OS FILHOS CRESCEM... E SE AFASTAM DE NÓS... OS PAIS!

 p.Daniel H Della Valle Cauci

Foi uma longa história, que, quando olhamos para atrás, parece ter acontecido rápida de mais...

Os filhos crescem e parece que se distanciam de nós, dos pais... Dos nossos cuidados, dos nossos anseios, das nossa expectativas. da nossa proteção infalível e do nosso amor incomensurável que eles, parecem não compreender nem valorizar muito bem.

Na verdade, é que hoje podemos ver, que era muito fácil ser pai ou mãe dos nossos pequenos, quando pequenos.

Era difícil naquele momento porque não tínhamos prática e tudo devia ser aprendido, as vezes com pouca ou nenhuma ajuda. Geralmente, estávamos ativos, trabalhando, também aprendendo a resolver os nossos problemas, brigando com os nossos apegos e nossos medos, com todo tipo de temores... e tínhamos que dar conta da vida, do trabalho, da família, do relacionamento do casal e também, agora... desses “rebentos” amorosamente exigentes que porventura, dormiam tão poco.

Mas... todas as dúvidas e temores por saber de antemão se seríamos um bom pai, uma boa mãe, explodiam sem anestesia, em cada episódio de febre, em cada catarro, em cada choro por vacinas e no choro persistente que anunciava o aparecimento dos dentinhos.

Nós demos a vida... cuidamos, sacrificamos tantas coisas... e de alguma forma, em troca, esperamos ser tidos em conta. Só isso.

Mas, olhando para atrás, ... ¡Que tranquila foi a tarefa perante dos desafios de ser bons pais dos nossos filhos crescidos!

A gente fazia por eles e sem saber... por nós, e desfrutávamos das coisas pequenas, como o riso aberto, os primeiros passos e as primeiras palavras, as apresentações da escola, o primero desenho feito exclusivamente para nós...  

Ninguém interferia nessa relação mágica, nesse vínculo de amor do qual éramos totalmente donos. Um vínculo que acreditávamos indestrutível e eterno... Ao fim e ao cabo, era feito do amor mais puro. Com acertos e desacertos... más, amor ao fim.

De vez em quando, algum amigo (amigo é quem avisa), nos dizia... “disfruta agora que é pequeno... o tempo voa!”, em tanto que outros amigos, um pouco mais cruéis, nos alertavam... “filho pequeno, problema pequeno; filho grande, problema grande!” ... e, naquele momento, estávamos seguros de que essa afirmação, era um exagero.

Bem... os filhos começaram a crescer. E até que em alguns momentos desfrutamos dos seus intentos de independência; das suas tentativas de saber mais de que nós, das teimosias que aos poucos forjavam sua personalidade.

Muitos detalhes de tudo o que aconteceu desde o nascimento dos filhos ficam guardados na memória, mas, outros não. Nossa mente se encarrega automaticamente de preservar aquelas memórias aceitas e integradas a nossa psique, e rejeita ou esconde no subconsciente, as memórias que nos desequilibram ou desestruturam...

Aos poucos, esse vínculo com os nossos filhos é idealizado.

Esquecemos da nossa história e nem temos em conta a história da família do nosso cônjuge... olhamos as heranças físicas, no parecidos que são com o tio, ou dos gestos que são do avô materno... Mas, nem pensamos nas heranças comportamentais, nem na possibilidade de que eles, nossos filhos amados, com os quais temos um vínculo de amor imperturbável, do qual somos criadores e donos, possam estar a serviço da história familiar, da família do pai e da família da mãe.

Isso aí!

Esses são aspectos que aparecem com clareza ao observar as influencias e possibilidades do nosso contexto familiar e das circunstâncias que vivemos, desde muito antes dos nossos filhos nascerem.

Muitos comportamentos ou dificuldades que surgem nos nossos filhos pequenos, são facilmente atribuídos a circunstancias aleatórias, a vírus e bactérias, a má sorte o algum culpado... É fácil e rápido achar explicações desse tipo, mas, na verdade, o que acontece é que a gente não vê, não sabe ver, a enorme influência da família e da sociedade em cada um de nós que somos grandes, e mais ainda nos filhos, que ainda são pequenos.

Os filhos crescem. É eles não são nós. Eles são eles. É assim que os criamos. Nós passamos a vida para eles, fizemos muitas coisas por e para eles, mas, eles não guardam nenhuma dívida conosco. Não tem como pagar ou devolver tamanha dívida... o acaso teriam como pagar a vida que passamos adiante para eles? Todo o cuidado, a alimentação, as noites sem dormir...?

Imagine só o peso que cairia sobre a alma dos nossos filhos se eles tivessem que saldar essa dívida conosco!

Tiraria todas as suas forças!

Eles farão o mesmo pelos seus próprios filhos, por nossos netos, e nada cobrarão deles no seu momento... e sem saber, estarão nos devolvendo todo o amor e cuidados, todo sacrifício feito por eles.

Viu! Essa é a grande diferência entre Pais e filhos e entre avos e netos... Todos dizem que amor pelos netos é enorme ou até maior... porque na sua existência, na sua alegria e na sua saúde, estamos recebendo em forma de amor e de energia de vida, tudo o que como pais demos, sem ter tido muito tempo de perceber.

E então, os filhos crescem, necessitam se enturmar, estudar, aprender da vida. Experimentam, fazem amigos, surgem amores... e a sensação do pai ou da mãe é que eles começam a se afastar. Estávamos tão acostumados a sempre estarmos juntos, a que antes de fazer qualquer coisa... olhassem para nós... e agora começam a ter outros interesses (aliás, bem igual a nós, quando tínhamos a idade deles).

Agora nós temos que esperar por eles, continuar lhes dando tempo, fazendo sacrifícios, sendo postergados nas nossas necessidades de carinho ou daquilo que como pais, achávamos ter direito.

Até chegamos a fazer chantagem emocional, um pouco para detê-los nessa experimentação da vida, que consideramos assustadora e rápida de mais, sendo que para eles é todo alegria e descobrimento.

Se abre uma brecha de incompreensão, a partir de essa percepção de perda dos pais, e necessidade natural de ser, dos filhos.

Sem dúvidas, eles nos amam... e contam com esse amor na hora de abrir as assas... O nosso melhor papel de pais, será estar prontos e facilitar esse momento, ainda que isso pareça rasgar o coração. O que realmente rasga o coração é o apego a algo que não nos pertence.

O amor nunca poderia ser empecilho para que nossos filhos possam achar seus espaços e ir atrás do futuro.

E aí ouvimos aquela frase... filhos grandes problemas grandes!....

Será?

Em geral, quando os laços e vínculos amorosos foram criados equilibradamente, e na medida que os nosso filhos crescem e estão no seu lugar de filhos, como pais, também crescemos e achamos o nosso lugar. Como numa flor, as folhas diferenciadas que cobrem o botão, aos poucos cedem para que a flor desabroche...

Os pais não deixamos de existir... existiremos sempre, assim como existem e existirão os nossos pais e os pais dos nossos pais.

Não há problema algum em que os filhos cresçam... se crescem em harmonia, e se fomos capazes de lhes dar as ferramentas que necessitarão à hora de erguer suas consciências e de assumir sua transformação de crianças em adolescentes e de adolescentes em adultos.

Assim, quando os pais achamos estar “perdendo” nossos filhos, na realidade estamos atrapalhando a nossa relação com eles... estamos querendo que a vida continue, do jeitinho que nos, infantilmente, queremos e necessitamos. Estamos pujando um freio de mão, que gera sofrimento em quem mais amamos...

Fora dos problemas que possam surgir, as dificuldades ou conflitos que nossos filhos devam enfrentar, uma vez crescidos, só podemos dar assistência dentro do possível, sem poder jamais assumir suas dores, suas responsabilidades nem as consequências das suas escolhas, e, muito menos, ser um obstáculo ou um peso morto que eles devam arrastar como uma bola de ferro acorrentada a seus pés. 

Sempre, com amor, poderemos estar junto a eles. Mas, estamos falando de um conceito de amor, que não é aquele que nos ata, que perturba, que nos imobiliza ou que nos adoece... Estamos falando de um amor superior... enfim... estamos falando DO AMOR de verdade; que preenche.

O problema, de existir, queridos pais e mães... em geral, somos nós.

Nosso papel de pais, muda ao longo da vida dos nossos filhos. Eles pertencem à vida e tem direito a serem do jeito que eles podem ser; eles sempre serão os nossos filhos e nós sempre seremos seus pais, mas, permanecendo no nosso lugar, sem interferências irresponsáveis ou arrogantes.

Os pais, sempre daremos aos nossos filhos, mas, no nosso papel de pais, pais adultos e não como crianças carentes que esperam obter dos filhos aquilo que foi oferecido... receberemos amor, respeito, a ajuda que lhes seja possível, mas, jamais nada de aquilo que possa lhes resultar pesado, que se interponha na sua felicidade e na sua saúde física ou emocional. Nada que interfira ou pese nas suas escolhas de vida. A vida é deles.

Sim meus queridos pais e mães. A dor que sentimos rasgar o coração, pode passar quando a consideramos como um preço a pagar pelo crescimento e evolução dos seres que mais amamos. Essa dor se dissolve se a deixamos ir embora.

Se transforma em energia, em vida, em paz no coração.

Os filhos crescem.

Viva a vida!


Um abraço a todos!

Muita luz!

Até


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