QUE SÃO AS CONSTELAÇÕES FAMILIARES, COMO ATUAM E QUE BENEFÍCIOS TRAZEM

 p Daniel H Della Valle Cauci

As constelações familiares em poucos anos, tem se consolidado como uma opção terapêutica e também como conhecimento filosófico.

De uma abordagem terapêutica dentro das Psicoterapias, e pela sua acessibilidade, deixa de ser “simplesmente” uma forma de tratamento e passa a ter a profundeza de uma filosofia de vida, se expandindo pelos quatro cantos do mundo com extrema rapidez.

Bem lá no seus começos, era uma construção que reunia abordagens terapêuticas de diversas vertentes, depois se tornou uma forma de psicoterapia breve, e, aos poucos, da mão do filósofo Bert Hellinger, se conformou como uma ciência que estuda e dá respostas a toda e qualquer situação que envolva relacionamentos humanos.

Assim, hoje se aplica como forma de resolver problemas pessoais, assuntos familiares, dentro da pedagogia, nas organizações empresariais, no Direito, nas conciliações, na saúde e em tudo lugar onde existam, como plano de fundo, relacionamentos interpessoais.

Mas... o que são, em definitivas, as constelações familiares?

Nem mais nem menos… , uma ciência dos relacionamentos.

As constelações familiares são um conjunto ordenado de conhecimentos que nos permite ACESSAR a forma em que nos relacionamos, principalmente a forma inconsciente em que interagimos com as demais pessoas, guiados por idéias, crenças e sentimentos que habitam o profundo do nosso ser e pautam nosso comportamento. Estas ideias, crenças e sentimentos surgem herdados ou aprendidos da família, que é o primeiro grupo ou sistema ao qual pertencemos e também o âmbito onde aprendemos a ser quem somos.

A maneira que a família se organiza e interage é a primeira forma de socialização que conhecemos, e, é a partir da família, que aprendemos a ser parte da sociedade.

Todos sabemos que dentro da família existem usos, normas e regras que obedecemos ou não. Regras de ordem moral, regras éticas, legais, religiosas, culturais etc... Mas elas sempre existem.

Podemos perceber que para nos sentirmos felizes e realizados, devemos viver em certa harmonia, e isso supõe que cada um de nós, ocupa um lugar dentro da família, um lugar que é só nosso ainda que não seja fixo, mas, determinado pelo contexto e circunstâncias familiares. Desde o nosso lugar devemos desempenhar o nosso papel dentro da família, da melhor forma possível, sempre em relação aos interesses do grupo e também, em relação aos próprios interesses, dentro de uma visão equilibrada no amor verdadeiro dentro da família. E isto acontece, sempre na observação e respeito das regras, normas e leis aceitas, historicamente, pelo grupo familiar.

Apesar de que a vida se nos apresenta como cheia de conflitos e desafios, existe sim a possibilidade de ter uma vida equilibrada e feliz.

Este sistema ordenado de conhecimentos, que chamamos de Constelações Familiares, é um conjunto de leis universais, e por tanto existem por cima das outras regras, normas ou leis de interação social.

Saber e aplicar este sistema ordenado de conhecimentos na prática das constelações Familiares, nos permite por um lado agir na vida de forma mais equilibrada, evitando gerar conflitos ou resistências, evitando relações desgastantes e adoecidas, assim como suas consequências negativas.

Mas, por outro lado, nos permite detectar os movimentos ocultos dentro dos nossos relacionamentos, que são aquelas dinâmicas relacionais que existem sem ser percebidas, e que nos levam a formas de interação defeituosas, conflitivas, que só provocam, para nós e para o grupo, desentendimentos, emaranhamentos e conflitos, e com eles, a impossibilidade de sermos felizes e de termos êxito  na vida.

As constelações familiares permitem observar os problemas que surgem a partir do relacionamento familiar de uma forma única, sejam estes problemas familiares gerados no seio de uma família, como aqueles que surgem entre pais e filhos; entre irmãos, dentro do matrimônio ou de relacionamentos afetivos, etc. Também nos permitem olhar para aqueles que são sentidos pelo indivíduo mas, aparentemente, sem motivos suficientes para existirem, como nos casos de tristeza, angústia, doenças físicas, desmotivação, protelação, perfeccionismo, etc., da mesma forma em que podemos olhar para os problemas que possam surgir dentro de uma empresa, como podem ser uma queda na produção ou nas vendas, conflitos entre setores, repetição de conflitos ou acidentes de trabalho, etc.

Não em poucas ocasiões, as origens dos conflitos ou emaranhamentos que nos desequilibram, não se percebem nem se explicam. Podemos, por exemplo, sentir angústia ou ansiedade e não saber porque. Podemos brigar constantemente com um irmão ou manter um relacionamento difícil ou doloroso com um filho, e, em última instância, não achar motivos nem razões para que isso aconteça. 

Nestes casos e em muitos outros, o que se observa nas constelações familiares, é que estes conflitos ou emaranhamentos surgem da história familiar, das transgressões relacionais vivenciadas pelos ancestrais, com origens antigos e até desconhecidos, mas, que mesmo assim, influenciam de maneira invisível, mas com consequências evidentes.

Dizemos então, que as Constelações Familiares são uma ferramenta importantíssima para reordenar e curar os relacionamentos familiares, através da ressignificação e de soluções para todo o sistema familiar, e não só para um indivíduo.

E é através dessa reordenação e de uma ressignificação das emoções e percepções das experiências familiares que originaram os conflitos, que surge a possibilidade de nos relacionarmos com a realidade de uma forma mais equilibrada e mais saudável. 

Mas, veja bem, as constelações familiares não curam. Elas trazem à luz os movimentos ocultos e as transgressões que nos desarmonizam, e, a partir dessa percepção, o indivíduo terá a oportunidade de compreender seu passado e seu presente, assim como o passado e presente da rede de relacionamentos familiares tal qual se foi gestando, seja em equilíbrio ou em desequilíbrio. Só assim é possível ver, realmente enxergar a cada quem no seu lugar, com sua história, com sua alegria ou sofrimento, com seus êxitos ou fracassos, e em definitivas, com as suas únicas possibilidades de agir em cada circunstância e contexto específico.

Essa percepção e a disponibilidade para transformar aqueles conflitos ou emaranhamentos em situações compreensíveis e aceitas como sendo parte de nós, este nós, que somos hoje, é o que realmente cura.

As Constelações familiares como terapia breve, nos permitem ver para dentro dos conflitos de uma forma generosa e achar soluções profundas, porém, não é o único caminho para esse fim. Inclusive, muitas pessoas gostam de ser como são e não convivem bem com a ideia de mudar as coisas que sempre foram do jeito que tem sido.

Todos temos o direito de sermos como queiramos ser.  Mas, para aqueles que percebem, que aquelas ideias, comportamentos e emoções pesadas parecem estar se opondo a um destino melhor, que nos atrasam como sendo pesados fardos que carregamos nas costas, fazendo da nossa vida uma tarefa árdua ou infeliz, quando os relacionamentos baseados naquelas ideias, comportamentos e emoções geram tristeza, dor ou vazio... e então sentem a necessidade de evoluir, de mudar as coisas para destravar a vida, as Constelações Familiares são um caminho possível e ao alcance de tudo aquele que esteja disposto.

Neste sentido a disponibilidade é uma condição.

E... Onde atuam as constelações?

Como dizemos, as constelações familiares atuam em todos os conflitos que surgem nos relacionamentos humanos.

Citamos alguns exemplos:

Quando nos sentimos sem controle e acuados pelo estresse emocional com ou sem explicação,  doenças físicas que não deveríamos ter, discussões matrimoniais que se repetem, erros que cometemos em forma cíclica, sentimentos opressores e ansiedade, depressão ou Pânico ou até aquela sensação de vazio que toma conta da nossa vida, conflitos na profissão e no trabalho, falta de êxito profissional , na ausência de felicidade, na sobrecarga de responsabilidades, nas dificuldades no amor, na desarmonia familiar ou em qualquer grupo do qual se participa, por perder repetidamente o trabalho, na procrastinação, a sensação de inércia, no sentimento de ausência paterna ou materna, na rejeição dos nossos pais ou na sensação de termos sido postergados ou até abandonados por eles...

Em todos estes casos e em muitos outros, as constelações familiares podem ser de excelente ajuda.

Toda situação que toca temas essenciais para a vida da pessoa que passa por uma crise, admite uma constelação familiar; todo problema que surja como pesado demais para nossa vida, aquilo que dói muito; que angústia, que freia o trava nossa vida, aquilo que pesa no nosso coração, que nos traz infelicidade o que nos impede a realização…

Todas estas dificuldades ou conflitos são passíveis de serem expostas no campo que se abre nas constelações familiares.

Ne prática, uma vez que está definido o tema que iremos a considerar, o que se faz na constelação é perceber o problema e olhar para tudo isso com uma atitude de solução, ressignificando nossa experiência, com olhos de assentimento à vida tal qual ela é, e não do jeito que gostaríamos que fosse, sem prejulgamentos... sem preconceitos.

No transcurso da constelação, o facilitador (constelador) irá perceber muitas informações que ajudarão no caminho das soluções. Inclusive e principalmente, aquelas informações que se mantinham ocultas e inconscientes nas relações horizontais, no presente, ou verticais, através das gerações.

E quais são os benefícios de fazermos uma constelação?  

Com uma percepção ampliada graças ao conjunto ordenado de conhecimentos que são as Constelações familiares, a forma desajustada em que interagimos familiarmente deixa de ter sentido. Muda. A percepção de nós mesmos muda, e as formas em que sentimos e nos comportamos também muda, deixando de ser caóticos ou eventuais. É possível olhar para as relações familiares, já não como relações isoladas que se apresentam muitas vezes como opostas e irreconciliáveis. Conseguimos voltar a nosso lugar, deixando de ver a vida como sendo o centro do universo, para vê-la dentro de uma “teia” onde todos se relacionam e onde cada quem tem seu lugar e seu poder de escolha. Uma rede de relacionamentos e vínculos, onde as pessoas não são como eu quero ou como eu necessito que sejam, e sim, como elas são.

Podemos ver e assumimos que em todo momento, temos a possibilidade de escolher nossas opções e tomar as nossas decisões, mas sem transgredir as regras ou leis que regem os inter-relacionamentos humanos.

Com todas estas possibilidades ao nosso dispor, teremos a oportunidade de ajustar nossa lista de prioridades e de alguma forma, nos recolocar no primeiro lugar dessa lista. Um lugar do qual não deveríamos ter saído.

Podemos começar de uma vez por todas a olhar para o essencial na nossa vida, deixando para trás o passado que é passado e reintegrando a nossa existência a todos aqueles que deixamos de ter em conta, que foram excluídos, seja pela dor, pela arrogância ou pela vergonha.

Damos em definitivas uma oportunidade para o amor e para a viabilidade da vida familiar.

Aquelas responsabilidades em excesso que tínhamos aceitado e assumido como nossas, responsabilidades que resultam ser extremamente pesadas, agora podem ser avaliadas e até devolvidas para seus verdadeiros donos.

Essa nova perspectiva nos dá uma nova sabedoria e humildade.

Nos amadurece, nos retira da criança e nos transforma em adultos. Com isso aprendemos a respeitar o outro. Deixamos de ver o externo e superficial, para ver o que está no profundo; o que é verdadeiramente essencial.

Assim, temos a oportunidade de nos enxergar tal qual somos, ver a família e sua atividade como um único campo familiar, como um único sistema trabalhando para atingir seus objetivos, e, mesmo assim, todos, sendo parte e conduzidos por algo maior.

São muitos os benefícios e até inesperados, por tanto, resulta impossível enumerá-los em uma reflexão deste tipo.


Um Forte abraço a todos...

Muita luz!

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