A RELAÇÃO MÃE/FILHO: A DISFUNÇÃO COMEÇA ONDE A GENTE MENOS SE IMAGINA

 p. Daniel Della Valle

O relacionamento Mãe/Filho-Filha se desenvolve dentro dos limites possíveis, e, normalmente oscilantes que a vida em família nos apresenta. E na medida em que esse relacionamento transcorre em normalidade, terá bons resultados, que só se poderão apreciar e medir na afetividade, na felicidade, na coesão familiar, na integralidade e no sucesso que o Filho ou a Filha experimente na sua vida.

Se tudo está bem, ótimo!

Mas, o nosso trabalho como indivíduos e como facilitadores consiste numa procura constante pelo crescimento e pela evolução, pela ampliação do cone perceptivo, saindo da aceitação passiva de um modelo de existência baseado numa inter-relacionalidade caótica e suas consequências.

É dentro da realidade vivenciada no dia a dia, onde os relacionamentos familiares e sociais em geral acontecem, as vezes mais e as vezes menos harmoniosamente. Pequenos desencontros ou até conflitos podem ser resolvidos a partir de um agir sistêmico básico. Porém, outros conflitos, mais antigos e crônicos parecem encalhar em posicionamentos e dilemas que não parecem ter solução. Estes relacionamentos conflitivos persistem, pois, eles possuem originalmente laços e vínculos que na nossa consciência pessoal aparecem como importantes e poderosos. Vínculos que, ainda que invisíveis, existem e caracterizam como disfuncionais os relacionamentos familiares.

Sem enumerar situações legais ou psicopatológicas, sem entrar em quem está certo ou quem está errado, sem mencionar quem é que merece ou não merece castigo ou perdão, a disfuncionalidade na relação Mãe/Filho começa, no peculiar e único contexto sistêmico que se prepara transgeracionalmente para essa relação, que incidirá direta e inconscientemente na maior parte das vezes, no comportamento e na eficiência na hora de lidar com todas e cada uma das alternativas que a vida nos apresenta.

Este enorme movimento energético (e de informações) que é o nascimento da Mãe e do Filho-Filha, terá vários caminhos a seguir segundo as circunstâncias e os laços de destino. Na sabedoria, as escolhas e as ações serão equilibradas e sistemicamente funcionais e assim, a dissolução de bloqueios e emaranhamentos acontecerá sem esforços, lenta e naturalmente quando dentro de certa harmonia.

O campo familiar, através da consciência de grupo, é determinante na formação desta e de toda relação dentro da família, e é esta consciência de grupo que nos põe a serviço através de “insights”, ensinamentos ou repetições de experiências fortes ou dolorosas. Mas, ainda que poderosíssima, cheia de condicionantes e geralmente complexa, a Consciência de grupo o familiar não existe como um obstáculo, para caotizar ou para contribuir no esgotamento do sistema familiar. Ela existe como leito de oportunidades para reestabelecer o equilíbrio vital, para desbloquear as energias represadas e permitir o livre fluir da vida dentro das famílias. Se cada quem conseguisse ser quem deve ser e se encaixar dinâmica e criativamente no sistema familiar, o livre fluir da vida seria a normalidade.

É a falta de percepção e de consciência dos atores desta grande “obra que é o relacionamento Mãe/Filhos” o que determina o êxito ou fracasso desta relação.

Na disfuncionalidade da relação Mãe/Filho, o que conta é:

Qual será a atitude e o comportamento da Mãe e dos filhos neste particularíssimo contexto sistêmico?

Primeiramente, a maior parte das vezes nem se percebe o contexto sistêmico e se experimenta a vida desde si mesmo, desde as “minhas necessidades”; desde o que considero que Eu mereço e a vida não deu, ou, com sorte, desde a ingenuidade de que tudo o que desejo se faz realidade. Mas, já sabemos que, no reclamo e no não assentimento, estaremos numa atitude que é de uma criança, e criança, não comanda sua vida.

Uma vez que compreendemos e experimentamos a inteligência sistêmica, resultará evidente que assentimento e renúncia é o que melhor se ajusta a qualquer uma das soluções apropriadas, onde todas as partes se beneficiam..

Pelo outro caminho, a consciência pessoal e às percepções enevoadas da nossa realidade só propiciarão a saída do lugar e do contexto de uma ou das duas partes desta relação, com as consequentes transgressões as leis sistêmicas.

As causas são muitas. Infinitos arranjos de circunstancias e de processos pessoais e familiares, horizontais e verticais.

Mas, veja bem… uma das causas primárias para o surgimento da disfuncionalidade na relação Mãe/Filho-filha é o amor. De uma forma ou outra, podemos afirmar que SEMPRE É O AMOR.

O amor do vínculo mãe/filho e um amor preexistente; expresso no vínculo familiar, cultural e religioso aos quais logo responderemos.

Nos tempos em que vivemos, um dos primeiros laços que se criam com a Mãe ao nascermos e o laço afetivo. Um laço que comumente chamamos de amor, mas que ainda se trata de aquilo que nas constelações chamamos de “amor cego”, pois é agindo em nome deste amor, que os filhos necessitam igualar-se a seus pais em tudo, inclusive no sofrimento e na doença (coisas desnecessárias e sem lógica).

 

MAS, COMO O AMOR PODE PROVOCAR DISFUNCIONALIDADE?

O amor é muito bom! O amor cura, da vida; o amor é um sentimento puro…

É fácil para nós confundir e interiorizar esse conceito de amor como um amor romântico, que nos envolve e nos transporta.

Fazemos isto com tanta convicção, que inconscientemente tentamos lhe atribuir uma medida a aquilo que em realidade tem caráter de incomensurável, dizendo que “amamos muito”, “ninguém te ama mais do que Eu”, ou que... “amamos de mais!”.

Bem, Amor é um dos conceitos ressignificados dentro da visão das constelações Familiares. E não é que para nós signifique uma coisa diferente. Na realidade, o que a visão sistêmica faz, é olhar de frente para um conceito que geralmente usamos mais que inapropriadamente.

Pense só na quantidade de pretendidos “amores” diferentes podemos achar a nossa volta! Assim, podemos ir desde um amor que nos amarra, que nos imobiliza e que nos conduz a menos e o amor que deixa de ser uma mera emoção e passa a ser um movimento, uma ação, uma sintonia com o espiritual, um amor que compreende e que sabe como, quando e como amar. Como nos diz Bert Hellinger: ... “amor que se torna uma ciência universal”.

Dividimos este texto em três partes para deixa-lo mais leve...

 Um forte abraço e continuamos falando da disfuncionalidade na relação Mãe/Filhos no próximo post:

A RELAÇÃO MÃE/FILHO (2)

 

Muita luz a todos!

Um grande abraço!


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