UMA RELEITURA DA TERAPIA FLORAL, na minha experiência terapêutica

 p. Daniel Héctor Della Valle Cauci

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Dizer que faremos uma releitura da terapia Floral é pretencioso de mais.

Excede com certeza a minha capacidade nem me cabe pretender estar à altura dos mestres esclarecidos como o Sr. Edward Bach (1886-1936), que trouxeram até nós tão refinadas técnicas de cura.

O que a gente faz nesta reflexão é uma nova leitura, uma leitura detalhada, que corrija e retroalimente a nossa experiencia terapêutica, não para mudar algum conceito fundamental e sim para, por um lado ajustar a minha abordagem Floral às novas formas de pensar, a novos entendimentos da percepção da realidade dos consulentes, e por outro lado, para ampliar sua já generosa área de ação.

Na teoria base nada há para mudar.

A terapia Floral que nasce dos conceitos de Bach, fora dos resultados práticos na harmonização e cura de incontáveis casos em que primavam a dor e o sofrimento, está dentro do campo que se percebe como certo principalmente no peito e não na mente. E ainda que isto seja um sacrilégio para quem se aferra a um pensamento analítico e à necessária comprovação científica, não é assim nem para mim, nem para uma enorme legião de médicos e Terapeutas que se permitem uma visão da realidade mais acorde com o avanço integral do conhecimento humano.  

O conceito de saúde de Edward Bach, tecido em base aos seus estudos no começo do século XX, se define como um desencontro que acontece no indivíduo, dentre sua própria unidade (eu superior) e a forma em como se relaciona com seu entorno e com o cosmos, e se parece muito com a definição de saúde que manejamos dentro da naturologia, quando dizemos que esta se perde quando esquecemos de nós mesmos, ou quando dizemos, dentro da visão sistêmica, que adoecemos quando transgredimos leis sistêmicas e saímos do nosso lugar.

Aliás... a visão de Bach já era uma visão holística e sistêmica, que falava da necessária reunificação de quase tudo (me refiro a conhecimentos) o que as ciências tinham tentado separar ao longo de séculos de revisão cartesiana. Dentre estas necessárias reunificações está a da mente e do corpo, e do homem e a natureza.

Seu conceito de saúde aponta diretamente à integração (reintegração), a unificação e a completitude, que não eram ideias novas para sua época, pois elas chegam a nós desde a sabedoria de civilizações muito antigas, mas, trazidas por Bach, vieram a enfrentar os fortes pensamentos que sustentavam ao paradigma da época, apresentando por sua vez, um novo paradigma de unificação homem-natureza.

A necessidade de centrarmos, do autoconhecimento através da reunificação das nossas áreas ocultas, da elucidação dos pontos cegos, da nossa “sombra”, sempre foi para Bach uma condição para poder aceder a estados de consciência mais amplos e equilibrados. E isto é o que nos permite aceder à saúde, através do paulatino acercamento dentre a essência do ser e a sua individualidade.

Quando voltamos à leitura dos escritos de Edward Bach, nos imbuímos do ar fresco e da claridade de um conhecimento que ilumina e acalma a nossa alma, e podemos, sem nenhum lugar a dúvidas, pensar que se configura como um dos pilares da visão de mundo que conduz a evoluirmos dentro do humano e dentro do sagrado.

Podemos aceitar que o consulente compreenda as Essências florais de Bach como um remédio que lhe ajudará curar, a aliviar sua dor ou sua ansiedade.  Já temos ouvido consulentes falar, por exemplo, coisas como: “Eu não vivo mais sem meus florais”, inclusive como um gesto com o qual nos agradece pela boa escolha terapêutica... sem saber que na realidade, essa frase nos diz: “Você não fez um bom trabalho!”.

Todo está na conceitualização do que se conhece por “ajuda terapêutica”.

Nesse sentido, podemos dizer sucintamente que, sendo a dor ou a doença um caminho de aprendizado, se tiro (ou tento tirar) a dor ou a doença, tiro também a possibilidade de apreender. Pobre serviço aquele que realizo... e ainda arrisco achar que tenho todo esse poder...

Desde muito tempo atras se conhece a relação que se estabelece na psiconeuroimunologia, que começa a surgir já em 1850 e amadurece em meados de 1975. Esta disciplina estuda as relações dentre os impulsos sensoriais cerebrais, as funções nervosas, as mudanças nos níveis hormonais e as reações imunológicas. 

Parafraseando aos autores Scheffer (autoridade mundial no sistema Bach original) e Dieter Storl (antropólogo cultural e etnobotánico), “a Psiconeuroimunologia estuda as conexões que unem a alma ao corpo” e esse é o caminho das Essências florais na sua tarefa de Curar.

Curiosamente eles, no livro “Flores que curan el alma” (EDICIONES URANO, 1993), já observavam a quantidade de técnicas e métodos que se estavam combinando com a Terapia Floral de Bach original, e como eles mesmos descrevem, se combinam “de forma mais que discutível”, até porque o próprio Edward Bach primava pela simplicidade.

E é um pouco por aí que faço a minha releitura. Não para lhe agregar algo a mais, e sim para que dentro do meu trabalho, mantenha sua pureza e luminosidade, e melhor ainda se isto serve para mais pessoas, ou mesmo Terapeutas que possam se sentir identificados.

Isto se faz necessário, porque algumas ideias, alguns conceitos vão se agregando à forma em que compreendemos à realidade, ao homem e a seu inter-relacionamento dentro da realidade, com a grata consequência de termos com isto ampliado o nosso cone perceptivo.

Analisando as ideias de saúde de Edward Bach fica claríssimo quanto de sistêmico e de holístico têm seu pensamento. Ainda assim, pode ser que a sistematização do seu conhecimento, as formas em que se dá o ensinamento da sua filosofia, a superficialização decorrente da massificação dos seus conceitos, tenham ajudado a que a percepção da Terapia Flora de Bach ficasse um pouco ... empobrecida ou reduzida a aplicação matemática de fórmulas e à repetição de frases, que aos poucos perdem seu verdadeiro sentido.  

Em primeira instancia há só um método Bach Original de trabalhar, mas, segundo seus praticantes, podemos achar muitas formas de trabalhar com as Essências florais. Não me corresponde julgar ou criticar, assim que, cada um, com o que lhe toca ou compete. Mas a reflexão ou releitura é para analisar minha própria experiencia no trabalho com as Essências, a partir da ressignificação que realizei de alguns conceitos e definições no meu próprio trabalho. Ressignificações que acredito tem servido para aprofundar a compreensão do ser humano, que é o meu objeto de trabalho, assim como para agir com maior respeito pelo seu destino e capacidade de existir, devolvendo-lhe em todo momento o comando da sua vida.

Desta forma, acredito ter-me transformado cada vez mais em um simples e bom ajudante, em vez de um “Terapeuta sabichão e salvador”.

Trabalhar com as Essências Florais, no meu caso, dentro do sistema Bach, não se resume a misturar Essências com ações definidas em sentenças curtas, como quem faz uma salada que resulte com bom sabor. Esta é uma forma resumida, prática e barata de trabalhar como Terapeuta Floral, que até pode dar certo no alívio de diversas situações de desequilíbrio, mas que deixa pelo caminho, pela superficialidade e incompreensão do método, a muitas pessoas que necessitam de uma compreensão profunda da sua problemática e não conseguem, de essa forma, a ajuda que procuram, desistindo desta opção terapêutica. Além claro do preço que o próprio Terapeuta paga, para agir dessa maneira.

Trabalhar com a Essências de Bach é ser alquimista. É observar com muita atenção aquilo que separa ou fragmenta ao consulente. Neste sentido, dificilmente dois e dois são quatro. É necessário ver à pessoa na sua integralidade e isso supõe vê-la em relação ao universo que lhe rodeia e prestar muitíssima atenção à forma em que se relaciona com esse universo. E é conduzir ao consulente que o permite, sempre como ajudante, pelo processo pacífico e unificador de aprendizado e compreensão do essencial, para ele e em relação aos outros seres do seu convívio.

Trabalhar com as Essências Florais de Bach, pode ser para o Terapeuta reconfortante e revigorante, ou pode ser um desastre crônico que o prende e emaranha pela estimulação errada a seus próprios clientes.

Sim..., mas, o que tem de errado ajudar as pessoas com seus problemas emocionais ou funcionais?

Nada! Não há nada de errado se seu coração diz que deve ajudar. 

No meu mundo de Terapeuta Floral e como naturoterapeuta em geral, entendo a ajuda como um movimento de interação, como um intercâmbio de informações... ou seja, como uma forma de comunicação. O que resulta de grande importância pois nos facilita a compreensão do espaço e o papel que ocupamos ou desempenhamos dentro de uma relação. Por tanto é necessário entender claramente o significado da ajuda. É crucial saber o que realmente queremos dizer com a ajuda dentro da inter-relação onde a realizo. É crucial compreender que é o que dizemos com a ajuda que queremos brindar.

Ajudar! Essa é a palavra-chave para compreender uma das particularidades que trago à reflexão.


A AJUDA NA ATERAPIA FLORAL


Na terapia Floral de Bach, o movimento verdadeiro é dentro do Ser do consulente. A ação de ajudar não é o movimento principal. A ajuda é silenciosa, é respeitosa, é uma atriz coadjuvante. O que cura não é o Floral... é a elucidação que a harmonização Floral provoca. O Floral não é quem cura, pois em uma última instancia, e depois da terapia Floral, é o consulente que retoma (ou não) as rédeas da sua vida e a bota em ordem através das suas próprias decisões e escolhas. 

Vejamos um caso simples. Uma estudante procura a nossa ajuda pois está dispersa nas suas aulas e nas suas provas, fica ansiosa e sente medo de não poder dar conta das tarefas.  Aí, aparece o Terapeuta que bate no seu peito e diz: “deixa comigo!”, “toma estes florais que irão a ajudar”. E ajudam!

Mas, qual é o problema da jovem que fica dispersa, ansiosa e com medo?

Qual é o seu verdadeiro problema?

Se você é Terapeuta Floral e a sua resposta é: Segundo ela, seu problemas é estar dispersa, ficar ansiosa e com medo!...?

Me desculpe... você não é Terapeuta Floral.

Poderá dar um “chá” de Rescue Remedy; Impatien intravenoso... Pode preparar se quiser litros de Rock Rose e Mimulus e então, desta forma, verdadeiramente, ajudará a algumas poucas pessoas.

Neste caso, se arrogar o poder de curar ou aliviar uma determinada circunstância é cair numa armadilha que, como dizemos, traz consequências negativas para a vida do consulente e para a nossa como Terapeutas.

A utilização convencional da terapia Floral, por parte da maioria dos Terapeutas florais se centra na cura e não na unificação. Em general, se olha para o problemas e se pensa num buquê de Essências florais que resolva o problema. Que cure, que sane…

Procurar unificar, restituir a unidade do nosso ser, que é o cometido maior do pensamento de Bach, se dilui na tarefa a curto prazo de curar uma dor, de aliviar um sofrimento, sendo que a dor e o sofrimento possuem uma função liberadora quando se compreendem não como um obstáculo, e sim como um código ou pista a desvendar para corrigir o nosso desempenho como seres humanos, justamente na volta aos origens, ou seja, aprendendo e assentindo as leis maiores da naturalidade como primeiro passo, para depois sim, direcionar nosso crescimento de face a objetivos específicos.

Na conferencia de Wallingford, em setembro de 1936, Bach dizia:

“A doença carece de importância. O importante é o paciente, a forma em que ele ou ela se sente afetado, que é a nossa verdadeira guia no processo de cura”

Não compreenda mal as minhas palavras. A terapia Floral visa a cura e o equilíbrio, mas, estes são os objetivos e não o que prima na ação do Terapeuta. Cometer esse gafe, pode custar a efetividade do tratamento. 

Curar não é o objetivo do Terapeuta Floral e sim informar a partir da facilitação de uma nova e mais acertada percepção; viabilizar um tipo de educação que dê ferramentas que faltam ao consulente, permitir aceder ao conhecimento do essencial, possibilitando o autoconhecimento e a resolução dos conflitos que herdamos, apreendemos ou cultivamos dentro do que é o processo de conformação da nossa individualidade, da nossa “casca”. A função do Terapeuta Floral é o resgate e ressignificação da nossa história e das nossas circunstâncias, das que somos feitos, do que é a nossa “essência”. Para depois sim, termos a possibilidade de fazer escolhas acertadas.

Na terapia Floral do consultório, procuramos curar e isso pode definir-se como uma intenção, como um movimento que vá desde o Terapeuta ao cliente, o que nos coloca no poder e comando da relação.

Nós, lhe dizemos ao consulente... “Você não sabe da sua vida, mas, eu sei. Tome estas gotinhas que aos poucos você perceberá a vida de forma diferente e nem lembrará da sua dor...”

Olha o poder! Mas, será que podemos fazer que o consulente comece a pensar da forma que nós, Terapeutas, achamos que seria a melhor forma de pensar para ele? Como é isso? Olha o perigo!

É do consulente que surgem as soluções, os movimentos e as percepções que lhe conduzirão ao equilíbrio, e..., jamais saberemos o suficiente do consulente, como para termos alguma mínima ideia de como e onde corrigi-lo; de como e onde melhorá-lo. Esta seria uma proposta absolutamente fantasiosa e infantil.

Na minha experiencia somos meros espectadores. Espectadores privilegiados sim... munidos de conhecimentos e de muito respeito. De ser possível, sempre desde uma atitude fenomenológica e absolutamente responsável.

E desde a minha experiencia, que tem poucas medalhas, mas resume naturalidade, sentido comum, visão holística, visão e filosofia sistêmica, concepção energética e quântica da nossa existência dentre outros, pretender curar é uma atitude bonita que nos inocenta e nos auto eleva em direção a um pedestal construído a nossa medida. 

Dizer ao consulente o que fazer, é tratá-lo como sendo uma criança. Não é ajudá-lo... é dirigi-lo, como o faria seu pai ou sua mãe. É contratransferência.

Em câmbio, a aplicação dos conceitos originais da terapia Floral, exige do Terapeuta maior atenção, maior profundidade nas observações e uma muito maior responsabilidade à hora de projetar qualquer tipo de tratamento, lembrando que existe uma rede de pessoas e circunstâncias que dão suporte à problemática ou conflitos do nosso consulente.

Podemos ser bons “clínicos”, sendo objetivos no análise dos sintomas e na integração dos conhecimentos da técnica; fazendo escolhas que a razão nos diz que estão certas, e, ao mesmo tempo estar perdendo a objetividade. Sim... porque o objetivo no sistema terapêutico Floral, é a unificação, é a completitude, da qual a cura é sua mera consequência.

É evidente que queremos acalmar e melhorar a qualidade de vida dos nossos consulentes, mas isso não pode ser alcançado endireitando as curvas próprias do processo terapêutico Floral. Pessoalmente, não me sinto feliz quando acalmo o suavizo sintomas; quando contribuo somente com panos quentes, sem encarar a verdadeira tarefa terapêutica.

É por isso que quando o consulente diz que não vive mais sem suas Essências florais, o que escuto é... “Eu necessito continuar tomando seu remédio Floral, porque meu problema não foi resolvido ainda, e como não sei o que fazer, como não consigo ver o que ainda está errado, onde está meu conflito, sua receita Floral é para mim uma bengala... uma espécie de salva-vidas necessário” 

Uma das consequências da releitura que realizamos da terapia Floral, e a necessária reconstrução do conceito da “ajuda”. Tanto daquela que o consulente procura, como da ajuda que o Terapeuta está disposto a dar.


AJUSTE DA ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA



Decorrente desta questão, um outro aspecto que surge na releitura é a estratégia terapêuticaFloral.

Nos ensinamentos de Bach, assim como de outros grandes mestres dentro deste método terapêutico, não se deixam dúvidas sobre o que e como fazer para realizar um bom diagnóstico e desenhar um bom tratamento. Porém, hoje é fácil, através de apenas uns cliques, obter uma longa lista de receitas prontas para os mais variados tipos de problemas. 

Esta ação não tem estratégia nenhuma e assim, não se ajusta à nenhuma definição de processo de cura, a não ser aquela que se realiza com um band-aid. Digamos que, olhando objetivamente, o banaliza. 

E mais, hoje chegamos ao colmo de termos em exibidores, pretendidos remédios “florais” pré-fabricados, para a angústia, o medo e a depressão, assim como para a memória do estudante ou para a troca de dentição “do seu bebê”, dentre outras “mazelas”, unificando e simplificando o tratamento de todo processo de desequilíbrio, por meio de um self-service e com a simplicidade de quem usa um desodorante. O que supõe um grave e nefasto retrocesso escondido por trás de uma pretendida praticidade. Um verdadeiro desserviço comercial.  

Bach mencionava como uma das características positivas e vantajosas do seu método, o fato de que qualquer pessoa poderia compreendê-lo, justamente pela sua simplicidade. No entanto, esse grau de simplificação esqueceu o método, e, chama de ansiedade, por exemplo, a qualquer tipo de ansiedade e dentro de qualquer circunstância ou contexto. Isto sem dúvidas é escassamente específico e não permite a escolha apropriada das possíveis e efetivas estratégias terapêuticas. 

Na estratégia de um tratamento Floral o Terapeuta deverá olhar para a situação do consulente, de maneira de poder planificar, de poder ordenar seu tratamento efetivamente, para alcançar o objetivo final da terapia que é dissipar sintomas e sofrimentos a partir de uma nova compreensão, e da possibilidade de atingir uma forma diferente de perceber a vida, ressignificando e unindo tudo aquilo que deva ser ressignificado e unido.  

Na prática do consultório a ideia é permitir que o consulente perceba, compreenda e transforme a sua situação, aprofundando no seu autoconhecimento e assim descobrir seu papel e lugar na vida, no exercício do assentimento sincero da realidade à qual pertence.

A profundidade dos problemas do consulente e a sua intrincação, determinarão as mais diversas estratégias, e, a escolha adequada destas, pode significar o sucesso ou o fracasso do nosso trabalho como Terapeutas.

Como ir de um ponto a outro na gráfica da saúde do consulente será a tarefa, e, uma boa estratégia será sem dúvidas essencial.

Dependendo de qual seja a forma em que temos em conta ao consulente, colocando-o dentro o fora dos sistemas aos quais pertence; como um ser isolado da sua história e da sua responsabilidade familiar ou como dentro de uma rede de relacionamentos sistêmicos dentro da qual se submete a regras que limitam seu livre arbítrio; tendo em conta ou não sua cultura, sua religião, as costumes ancestrais às que responde, dependendo de isto e mais, será também a forma em que veremos ou não a dissonância ou desequilíbrio que sofre.

O conceito de “estar a serviço” da consciência de grupo, ou seja, com a responsabilidade herdada de modificar a percepção de fatos ou sentimentos que desarmonizam seu sistema familiar, a pesar de que aparentemente não exista nenhuma razão medível ou quantificável para ter recebido a tal “herança”, também coloca ao Terapeuta Floral na necessidade de fazer uma leitura adequada e cuidadosa, pois, esse estar “a serviço”, geralmente passa despercebido, oculto, tanto para o indivíduo como para o Terapeuta. O peso e as consequências de esse “estar a serviço” do seu sistema, podem ser observados nos sintomas e nos padecimentos do consulente, mas não as suas causas originais, não entanto, a resolução dos conflitos e desequilíbrios, geralmente está na percepção de esse “estar a serviço” e as suas razões originais.

E todas estas nuances, determinarão o que? 

A estratégia do tratamento Floral. 

E o interessante, é que esta estratégia não dependerá somente dos problemas ou desequilíbrios a tratar. Não podemos esquecer que o indivíduo se define em se mesmo e em relação a como é que ele interage com o médio no qual se encontra. Assim dependerá de inúmeros fatores que só podem ser tidos em conta de forma dinâmica. Olhando assim, e encurtando as explicações, todo bom Terapeuta Floral é uma espécie de “constelador”.

Dentro desta releitura podemos ver que algumas das Essências florais ganham um protagonismo maior, dependendo de quais sejam as etapas da nossa estratégia, segundo sejam as camadas da nossa psique por baixo das quais se encontra o problema ou, inclusive, segundo quais sejam as urgências físicas, emocionais ou comportamentais que devamos enfrentar. É o caso do CHICORY, do VERVAIN e do próprio RESCUE REMEDY, só para citar três exemplos.

Assim, olhamos com atenção a Ajuda e ao ajuste de estratégia terapêutica.


O TERAPEUTA E O AJUSTE DA PERCEPÇÃO DO MUNDO, DE SE MESMO E DO CONSUENTE (O Terapeuta Floral na “Rede”)


Até por ser o que é, o método de terapia Floral de Edward Bach, planteia para o indivíduo que se postula como Terapeuta Floral, a necessidade de atingir um nível de preparação teórica importante e a experimentação das Essências, mas, fundamentalmente a sutileza de uma percepção apurada, assim como a capacidade do “Amor”, dentro de um plano espiritual superior, onde tudo se submete a uma Força Maior.

A compreensão desse Amor, o poder estar nesse Amor resulta ser um parâmetro importante a ter em conta ao observar um verdadeiro Terapeuta Floral, pois sua função requer de algumas virtudes difíceis de existirem em aqueles que não experimentem o Amor espiritual. Esta emoção é a que nos permite estar em sintonia com algo Maior, dentro de uma igualdade fraterna, imbuídos de sinceridade, em desapego e em assentimento com o fluir da vida. 

O papel do Terapeuta é “promover o ato de Curar dentro do paciente, e de mobilizar a vida dentro desse ser”. como nos diz a Dra. Carmen Monari.

 O papel do Terapeuta é um papel de ajudante. E, diferentemente ao que acontece na Medicina, o Terapeuta Floral deve compreender o sofrimento da alma do seu consulente. Não se fazendo cargo do sofrimento, mas compreendendo-o. 

A Dra. Monari nos diz no seu livro “Participando da vida com os Florais de Bach – Uma visão mitológica e prática”, que o trabalho do Terapeuta Floral...:

... “É um trabalho de sentir ao outro com os olhos do nosso coração.

Ele deve ter as qualidades da humildade e da reverência pelo paciente, além de sempre lhe agradecer pela (oportunidade de) troca de ensinamentos.


Porém, como compreender aquele sofrimento, aquela dissonância vibracional..., aquela circunstância do consulente, se é que não adquirimos a experiencia vivencial necessária?

Como podemos ajudar com algo que não temos?

O processo pelo qual chegamos a experimentar a emoção do Amor superior em um plano superior de percepção, nos abre caminho para essa possibilidade, nos afastando de preconceitos, julgamentos e críticas de antemão. Nos mantendo numa postura adulta, de igualdade e sem nenhum tipo de protagonismo. Sendo só um simples, silencioso, respeitoso e amoroso ajudante. 

Falando desse amor, o próprio Bach comenta numa das suas cartas (dezembro de 1933, Cromer, Norfolk):

“O amor real, deve estar infinitamente por cima da nossa compreensão ordinária, ser algo tremendo, o total esquecimento de se mesmo, a perda da individualidade na Unidade, a absorção da personalidade no Tudo.”

E na mesma carta, ele vai ainda mais longe na estipulação da responsabilidade de quem está nesse patamar de Amor:

“Qualquer pessoa a quem posamos influenciar pela nossa vontade, controle ou poder, se constituirá num perigo para a nossa liberdade. Não importa se a nossa influência se deva ao amor, ao poder ou ao temor que eles tomam de nós. Nossa alma deve agradecer a todos aqueles que recusam ser os nossos serventes, pois isso nos “amarra” mútua e individualmente” 

Estas curtas referências podem tomar-se como uma pequena amostra do que Bach considera uma postura terapêutica apropriada, e a ela, nada temos a agregar. Imagine! 

Sendo que a doença se define na perda de conexão dentre a nossa existência superior e a nossa individualidade e que são os pensamentos, emoções e os estados de ânimo de cada pessoa nas suas circunstâncias, as que originam os desequilíbrios em geral, não serão condições suficientes para o bom Terapeuta qualidades como inteligência e acúmulo de informação. Para ele poderá ser mais importante uma postura humanizada e evoluída, que lhe consubstancie com o Tudo, através dos princípios e valores que só podem ser exercidos quando nos colocamos como sendo parte de um plano espiritual, e sendo levados em harmonia por aquela Força Superior.

Agora, algumas questões vieram a ficar um pouco mais evidentes através da visão sistêmica dos relacionamentos. Bach já estava postulando na sua prática a visão sistêmica, a intergeracionalidade, a atitude fenomenológica para uma percepção mais profunda do consulente e sua circunstância...ainda que sem mencionar estas palavras especificamente. Mas, lendo sobre seu pensamento achamos muitas pistas que confirmam esta percepção.

Por esse caminho, o Terapeuta Floral deve ampliar sua visão do mundo, de se mesmo e do seu consulente, e, com essa ampliação, ficar ainda mais humilde... mais respeitoso. 

O processo de cura que a gente promove no consulente continua acontecendo nele e graças a seus próprios avanços e percepções ressignificadas. Mas, agora, O Terapeuta já não olha para o consulente e seus sofrimentos... Olha para algo bem maior. Olha para todo um sistema e para várias gerações. O Terapeuta já não procura a solução dos sofrimentos e conflitos do consulente, nem pode tomar atalhos na sua estratégia ou lhe oferecer atalhos ao consulente, como por exemplo seria a ação “sublime” e “indiscriminada” de perdoar, de esquecer ou de simplificar através da exclusão... 

E mesmo assim, apesar de que pareceria ser que desta maneira o trabalho terapêutico ficasse mais árduo e complicado, a nova abordagem, além de nos proporcionar soluções mais completas e mais satisfatórias, pode resultar, sem dúvidas, muito mais simples e menos doloroso. 

O consulente já existe. Já é. Sua história lhe dá o contexto em que achará a origem da sua dor, mas olhando com atenção, será desse contexto e dessa história que virá a extrair a força e segurança que necessite para achar as soluções. Nada do que faz parte do seu passado, da construção de si, pode ser mudado, no entanto, pode mudar sua compreensão a partir de uma atitude adulta e reflexiva. 

A percepção certa da realidade, de se mesmo e do consulente com todo seu poder, ajudará a reposicionar ao consulente na sua vida, mas agora com novos conceitos a partir da ressignificação dos amores, das lealdades e da compreensão profunda das consequências de não respeitar as leis sistêmicas de Pertencimento, ordem, equilíbrio e assentimento. 

Através desta nova percepção todos os atores ficam mais leves, e, as amarras que nos mantinham fixados a ideias e crenças limitantes, outrora resistentes e enrijecedoras, se dissolvem após breve análise com uma compreensão ampliada e a disponibilidade do consulente a retomar a vida onde a deixou.

Volto a dizer que esta releitura da Terapia Floral é em base a minha experiencia e serve para “flexibilizar e alongar” minhas ideias e pensamentos sobre o assunto. 

Tomara seja de interesse para outros Terapeutas Florias.


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