociedade, que
sozinha não pode resolver.
Mesmo porque em termos
educativos, como veremos, a escola não está sozinha e nem tem o controle de
muitos dos aspectos básicos do processo formativo dos indivíduos.
Pensar que a educação depende
majoritariamente das instituições e dos professores conduz a um equívoco. Esta
forma de observar à educação nos faz entender que a educação tem por si só,
teoricamente, esse poder de construção e de consolidação, entanto que, os
problemas reais para uma educação libertadora de antigas amarras, ficam sem
resolver.
Porém ..., há um detalhe: quem
educa e cria valores, inicialmente, é a família, e a família não é tida em
conta da forma em que deveria ser, se consideramos a família como um sistema
que é, no seu direito, na sua dignidade, no seu lugar de pertencimento, como
não poderia ser de outra maneira.
Pertencer a uma família desde que nascemos, estabelece e
consolida os vínculos mais fortes de amor e de lealdade que poderemos ter na
vida, através de uma herança genética e/ou por laços profundamente sistêmicos.
Laços identificatórios, que asseguram pertencimento, ordem e contexto dentro do
sistema familiar, e que são permanentes e intransferíveis. E não podemos
esquecer que a família é a célula base da sociedade
É dá família que recebemos nos primeiros anos de vida, uma
identidade em base a heranças, características, valores e cultura.
Mas, não se trata de nos confundir com alguns dos conceitos
que aqui mencionamos e que estão em pauta na mídia e da política atual.
Quando ouvimos falar de valores e da família, algumas
pessoas, dentre as quais me incluo, podemos sentirmos bem incomodados pela
simplificação rasa com que se trata a estes conceitos. Os conceitos de valores
e o de família são dinâmicos, da mesma forma que o é, o conceito de valores
familiares, e quando falamos destes valores familiares, especificamente, nos
referimos aos princípios morais e éticos transmitidos dentro de uma família.
Não significa que estejamos nos referindo a valores morais e éticos estagnados
no tempo, retrógrados ou mumificantes.
Evidentemente não todas as famílias são iguais, porém, os
valores que são mencionados aqui, transmitidos pela família no seu papel
evolutivo e autorregulador de si mesma, e em relação sistêmica com a sociedade,
são principalmente valores altruístas e humanos, como, honestidade,
responsabilidade, humildade, cortesia, solidariedade, etc. E não valores que
defendem privilégios ou a manutenção das desigualdades que levam ao sofrimento
e depreciação do ser humano.
Sem estas heranças e valores, as crianças possuirão poucas
ferramentas para enfrentar a vida em sociedade. Sem estes valores é difícil (ou
impossível) alcançar um estado de ego adulto e ainda mais difícil permanecer
equilibrados no nosso lugar de pertencimento.
A educação que recebemos desde crianças, desde que
nascemos, é, ou teria que ser, uma preparação para a vida.
Como dizemos, é a primeira e básica educação que confirma
nossa identidade e nos dá um lugar no mundo e que define a nossa personalidade,
a forma de ver a vida (ou a expectativa da morte), a forma e os principais
critérios com os que resolveremos os problemas, até onde vão os conceitos de
certo e errado, do bem e do mal, do bonito e do feio, os parâmetros da nossa consciência,
etc. ...
De que forma e quanto nos influencia tudo isto para depois
vir a interagir e aprender na escola?
Depois desse primeiro mergulho nas nossas raízes mais
fortes e profundas, e, só depois, vêm a escola.
No entanto, esse papel familiar como marco protetor e
educativo inicial, nem sempre acontece... e existem vários motivos para isso.
A escola por sua vez, também tem seus desafios e
dificuldades para executar seus planos educativos.
Pode ser que, entanto que em casa exista uma distância
emocional e uma escassa comunicação, que gere laços enfraquecidos e muitas
vezes falhe na germinação de valores, podendo chegar inclusive a corrompe-los,
na escola, pode ser que se estabeleçam comportamentos e atitudes que estimulam
a solidariedade e os relacionamentos equilibrados. Ou, porque não... o
contrário!
De todas as formas, esta realidade influencia
determinantemente, na maneira em que os nossos filhos receberão a educação que
lhes é imprescindível.
Um forte abraço a todos
Muita luz
Até breve
A EDUCAÇÃO E A PEDAGOGIA SISTÊMICA 4: Constelando os problemas da escola (pela Pedagoga
Angelita Olvera) |
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