Uma opinião sobre as CONSTELAÇÕES SOCIAIS...

 p. Daniel H Della Valle Cauci

A vida, como diz o ditado popular, é uma montanha russa. Cheia de altos e baixos, curvas perigosas, trajetos velozes e momentos de aparente calmaria.

Nada é estático, e, os conceitos com os quais definimos a vida e a forma em que interagimos com ela, devem ser correta e ponderadamente ajustados às características e ao momento em que a vida acontece.

Tudo é mudança. Tudo é em ondas.

Então, utilizar formulas preconcebidas, fixas, para interpretar toda realidade, seja em base a premissas de qualquer importância ou fazendo generalizações, é uma prática que não têm como dar certo.

Nas Constelações familiares então... impossível.

Praticar as constelações a partir de padrões e esquemas preconcebidos é algo que literalmente não existe; seria algo irracional que, em vez de nos conduzir ao equilíbrio e às soluções, nós conduzirá, por exemplo, à perca de contato com a realidade, ao fundamentalismo e à polarização, seja político-ideológica ou cultural, onde cada parte, cada lado, observa para sua história sem respeito pelo outro, primando a lealdade às condições e exigências que seu sistema lhe antepõe, gerando a cada passo, a cada proposta e a cada reinvindicação, condições para a manutenção dos conflitos. Nos conduziria à cegueira.

 

A gente, como constelador, se prepara através de um centramento e assumindo uma atitude fenomenológica na hora de abrir o campo de constelação.

Uma vez que o campo é aberto, tudo se direciona rumo à procura das soluções que o caso permita.

Porém, para as pessoas que não adotaram uma inteligência sistêmica, não é fácil perceber a solução quando se olha procurando uma solução.

 

Sim... Isso acontece pois não se têm claras ás caraterísticas históricas que precedem a ambas as partes do conflito, nem se observam os fatos com objetividade e libre de julgamentos.

Existe sempre uma “intencionalidade” que conduz o raciocínio para o que se acredita é o real, simplesmente porque se ajusta a aquilo que o indivíduo necessita, ...ainda que esteja fora da realidade.

O processo para chegar a soluções sistêmicas

Para salvar estes obstáculos, temos que compreender que existe todo um processo para viabilizar uma solução sistêmica.

Para dar um exemplo, neste meio, mencionamos repetidamente a “ressignificação” como parte desse processo, pois através dela, realizamos ajustes conceituais e modificamos nosso ponto de vista, assim como também a forma em que nos comportamos frente aos conflitos.

Percepção, tomada de consciência, assentimento, ressignificação e transformação, são degraus que devemos galgar para aceder a uma boa solução sistêmica.

Sempre mencionamos que, se não é uma solução para todas as partes, não é uma solução sistêmica.

Porém, temos que agregar que ser uma solução para todas as partes, não significa que todos ganham na mesma proporção e sim que todos se submetem aos ajustes propostos pelas leis sistêmicas, para permitir que a vida continue e o sistema seja ou volte a ser viável.

De não ter a oportunidade de ressignificação, por exemplo, viajaremos de coche se cocheiro.


O campo de informações e seus “limites”.

Como consteladores, observamos estas dinâmicas inter-relacionais até que o campo da constelação mostre o conflito nas suas origens.

Mas, não só deve haver um centramento apropriado e uma atitude fenomenológica para sermos capazes de receber um fluxo de informação tão preciosa.

A tarefa de participar da constelação como facilitador é muito exigente nesse sentido.

Existem os chamados “pontos cegos” do constelador e existem limites no campo da constelação que o constelador simplesmente não deve ultrapassar.

Tanto os pontos cegos como os limites que o campo nos impõe, geram distorções na percepção da informação, com a possibilidade de gerar equívocos, que em geral nos confirmam como seres humanos em construção, e por tanto incompletos em qualquer instância em que se nos avalie.

Apreendemos a técnica, treinamos, podemos até dominar a prática e a teoria. Mas, fora de sermos falíveis, às vezes, nós permitimos ter um excesso de “confiança”, que nos leva a abusar dos limites que as constelações possuem (falíveis ao fim).

É logico e evidente que devemos confiar nos nossos conhecimentos e numa ferramenta que tem demonstrado inúmeros benefícios para centos de milhares de pessoas no mundo afora.

Não se trata de uma crítica e sim de uma reflexão que inclusive todo constelador faz, na sala de aula, em algum momento da sua formação.

Todos temos pontos cegos que devemos trabalhar em nós constantemente, e devemos respeitar os limites que as próprias leis sistêmicas demarcam no campo de constelação, limites que não estão assinalados no chão com tinta fosforescente.

São limites muito sutis.

Devo reconhecer que a crítica é um tema difícil para os facilitadores em Constelações Familiares Sistêmicas, pois a crítica não faz parte da nossa filosofia, apesar de que aqui, pareço estar elaborando-as. 

Pela atitude fenomenológica que caracteriza e faz possível o trabalho dentro dos sistemas familiares, e porque na filosofia de Bert Hellinger não há bom nem ruim, nem certo nem errado, crítica e julgamento não tem vez para o facilitador.

De igual forma, a mente aberta e a atitude fenomenológica, que exclui a crítica e o julgamento, passa a ser não só uma atitude de trabalho, e sim parte de uma filosofia de vida que se ergue sobre as bases da inteligência emocional e da inteligência sistêmica.

Criticar ou julgar o que outro constelador faz… então… está fora de cogitação. E não se trata de uma simples defesa do trabalho de um colega.

Se trata de que o ponto de vista do colega que está facilitando uma constelação, que foi convidado a entrar no campo do consulente é o mais apropriado, o único em realidade em esse exato momento, para perceber e interpretar os sinais e informações que o campo tem para dar.

Mas ser um constelador não exige obediência nem a necessidade de comportamentos dogmáticos.

Exige sim um compromisso com a teoria e prática desta filosofia e com a verdade percebida, que surge das informações provenientes do que honestamente compreendemos como realidade.


Hellinger é Hellinger

Observamos atónitos até um pouco antes de 2019..., que aparentemente fácil resultava para Hellinger ter todas aquelas percepções; a maestria com a que conseguiu integrar toda uma grande quantidade de conhecimentos e técnicas, para aperfeiçoar e colocar em um outro patamar às constelações familiares da sua época, dando a oportunidade de um crescimento mais harmônico e saudável a muitos milhares de pessoas e seus sistemas.

 

De toda essa filosofia sistêmica, que se constituiu como ciência dos relacionamentos humanos, surgem novas formas de compreender os laços familiares e a forma em que a sociedade interage.

Surgem algumas verdades que se “escutam” no coração, que se apresentam como verdadeiras quando vibram no peito, ou talvez na alma, e já não tanto na mente racional.

Essa vibração que se sente no coração, e que nos confirma algumas destas novas verdades resulta ser tão forte, que as vezes nem necessitamos de comprovações científicas ou de explicações claras e plausíveis, tão importantes para algumas pessoas.

As razões da mente são importantes. Mas, as razões da mente não explicam toda a realidade... explicam só uma parte. Há centos de exemplos em fatos que não possuem ainda explicação científica, mas mesmo assim, existem.

Se lhe atribui a Werner Heisenberg, prémio Nobel de física no ano 1932 e que foi um dos criadores da Mecânica Quântica, uma frase que pode esclarecer uma da maiores limitações da ciência nesse sentido: 

“O que observamos não é a própria natureza, mas a natureza exposta ao nosso método de questionamento.”

Pelo que sabemos, ao pisar fora dos limites impostos pelo campo de constelação, nós adentrando em áreas de informação que estão vedadas ao constelador, e também vedadas para o consulente.

Hoje as constelações são bem menos transgressoras desses limites, mas, mesmo assim, avançamos o sinal, levados pelo desejo de saber, de ajudar ou até pela simples tentativa de achar soluções.

Isto, ainda sabendo que,  para prosseguir, deveríamos consultar ao campo.

Na teoria estamos preparados para perceber a etiologia de muitos conflitos ou emaranhamentos a partir da transgressão às leis sistêmicas. Por exemplo, conflitos dentre pais e filhos, esposos, conflitos familiares em geral, inclusive os transgeracionais, assim como conflitos legais e empresariais.

Também temos a possibilidade de compreender situações sociais muito mais abrangentes.

Podemos mencionar a maneira de exemplo, as constelações que Hellinger fez com representantes judeus e alemães na solução de conflitos que surgiram durante a guerra.

 

Mas tenhamos presente que Hellinger é Hellinger e ele era cirúrgico nas suas colocações e no respeito aos limites.


As constelações Sociais

Existe a possibilidade de trazer ao campo de constelação, muitas, se não todas as formas de inter-relacionamentos humanos, que apresentem desequilíbrios ou emaranhamentos.

Uma delas são as constelações sociais, aquelas constelações nas quais se constelam etnias, culturas, povos ou países inteiros.

Podemos colocar no campo esse tipo de conflito?

Podemos. O campo nos mostrará informações.

Mas na minha opinião (devo reconhecer que ninguém a pediu mas faz parte da reflexão), este tipo de constelação é desnecessária.

Seus resultados não parecem agir como soluções sistêmicas para os povos que fazem parte do conflito, a não ser como soluções teóricas que dificilmente conduzem à transformação e menos ainda à efetiva inclusão.

A compreensão sistêmica dos grandes conflitos sociais, como guerras, choques culturais, as colonizações, qualquer tipo de conflito político-ideológico, etc..., servirá e muito, na percepção das dinâmicas nos processos individuais, trazendo a luz uma grande fonte de sofrimento e a origem de sistemas de crenças, de fidelidades que se repetem geração a geração, continuando e alimentando antigos emaranhamentos.

Isto é, a percepção das consequências das dinâmicas ancestrais agindo no consulente.

Porém, sem a referência do consulente, constelar um conflito social, aponta em uma direção que não está contida em um único processo de solução.

A tomada de consciência não acontece, no povo ou nação constelada, da forma que aconteceria no consulente individual que constela seu tema.

A constelação necessita do consulente e do seu tema, e que sabemos “de cor”, deve ser bem escolhido.

Deles é que surge o ponto de referência para gerar um campo de constelação, e, desse campo surgem aos poucos as dinâmicas, os movimentos, as informações horizontais e verticais, que nos levam às origens dos emaranhamentos sistêmicos ou transgressões das leis sistêmicas.

Mas, ...O que procuramos quando trazemos ao campo um conflito ou um tema social, como guerras, como a pandemia, como a condição indígena, sem a referência do consulente?

Botar este tipo de conflitos no campo só nos traz informações que são intuíveis de fazermos um bom centramento.

A constelação perde sentido e força, pois se realiza para saber, para obter uma "visão global" MUITO PARCIAL dentro de um processo de revitalização sistêmica.

Não há consulente. Colocamos as partes de um conflito social para ver que surge... Isso não é de alguma forma curiosidade?

E não é por acaso que esta, a curiosidade, é e será sempre um dos gigantescos limites que deveríamos respeitar ao estabelecer um campo de constelação.

Pode se tratar até de um limite difuso, mas, mesmo assim, ultrapassar esse limite sem permissão é por conta e risco do constelador, por motivos similares a aqueles pelos quais não podemos constelar aos nossos maiores, ou a um amigo ou amiga que não está presente ou que não deu seu consentimento. E é possível que ainda possamos achar outras razões.


Um pouco mais sobre o assunto.

Até onde sei, o campo de constelação se estabelece a partir das informações dos campos mórficos de quem constela.

Também faz parte momentaneamente desse campo, o próprio constelador.

De ambos se necessita uma atitude calma e fundamentalmente centrada e adulta, mas o constelador deve adotar uma atitude totalmente fenomenológica, de forma de perceber as informações do campo em forma pura, sem nenhuma interferência pessoal.

Dentro do campo mórfico do indivíduo que constela, acharemos a incidência do seu campo morfogenético familiar e social, e todas e cada uma das experiencias vivenciadas desde a concepção, assim como a carga de informações e tarefas herdadas da linhagem paterna e da linhagem materna.

Todos “presentes” recebidos da nossa ancestralidade.

Mas, veja bem... Quando se constela a todo um povo o nação, que existe junto a sua história e sua ancestralidade, temos que praticar um imenso grau de generalização.

Isso é relativamente possível, ainda, que parte da intuição sofra para captar os momentos mais importantes dessa história, na observação das dinâmicas que levaram à transgressão das leis sistêmicas como massa, como grupo.

Mas, acreditamos que não é possível justificar os meios pelos fins.

Essa generalização desumaniza e nos coloca na posição de observador distante de mais; tirará ás pessoas dos seus lugares de pertencimento, os julgará genericamente de forma soberba e os sentenciará a pertencer a uma nação de características, circunstancias e destinos uniformes. Irreais.

Ainda que na realidade, os indivíduos de uma nação sejam muito parecidos, aquela generalização acabará sendo excludente. Sim ou sim.


O filho desnaturalizado 

Eu acho que serei apontado como uma espécie de dissidente. Sei que parecerei culpado por não praticar o assentimento, que é o princípio de uma atitude profunda de solução e acorde à energia da vida que nos carrega.

Mas entendo assentimento como uma atitude que chega para concluir uma etapa ou faceta da vida, nos completando, depois de que tomamos consciência do nosso lugar, do nosso contexto e das nossas circunstâncias.

Dizer “amém” através de uma “atitude” de assentimento (e não de uma postura de assentimento), é possível e necessário dentro de um processo de solução. Isto, porque o assentimento é um ponto de inflexão, é o ponto de partida para reescrever a história, mas, ganha seu verdadeiro sentido quando é acompanhado por outros processos não menos

importantes, como são a ressignificação de tudo o que precede ao conflito em questão e a necessária auto transformação das partes.

Se não, ...é possível que o assentimento sem ressignificação e sem transformação possa vir a encobrir um ou vários pontos cegos do constelador ou da constelação, o que botaria em risco a validade das informações e das soluções aparentemente sistêmicas.

Possivelmente será um novo emaranhamento que gera más emaranhamentos.

Quando olhamos para campos tão grandes, como aqueles que englobam povos inteiros, grandes grupos de pessoas, culturas e pensamentos tão dissidentes, estamos olhando para grandes períodos da história, para emaranhamentos coletivos que se originam em instancias individuais.

Não é o povo que se senta em assembleia para tomar todas as decisões ao longo da sua história. Se trata, por exemplo, de decisões advindas de líderes ou de grupos de poder... Ou seja, seria como julgar a todos os homens pelo paternalismo, sem ter em conta a participação dos governantes, das classes mais poderosas e da igreja, sem ter em conta o devenir histórico, que são os lugares desde donde homens e mulheres foram chamados a um determinado papel, que assentimos como necessário na história da humanidade, ainda que tenha sido um período que hoje julgamos como nefasto.

Toda a observação e o fluxo de informações que se recolherá do campo de constelação, dependerá da atitude fenomenológica do constelador, do seu equilíbrio e da sua conexão espiritual, assim como da forma em que lida com seus pontos cegos, resolvidos ou não.

Mas, em uma constelação social são muitas variantes que, em geral, costumamos simplificar como uma informação coletiva, que dentro do campo atuará com vida própria.


As atuais guerras como sistemas

As atuais guerras, Ucrânia - Rússia e Israel - Palestina, são dois processos históricos que funcionam como sistemas individuais.

Cada país é um sistema.

A guerra dentre eles é, cada uma, um outro sistema, que por sua vez, faz parte de sistemas maiores, como por exemplo o sistema “Eurásia” no caso de Ucrânia-Rússia, e “Oriente Médio”, no caso da guerra Israel-Palestina.

Mas, ao mesmo tempo, cada país faz parte de outros sistemas que possuem como elementos aglutinadores, ideias políticas e sociais, interesses económicos, estratégias de poder geopolítico e outros.

Finalmente podemos dizer que o sistema maior que abarca todos os sistemas mencionados, é o sistema da humanidade.

Se colocamos no campo Israel por um lado e por outro o campo Palestina, e olhamos o contexto histórico teremos uma forma simples e bastante certeira de ver este conflito.

Mas, sem dúvidas teremos só uma informação parcial, a não ser que, coloquemos dentro do campo a todas as partes, ou seja, a todos os sistemas de pertencimento ATUAIS destes países, observando os objetivos finais de cada um deles, e o equilíbrio ou desequilíbrio que imprimem ao conflito dentro do sistema Israel-Palestina.

Convenhamos, que evidente, o problema Israel-Palestina faz muito tempo deixou de ser de Israel e Palestina se é que em algum momento o foi.

Uma constelação social destas guerras, e talvez mais claramente do conflito Israel-Palestina é desnecessária. Isto, porque mais se pareceria a dar uma olhada indiscreta na complexidade desses sistemas, coisa que corresponde aos historiadores.

Seria uma forma de curiosidade, que não possui a capacidade de ver a profundidade dos fatos por trás do conflito e só consegue uma visão rasa, que não pode ter respaldo nenhum dentro da filosofia sistêmica, pois se trataria de um exercício de percepção e assentimento sem ressignificação nem transformação.

Muito mais ainda, se a constelação se faz desde uma outra cultura.

Para que um sistema seja positivamente funcional, suas partes devem ter objetivos comuns, devem agir ajustadamente de forma de gerar características emergentes sensatas e coerentes, deve sobreviver, evoluir e em ocasiões se adaptar e até proceder a sua manutenção, processos que são internos, inerentes do sistema.

Se as partes não se submetem às necessidades do sistema, este se torna inviável.


A humanidade em colapso.

Se os elementos dentro de um sistema estão em conflito, na medida em que não existam soluções que dirimam ou mitiguem de forma efetiva tal situação, o sistema então pode chegar ao colapso pela sua inviabilidade.

Observando isto desde a perspectiva sistêmica, a humanidade está colapsando... e esta afirmação não é absurda nem alarmista. É uma verdade.

Colapsa ao mesmo tempo que há risos, festas, consumo, gente boa ou mais ou menos e até muitas pessoas trabalhando pela sustentabilidade... Colapsa ao mesmo tempo em que uma parte da humanidade mantem sua atenção em outras coisas... em outras urgências...

E não é um julgamento. É um fato, ...do tipo dos fatos sobre os quais trabalham as constelações familiares sistêmicas.

Assim, no extremo de uma sociedade colapsando, o assentimento coletivo ou crítico para gerar as soluções sistêmicas resulta ser muito difícil de alcançar, pois dentro do sistema, existem elementos clara e fortemente conflituantes, onde, fora da defesa do que cada um considera seus direitos, uma ou ambas as partes optam pela exclusão (mortes e extermínio) como forma de resolver suas necessidades.

Não há constelação que resista... não há, nestes enfrentamentos, lugar para o sistemicamente óbvio.

A constelação social deixa de apontar para uma verdadeira solução (para todos), para nos oferecer um novo ponto de vista; uma outra opção de solução, que deveria cumprir sim ou sim, como o exige toda solução sistêmica, do momento da percepção, da tomada de consciência, do assentimento, da ressignificação e da transformação, seja nas áreas das ideias, dos sentimentos, do comportamento, dos conceitos ou dos valores.

Tudo isto dependerá do autoconhecimento e do grau de liberdade que se alcança não só na consciência pessoal de cada homem e mulher, se não também da consciência coletiva, autopoieticamente estabelecida e positivamente interagente com os sistemas maiores aos que pertence.

Perante estes grandes conflitos sociais, só um gigantesco crescimento do assentimento crítico (capaz de virar as condições que impedem o caminho das soluções sistêmicas), teria condições como para destravar o impasse e sarar os inter-relacionamentos entre Israelitas e Palestinos.

Entretanto, a percepção e a tomada de consciência acontece na consciência pessoal.

Até aqui, nas constelações sociais sem referência a um consulente, trata-se de olhar para opções meramente utópicas. E a utopia, sem dúvidas é geradora de movimento, más não necessariamente de um movimento que conduza ás soluções para tamanhos conflitos.

É semente, mas exige de mais de quem já de pôr se sofre. Não respeita o momento dilacerante que as pessoas dentro da guerra vivenciam, Não se permite perceber se esses indivíduos estão prontos para ser conscientes e menos ainda se estão preparados para as mudanças...

Ainda que grandes líderes tenham um momento de lucidez e de renúncia a tudo aquilo que lhe condiciona política, ideológica, econômica, cultural e religiosamente, inclinando-se a favor de uma solução que irá contra os grupos aos que representa e dos quais faz parte, e tomem medidas que iniciem um processo de solução, coisa que já é pouco provável, o que se observa é que sempre existirão aqueles que permanecerão fieis às suas convicções conscienciais, muitas vezes baseadas em princípios e em vínculos pelos quais estão dispostos a dar a vida.

 

Quando há justiça, as mentes estão quietas, há paz e há espaço para a bondade. A bondade nos faz sinceros, diminui as distancias e as diferenças, nos faz mais sábios, descartando o mal uso da inteligência e a favor de interesses superiores e humanos. Sendo bondosos, sinceros e conduzidos pela sabedoria, nosso agir na vida será pautada pela correção e pela ponderação constante, nos mantendo no caminho justo, que alimenta à paz e à harmonia.

Esta é a roda que determina as ondas da vida e as origens da nossa fortaleza. E também das nossas fragilidades.

O assentimento é fundamental, mas necessita de algo mais...

O assentimento é essencial... quando é verdadeiro! Quando é completo!

Porém... Quanto de apego ao aceito como bom ou como mau existirá no nosso assentimento?

E ... Quanto do que ignoramos sobre os pormenores históricos individuais deixaremos de lado nas nossas percepções, para completar a fórmula de solução através somente do assentimento, sendo que este movimento de assentimento só teria sentido e se concretizaria efetivamente lá na frente, na transformação?

Só depois de que as duas partes (ou mais) de um conflito assintam tudo o que foi e tudo o que é, há condições para a solução, porém, ainda não há solução. Esta só se concretiza, depois de tomar consciência, se continua na ressignificação e se finaliza na transformação.

Então sim, estaremos no caminho de soluções reais; soluções que até podem tardar, no entanto terão começado como um movimento verdadeiro.

De outra forma o assentimento não deixa de ser um gesto vazio; uma careta no rosto de quem disfarça para não ser percebido na sua essência. A solução tem a ver com o fato de que cada quem assuma seu papel, suas responsabilidades e suas consequências. Se não… no haverá soluções.


O silêncio não é dos inocentes.

Como consteladores, ficar em silencio, seria uma opção muito mais fenomenológica, em todos os sentidos. Uma opção melhor que tentar algum tipo de demonstração de inocência, ou de certo poder, através de uma constelação social curiosa e desequilibrada. Isto último sem dúvidas trará consequências.

Pessoalmente, como constelador não me expresso irresponsavelmente perante destas guerras. O que parece obvio, na medida em que não existe um constelando referente, e, que quem as faz, se utiliza da representação dos soldados ou das pessoas simples que sofrem as consequências destas guerras, sem colocar no campo, como se faz em toda e boa constelação, todos os representantes principais do conflito (veja quantos representantes são montados no campo, por exemplo, em uma constelação empresarial), ...é que continuaremos nadando em um mar de inocências e de vítimas sem a presencia dos reais agressores.

Que solução poderemos obter da observação de uma realidade parcial?

Se reincluirão ao sistema os mortos e feridos, os devastados, sem olhar para quem acendeu o estopim e mantem as condições, prolongando estes conflitos cíclicos. Inclusive, negando a estes a possibilidade de arrependimento e transformação, de assumir suas responsabilidades, que também é uma forma de exclusão.

Para que existam soluções, como já dizemos antes, é necessário que cada quem compreenda seu papel nos conflitos e assuma suas responsabilidades e consequências, e essas são ações individuais.

Como consteladores não é o nosso papel explicar os fatos que levaram a tal ou qual situação.

É olhar para os fatos e procurar soluções.

Não é analisar a psicologia, nem botar nome às razões e sem razões por detrás dos emaranhamentos, e sim achar um ponto de reequilíbrio sistêmico para destravar os possíveis impasses que debilitam um sistema, ou o impossibilitam. 

E para isto... devemos observar de preferência, imparcial e objetivamente, todos os fatos e não só parte deles.

Acredito que ficar em silêncio seria mais digno que procurar resposta em constelações sociais, que alimentam de algumas formas nosso ego, mas que também, alimentam as críticas e o descreimento de quem ainda não está preparado para uma compreensão mais generosa e inteligente das inter-relações humanas.

Mas, ao mesmo tempo, ficar em silêncio perante de guerras que representam visões de mundo tão diferentes, que representam futuros tão divergentes, que confirmam uma desumanização progressiva... parece ser um ato de renúncia ao nosso próprio pertencimento, por meio de uma postura teórica não admissível pela própria filosofia que sustentamos.

O silencio... seria uma amostra da nossa evolução espiritual, ainda perante do colapso, ou a negação da nossa participação como seres humanos ainda em construção, na concatenação universal?

Não será, a atitude assepticamente imparcial do constelador, quando PERMANENTE, uma forma de soberba?


É possível ou é o menos pior?

Será que o silêncio é uma opção que ajuda a uma solução verdadeira, ou é um movimento simplesmente neutro, sem ressignificação e sem transformação... um movimento “contemplativo”?

Não poderia ser considerado uma espécie de permissivismo, ou até de cumplicidade?

Não estaríamos nos colocando à beira de um dogma?

Como constelador e antes, como ser humano... não julgo... só reflexiono.

O constelador na hora de trabalhar dentro de um campo individual é imparcial e fenomenológico, mas, apesar de se valer na sua vida da inteligência sistêmica, não está, nem pode estar absolutamente livre de escolhas nem de decisões. Só as mantem mínimas e controladas.

Só me pergunto... na medida em que sinto que uma constelação social ultrapassa sem maturidade seu papel, ao tentar analisar dinâmicas tão complexas...

Onde está meu pertencimento? Onde minha humildade? Onde a pureza do meu coração?

Tudo o que sucede está em mãos de uma força superior. Mas essa força superior, quero supor, não brinca de malabarismo com os nossos “destinos”.

Existe, nessa força superior, um propósito, uma direção, um equilíbrio que apenas podemos tentar compreender.

Essa força superior concatena o “céu” a terra e todas as manifestações inclusive a humanidade, tendo em conta em todo momento a nossa ação consciente e desperta ou a nossa atitude ignorante e enrijecida. A partir disto, poderíamos dizer, são muitos os seus movimentos.

Cada indivíduo necessita ocupar seu lugar nessa concatenação, e, ocupar nosso lugar não é uma tarefa silenciosa.

O caminho da solução sistêmica destes conflitos necessita de um abordagem serio ou pelo menos que não atrapalhe.

Já temos acusações “que chegam” no caminho como consteladores sistêmicos familiares...

Não é necessário apontar culpados nem inocentes. Não é necessário estampar uma marca nos agressores, nos vitimários nem nas vítimas de ambos os lados do conflito (bem... sempre são mais de dois lados...). Mas, minimamente, não podemos esquecer que todo processo de solução sistêmica passa pela inclusão e não pelo extermínio.

As informações que se perdem na generalização da constelação social são imprescindíveis, e, em algum lugar da consciência quântica pode ser que essa perda se considere como omissão.

 

É esta uma opinião, passível de revisão...

Sei que poderá cair mal e até ser indigesta para alguns consteladores. Mas posso assegurar a todos vocês que é honesta.

 

Até

Um forte abraço a todos

Muita luz!


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