ALGUMAS ACLARAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO SISTÊMICA MÃE/FILHOS

 p.DANIEL HÉCTOR DELLA VALLE

Voltamos ao tema relacionamento MÃE/FILHA.

Com algumas aclarações iniciais.

Muitas vezes nos vemos repetindo, que, sistemicamente é desse jeito ou é de outro… que na visão sistêmica os relacionamentos deveriam ser de determinada forma… que o papel de fulano deveria ser aquele, em tanto que ciclano não está no seu lugar por isto, por aquilo e por muitas outras razões…

Estas…, todas estas são afirmações tremendamente equivocadas e longe estão de serem sistêmicas. Cada caso é um caso e nada pode ser classificado ou catalogado de uma forma estática. A fonte de informações é “o campo” e não um conjunto de suposições teóricas.

Não entanto, não é que sejamos inconsequentes ao falarmos dessa forma… simplesmente partimos da experiência acumulada na prática das constelações.

Acontece que a prática das constelações familiares é tão rica e ampla que generosamente nos mostra as dinâmicas relacionais de uma forma pura e diferente à que os olhos do cotidiano nos mostram.

Sim. A visão sistêmica é uma forma diferente de ver os relacionamentos, desde um ponto de vista totalmente ressignificado, onde principalmente, não existe mais a cômoda e segura dicotomia certo ou errado. 

Esta aclaração vale, pois queremos falar um pouco do lugar da MÃE e do lugar da FILHA na visão sistêmica. E, logicamente, muitos podem pensar que designar papeis fixos para a MÃE e para a FILHA, não pode passar de um enquadramento que empobrece de mais este tipo de relacionamento. Se fosse realmente um enquadramento..., seria um absurdo lógico. Mas não é. Nós afirmamos desde um começo que cada caso é um caso.

A filosofia de Bert Hellinger se baseia nos resultados de muitos anos de trabalho, dele e dos seus alunos... Uma prática que jamais procurou compreender por que as coisas acontecem de determinado jeito, e sim compreender e assentir aquilo que acontece, na certeza de que eventualmente, dentro de um conflito, cada quem tem sempre uma determinada responsabilidade sobre os fatos, pautada pela transgressão das leis ou forças sistêmicas, e, ao mesmo tempo, a possibilidade sempre presente de resolução dos emaranhamentos, ao retomarmos o nosso lugar e nosso papel, dentro das redes de relacionamentos das quais fazemos parte.

Dento de cada uma dessas redes de relacionamentos, cada ser tem seu lugar. Isso é um fato inobjetável e prático. Certo é que dentro da família, nem todos pensam e agem da mesma forma. Ainda assim todos tem seu lugar e um determinado papel.

Por ser um sistema, cada parte, cada indivíduo e segundo as regras estabelecidas, é parte essencial do todo e seu comportamento, harmonizara ou desestabilizara ao sistema todo.

Ao falarmos da MÃE, sabemos que ocupa um papel primordial na evolução da família e da sociedade. Não é possível analisar cada caso em particular... (isso, na realidade é o que se faz numa constelação), mas sim é possível compreender as características históricas e antropológicas, psicológicas, fisiológicas e práticas... as características energéticas... todas características de influência inegável na estruturação do comportamento da MÃE, gerando pautas em relação à família e, claro... também à FILHA.

Existe um período da vida da criança onde a influência materna é enorme, abarcando praticamente todas as facetas da sua existência.

Depois a figura paterna e as outras relações familiares assumem seu papel, ampliando, fortalecendo ou catalisando a participação da MÃE, dentre outras influências, mas sem jamais diminuir sua importância

Outras figuras femininas ancestrais ou circunstanciais podem assumir o papel materno sem jamais substituir a MÃE original, mas, podendo “atemperar” e esclarecer influências e desvios, asseverando ou desencorajando pensamentos e emoções... tudo é muito relativo.

O peso da figura paterna e da figura “do masculino”, tão “oscilante” na sociedade, pode até deixar um espaço sem preencher e contribui, geralmente, na idealização ou na magnificação do papel e da figura materna.

Nos filhos, se ergue uma consciência pessoal cheia de ataduras e vínculos que necessitam dar sustento à realidade que vivenciam como “família”, seja esta equilibrada ou não., sem deixar de ter em conta de que existe, como pano de fundo, um movimento transgeracional do qual não temos controle, um sistema de forças que se expressam na multiplicidade de fatos que acontecem “na vida real” das pessoas, e na quantidade de energia de vida e de energia de morte que pesa em cada membro do clã, com um papel regulador e principalmente gerenciador da continuidade, da sobrevivência desse clã.

Este movimento transgeracional é o que conhecemos como consciência de grupo ou consciência familiar.

Pelo exposto, e por um sem-fim de outros inter-relacionamentos, fica claro que cada caso é um caso, sem que possamos em nenhum momento classificar ou determinar de forma fixa nem o papel da MÃE nem do FILHO.

Mas... um detalhe..., lembre, que na filosofia sistêmica, o Constelador não olha para a MÃE. Olha para o sistema familiar da MÃE; um sistema que possui características únicas e que só na sua complexidade e na interação sistêmica com a criança, influenciará no amor, nas expectativas, nas escolhas, nos medos, na lealdade e em todas e cada uma das características comportamentais e fisiológicas desse ser, que, no caso da filha, mais tarde será MÃE. Ser MÃE não é um lugar estático. A MÃE nasce junto ao nascimento do seu primeiro filho[1].

E mais tarde a MÃE, com toda a influência do seu sistema e sua experiencia de vida, junto ao Pai, com toda a influência do seu próprio sistema e a sua própria experiência, darão vida a um novo ser, que receberá, como já falado, toda a influência desse novo sistema familiar, pautando de muitas formas, evidentes ou sutis, o amor, as expectativas, as escolhas, os medos, a lealdade e todas e cada uma das características comportamentais e fisiológicas desse ser, que é, neste caso, o FILHO

Da mesma forma, ao olhar para o FILHO, no olhamos para ele isoladamente, como indivíduo... Olhamos para seu sistema familiar. Assim é a visão sistêmica.

Então, ao falarmos do lugar da MÃE e do lugar do FILHO, falaremos dos lugares desde onde MÃE e FILHO interagem de forma leve e coerente com as leis sistêmicas, com as demais pessoas do seu convívio, preferentemente sem gerar conflitos nem consequências negativas para se mesmos nem para a família. E não falaremos do que deva, obrigatoriamente, ser.

Sendo que todo é e tudo acontece na inter-relacionalidade, podemos descobrir a importância da MÃE quando Bert Hellinger nos diz que “Toda relação começa com a MÃE”.

Nascemos do seu ventre, do seu sustento... com uma história genética, epigenética e intrauterina... Foram meses de gestação para hoje termos a vida... seja quem ela seja ou feito o que tenha feito, teve a grandeza de nos dar essa vida e para isso, tudo o que ela fez, foi suficiente. Sem deixar de ver, que ela é o foi, uma pessoa, e não um ideal infalível ou arquétipo de perfeição.

Na concepção da filosofia sistêmica a MÃE que temos, não é a melhor ou a pior... é a única que poderíamos ter, e graças a ela (e ao Pai), gozamos da possibilidade de ter nascido, sobrevivido e hoje ter condições de dar continuidade a vida. A vida do FILHO e a novas vidas.

É justamente esse enorme caudal de relacionamentos familiares e sociais que modela a consciência pessoal dessa MÃE, e, junto à consciência de grupo, define a sua circunstância sistêmica. É desde essa circunstância sistêmica que a MÃE nos influencia de forma determinante.

Pai e Mãe são figuras centrais na nossa existência. Eles são nosso ponto de partida.

Dentro desta premissa uma família pode ser funcional ou disfuncional, com um só dos progenitores, ou com participação desequilibrada de um ou dos dois progenitores.

Se pensamos em uma MÃE que ocupa seu lugar e assente seu contexto sistêmico... Qual será seu papel dentro da família e do relacionamento com o filho ou com a sua filha?

E qual será o papel da FILHA, que ocupa seu lugar e assente seu contexto sistêmico dentro da família e em relação a sua MÃE?                                                                                             

(lembre o leitor que é o “papel da filha” que queremos investigar)

 

Vamos lá!



[1] Algo similar acontece na adopção ou na mulher que passa a ser mãe dos filhos do seu esposo.


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