O AMOR À BEIRA DO ABISMO... O AMOR CEGO...

 p. Daniel H Della Valle Cauci


Uma das origens da dor

 

Não é só ódio ou conflito o que nos provoca sofrimento.

Muitas vezes sofremos por amor.

É muito interessante perceber na nossa prática diária dentro da naturoterapía e das constelações, quantas coisas fazemos por amor, e quantas vezes esse amor é ingrato, pois nos leva a cometer erros ou a ser incompreendidos, gerando angústia, dor e até doenças.

 


Como meu trabalho parte das avaliações da saúde, e, naturopaticamente, as avaliações deve trazer a luz os problemas de saúde e fundamentalmente suas causas, a conclusão é quase sempre a mesma…

O amor, ou o que acreditamos seja um movimento amoroso, é o que nos leva a escolhas e decisões erradas, a sacrifícios e compensações; à identificação e à intrincação, nos tirando do nosso lugar para assumir a solução de problemas que não estão ao nosso alcance ou que diretamente não nos correspondem.

Ou seja… há um amor que está certo e um outro amor que só parece estar certo.

Podemos dizer sem temor de equivocarmos, que o amor maior, bem compreendido é o material principal da vida, em tanto que o amor mal compreendido é uma fonte inesgotável de conflitos e emaranhamentos.

A banalização do amor cria uma confusão de sentimentos tal, que atração, dependência, possessividade, idealização e paixão, passam a se confundir com o sentimento nobre.

A pessoa que ama ou acredita amar, sem investigar profundamente o que isso realmente significa, se ilude e acha que o amor tudo o permite, acha que amor tudo o justifica…sente que o amor é um passe livre para a realização dos seus próprios sonhos e desejos…

Assim, a Mãe se ilude pelo amor que sente pelos seus filhos; os filhos se iludem e pensam que devem salvar seus pais dos seus destinos, ou se sacrificar para evitar-lhes dor ou sofrimento, da mesma forma em que se ilude o amante ou a amante, que acredita que o amor justifica as consequências sistêmicas dos seus atos.

Falar de amor à beira do abismo, parece ser a descrição de um amor em crise.

O extremo da desolação, ou… a noite escura da alma…

Parece ser o fim da linha, ou, pelo menos, a sua iminência.

BEM.

Esta expressão foi a usada pelo Sr Bert Hellinger ao descrever a circunstância que vivencía um indivíduo que acredita que por “amor” a sua família ou a alguém da sua família, deva se sacrificar, para aliviar ou modificar um destino doloroso, sem perceber que o amor que lhe comanda, não é um amor maior e sim um sentimento que segue padrões equivocados de lealdade, e obedece a necessidade de permanecer inocente dentro de regras arcaicas e sistemas de crenças limitantes e dominantes no seu sistema.

O problema é que não sabemos certamente que é o amor. 

Ainda que tenhamos opiniões próprias e a certeza de que existem vários tipos de amor, este sentimento não admite adjetivos.

Não pode ser medido, a não ser para diminui-lo, para fracioná-lo.

Se falarmos por exemplo: Amor de mãe, amor de pai, amor de amigo, amor apaixonado… ou de outras muitas formas de amor, recortamos uma parte da ideia maior que é o amor, fazendo menção a uma fragilidade que na realidade o amor maior não tem, assinalando limites, admitindo a existência de características que o desmerecem, sendo que o amor é ou não é.

De uma maneira corriqueira, falamos de amor sem perceber sua verdadeira e única dimensão e dessa forma perdemos pelo caminho seu verdadeiro significado.

Bert Hellinger falava do amor à beira do abismo, para fazer referência ao tipo de amor que levava a um membro da família a ficar psicótico após algum trauma, gerando uma circunstância bem específica na dinâmica familiar.

E Isso acontece de alguma maneira, porque estamos a serviço da família vivenciando suas heranças.

No fundo no fundo, sempre é por fidelidade e por amor.

Simplesmente, o amor é o amor, e possui uma dimensão espiritual.

É um meta sentimento e nos guia para distinguirmos aquilo que é realmente importante, essencial para nossa vida.

Bert Hellinger nos diz no seu livro A Simetria Oculta do Amor, o seguinte:

“O meta-amor é propriedade fundamental do quinhão da vida

e podemos senti-lo em todas as áreas de nossa existência,

sobretudo nos relacionamentos.

O meta-amor,

além do amor primário,

dá aos relacionamentos força e segurança,

sendo a fonte da verdadeira responsabilidade, confiança e fé.”

Por outro lado, sabemos o que é um abismo.Se trata de um despenhadeiro, um acidente geográfico íngreme, uma queda vertical tão profunda que não podemos ver onde acaba, geralmente, sendo esta profundidade, inexplorada e por tanto desconhecida.

Um amor que está à beira do abismo está prestes a cair nele… a cair no desconhecido; um desconhecido que gera insegurança, medo e ansiedade…

Um desconhecido que permanece desconhecido porque não o queremos ver.

Um amor à beira do abismo, é um amor que está indo em direção a algo parecido com a morte, mas, a uma morte que percebemos, neste caso, como uma morte dilacerante.

E que classe de amor é esse?

Qual é o amor que nos colocaria nessa enrascada?

Não é, claro, o amor maior que nos conduz ao abismo.

Na realidade ele nos conduz da mão de uma força maior, e nos afasta de tudo o que não fortaleza e alimente à energia da vida.

O próprio Hellinger falou de uma categoria de amor, que ele denominou amor cego, referindo se ao amor que permanece restrito ao grupo familiar, separado do contexto espiritual maior.

Um amor que se tinge de emoções secundárias, que geralmente conduz a inercia e leva a reafirmar a dor e a impotência, e, fundamentalmente, nos desconecta da realidade.

O amor cego é um sentimento que inocenta, que se experimenta como bom dentro de uma consciência inconsciente, ... que é a Consciência de grupo ou familiar.

E que é uma consciência que me confirma dentro do meu sistema familiar e me assegura um lugar de respeito, masque conduz inevitavelmente a um processo denominado dissonância cognitivaque é quando a pessoa necessita dar coerência ao todo da sua vida, perante da existência de elementos contraditórios dentro da sua realidade, opiniões e crenças, e então, opta por validar seu comportamento, ainda que errado, em base aos seus próprios sentimentos e valores, indo contra o sentido comum e as evidencias das circunstâncias.

Assim, por exemplo, todos sabemos que fumar faz mal, não entanto, muitos gostam de fumar, e passam por cima do tóxico e mortal, para satisfazer seus desejos.

No amor teríamos muitos exemplos, fundamentalmente dentro dos relacionamentos familiares, como os estabelecidos dentre mãe/pai e filhos, namorados, esposos, e outros.

Relacionamentos estes que, revestidos de sentimentos nobres e profundos, conduzem a desencontros e relacionamentos pesados, que aos poucos inviabilizam o afeto e a boa comunicação, nos levando inclusive à ruptura de vínculos, ou, mais comumente, ao adoecimento.

De todas as formas, amar de mais não é amar.

Amar por mim e pelo outro, também não é amar.

Amar e ao mesmo tempo acreditar que quem amo deve ser como eu necessito que seja, e se comportar da forma em que eu acredito que deveria comportar-se, ... não é amar.

Amar, e por isso achar que posso me imiscuir na vida de quem amo, manipular sua vida, achar soluções minhas, que eu acho corretas para os problemas da vida de quem digo amar, não é amar com amor verdadeiro e sim, é uma demonstração de apego e de ausência total de humildade, sendo que o apego é o anti-amor e a falta de humildade é a decadência do amor. É o desamor.

Insistir em um relacionamento que claramente não tem futuro, se submeter ao outro porque se ama e não se quer perder, confundir amor com dependência seja emocional ou material,silenciar para não discutir, o ciúme, querer o controle das relações, aceitar um destino infeliz para não contradizer aos pais, se boicotar e e permanecer infeliz porque a família é infeliz, continuar a prática de hábitos e costumes, sejam culturais ou religiosas, ainda quando eles não fazam parte da nossa visão de mundo e nos incomodem profundamente, inclusive quando esses hábitos comportamentais persistem, sem podermos mudar, por serem estes fortes de mais para serem percebidos como arcaicos, assim como outros comportamentos que se repetem no dia  dia das famílias, são exemplos de amores cegos agindo na energia da consciência inconsciente que rege os sistemas familiares.

O amor espiritual, maior, em tanto sentimento superior, ... sara… cura… engrandece... eleva.

Faz parte da vida.

O amor cego, que nos conduz à dor abissal, que pesa, nos deixa inertes e sem saídas,

esse amor que dizemos nos conduz à beira do abismo, age como uma miragem... nos tira do nosso lugar, nos enfraquece e adoece.

Nos realizar como pessoas e nos elevar a uma consciência espiritual do qual nos fala Bert Hellinger e a cura das macelas do amor cego.

 

Veja bem…

se observe…

qual amor conduz você?

Veja bem!

 

Muita luz a todos

Um forte abraço

Até!


Comentários