p. Daniel Héctor Della Valle Cauci
Fenomenologia de Edmund Husserl e sua relação com as
Constelações Familiares
A fenomenologia é um método de investigação filosófica, que
possui como característica a observação do objeto de estudo através de um olhar
desprovido de conhecimentos anteriores ou teorizações, para ter uma descrição
imediata, anterior a qualquer explicação teórica, dos fatos e das ocorrências
psíquicas. Isto, muito resumidamente.
Seu principal valor para as Constelações Familiares e a
possibilidade de uma percepção direta dos desequilíbrios, desprovida de
prejuízos e de intencionalidade, deixando o caminho livre para a
ressignificação dos papeis e dos relacionamentos dentro de um processo de
reintegração e de harmonização.
A sua relação direta da fenomenologia com a filosofia que
sustenta às Constelações Familiares, se estabelece não na aplicação do método
Fenomenológico a rigor como um todo, como método de conhecimento, e sim através
de uma abordagem fenomenológica do trabalho; da atitude fenomenológica em que o
facilitados observa e recebe informações de forma “pura”, sem intencionalidade
nem conhecimentos prévios. A ideia é se antecipar à intencionalidade da
consciência que observa na percepção racional de qualquer fenômeno.
É por isso que Husserl, no seu
livro “MEDITAÇÕES CARTESIANAS”, afirma:
"
É preciso primeiro perder o mundo, graças a epoché[i],
para o recuperar seguidamente na autorreflexão universal "
(1931, p. 134).
Quando investigamos um fenômeno através do método
científico, se parte sempre de conhecimentos pré-existentes e avançamos em
direção ao fenômeno observado, que, ainda que sendo novo, desconhecido ou
simplesmente carregado das suas próprias e únicas características, não deixa de
ser finalmente “construído” por nós, seja pela dedução ou pela indução a partir
de aqueles conhecimentos iniciais, perdendo de vista o fenômeno que
investigamos na sua “pureza”. Assim, deixamos de ver para o fenômeno em si, na
tentativa de conhecê-lo racionalmente.
Da mesma maneira, perderíamos de vista as dinâmicas
relacionais de uma família ou de uma empresa, se no trabalho das Constelações
Familiares, abordássemos os conflitos ou emaranhamentos através da lógica e da
razão, perdendo de vista as características específicas e únicas de cada
relacionamento e a oportunidade de realizar o nosso trabalho. Esta afirmação
que pode parecer sem sentido para muitas pessoas, não o será para quem é um
Constelador ou para quem já conhece as constelações Familiares. Observar os relacionamentos através da
racionalidade ou através do método científico nos levara, no melhor dos casos,
a uma perda de tempo, ainda que mais comumente, nos conduz não só ao fracasso
da ajuda, se não também a um aumento considerável da extensão e da gravidade
das consequências dos emaranhamentos que justamente queríamos resolver ou
evitar.
Daí que a atitude fenomenológica é a atitude e condição
inicial nas constelações familiares, já que nos introduz à compreensão dos
fatos sem pré-conceptualizações, sem pré-julgamentos e totalmente dispostos
para as informações que o campo do consulente tem a nos dizer. Quando esta
informação, que está no campo do consulente se mostra, assim como ela é, e
podemos recebê-la na sua essência e sem conceitualizações apriorísticas, os
emaranhamentos e suas dinâmicas se manifestam de forma clara e dentro do seu
verdadeiro contexto.
O básico na percepção através do método fenomenológico é
permanecer vazio. Só assim é possível permanecer aleio ao não essencial e ficar
só com a informação que o objeto traz.
É fácil de perceber, que a fenomenologia nasce como método
de conhecimento em oposição ao empirismo, que, segundo Edmund Husserl, não
oferece nos seus dados científicos, informações confiáveis para a investigação
filosófica.
A redução Fenomenológica e sua complexidade
O filósofo Edmund Husserl, precursor da fenomenologia,
admite como fundamental neste método de conhecimento, o abandono de qualquer
posicionamento, crítica ou preconceito perante do objeto de estudo, através do
que denominou REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA.
Esta consiste numa preparação onde se suspendem as crenças,
teorias e conhecimentos prévios ao fenômeno em questão (epoché),
para perceber unicamente o que o fenômeno nos mostra e o que o fenômeno
significa para o observador.
Na fenomenologia, e graças à
redução fenomenológica, as percepções chegam através dos sentidos da forma mais
pura e sem nenhuma interferência da nossa mente; sem juízos apriorísticos. A
tentativa é de entender a essência do fenômeno e para isso, é preciso a
suspensão de juízo, a eliminação de todo e qualquer tipo de dogmatismo e se
abrir à possibilidade de uma percepção intuitiva que Husserl chamava de
intuição essencial.
Evidentemente, dentro da filosofia
fenomenológica de Edmund Husserl, deixar a mente em branco e regular a batida
cardíaca não é a questão. É muito... muito mais.
É imprescindível o distanciamento
do fenómeno ou a observação desinteressada para iniciar um processo de
conhecimento através do método fenomenológico, no que poderíamos chamar de
abordagem fenomenológica da investigação. Porém, isso é só o começo, porque o
objetivo do método fenomenológico é conhecer a essência do fenômeno observado,
ou mais exatamente apreender o fenômeno, partindo da experiência da consciência
de aquilo que se mostra, sem interferências e de forma pura.
O método fenomenológico, na
redução fenomenológica possui três passos que definem sua complexidade:
A Redução
psicológica, onde se isola o conhecimento anterior, qualquer teoria, regra
ou lei que interfira na percepção do fenômeno numa atitude do observador.
A Redução
eidética, onde a percepção do fenômeno se reduz ainda mais a seus elementos
mais essenciais, para compreender sua existência dentro do contexto e suas
singularidades.
E a Redução
fenomenológica transcendental, onde o fenômeno ainda se reduz a uma forma
de abstração pura e universal, que leva ao conhecimento puro do fenômeno, nas
suas características essenciais.
É justamente esta complexidade a
que exige de quem se utiliza deste método, muito treino, muita prática e um
conhecimento profundo tanto do método, como de si mesmo. Chegar a
uma atitude fenomenológica efetiva para uma investigação fenomenológica,
necessita do conhecimento mais difícil, que é o conhecimento de si,
simplesmente porque a nossa estrutura psíquica pode parecer-nos estável e
resolvida, sendo realmente funcional, mas guardando na “sombra” do inconsciente
elementos que nos fragilizam[ii];
aspectos da nossa experiencia de vida que interferem na administração das
nossas emoções, ou mesmo traumas e emaranhamentos que aguardam por resoluções
em nós, e que podem ter similitude ou identidade com o fenômeno observado.
As críticas
No entanto, para outros filósofos,
resulta difícil admitir que podemos nos manter isolados, mesmo perante da
esmerada dedicação do observador, de todo e qualquer conhecimento, imagem ou intenção
que possa de alguma forma desviar a atenção daquela “consciência pura do
fenômeno”[iii]
... Pelo tanto admitem uma margem de erro no primeiro passo da redução
fenomenológica, que é a Redução Psicológica.
Como foi mencionado anteriormente,
seriam necessários muito treino e muita disciplina para “emparedar”
conhecimentos prévios ou “botar entre parênteses” qualquer conhecimento
anterior. Isto, pela própria natureza das nossas funções mentais. Como já
dizemos, é através dos órgãos dos sentidos que entramos em contato com estas
informações e estas informações chegam através deles ao nosso cérebro. Somos
treinados desde sempre para elaborar pensamentos e ordenar informações em base
a padrões culturais, sociais, religiosos, inclusive, chegando ao extremo de completar
com imagens e sequências não reais experiencias complexas ou mal percebidas
que, em definitivas, farão da nossa experiencia real, algo mais fácil de
compreender. Todo isto age como uma grossa lente que deforma (ou dá forma) as
nossas percepções, que nem sempre se correspondem com o objeto que se mostra.
Tanto que pessoas diferentes, com ou sem o rigor da observação fenomenológica,
invariavelmente possuem interpretações diferentes dos mesmos fenômenos, porque
é mais fácil e rápido para cada indivíduo, compreender sua realidade em base a
seus conhecimentos e a suas experiencias anteriores, os que estão impregnados
de intencionalidade.
Podemos dizer então, que o método
fenomenológico possui certas e desafiantes dificuldades na hora de ser aplicado
pero pesquisador. E estas “dificuldades” não são apontadas por mim, mero
estudante, e sim por vários filósofos, fenomenologistas ou não. Ainda assim,
muitos reconhecem o valor da redução fenomenológica como recurso lógico
essencial no acercamento das ciências empíricas e a significação subjetiva.
Da Fenomenologia “de rigor”, à
abordagem fenomenológica nas Constelações Familiares
Mas, veja bem, nas últimas linhas
estamos falando da fenomenologia como uma “ciência de rigor”, dentro de um
conhecimento que pretende dar um carácter de universalidade à investigação
filosófica.
Mais, temos que falar diretamente
do que acontece nas Constelações Familiares.
A redução fenomenológica de Husserl, para as constelações familiares, é condição “sine qua non”. É dizer, sem redução fenomenológica o facilitador não teria condição alguma de ser um ajudante real na procura de soluções verdadeiras.
Não teria, porque estaria flutuando na sua própria visão do mundo, se desviando por convencionalismos e ideias limitantes de todo tipo e, através da subjetividade, se perdendo no risco iminente de aceitar para si mesmo e de bom grado, as contratransfências que deveria evitar.
Nas Constelações Familiares e
especialmente para o Facilitador, a Redução Fenomenológica acaba por ser (ou
deveria) uma atitude de vida, presente no dia a dia. Mas na hora de
“estabelecer” o “campo” onde se irá constelar, a imprescindível redução
fenomenológica se amplia e finca como única atitude através do chamado centramento.
Centramento e o mecanismo pelo
qual através da Redução Psicológica chegamos ao “marco 0” que é a percepção do
fenômeno. É a preparação para que o trabalho da constelação seja possível.
Como já repetimos muito, o
trabalho nas Constelações Familiares não é um método científico ordenado ou
sujeito a qualquer tentativa de formatação. Possui uma estruturação mínima e um
enorme arcabouço de conhecimentos teórico práticos, exprimidos dos resultados
da prática de Constelar, que se aplicam a cada caso que sempre é único. Mas
nenhum daqueles conhecimentos teórico-práticos surgem ou se ajustam aos métodos
científicos de dedução ou de indução. Na realidade as Constelações Familiares
se afastam do método científico e, se de alguma forma se aproxima-se dele,
perderia seu sentido. Assim, há muita teoria a ser aprendida e observada
naturalmente dentro da prática das constelações Familiares, mas na hora de
abrir um campo, de iniciar uma Constelação a regra é sempre simples e
fenomenológica: “Menos e mais”.
Estamos falando de uma atitude
fenomenológica que se abre à percepção do Fenômeno (neste caso pode ser o
sistema do consulente) através da experiencia da consciência desprovida de
intenção, até sinais objetivos ou subjetivos que conduzam, passo a passo à
compreensão de singularidades que evidenciem o que está oculto. E veja, que já não estamos falando de uma
“ciência de rigor” para a universalidade da investigação filosófica.
Já não falamos do método
Fenomenológico e sim de uma atitude fenomenológica a partir da redução
psicológica, que não se atem a todas às características rigorosas do método,
mas, permite através da percepção imediata e de insights intuitivos, verificar
os relacionamentos humanos e suas derivações (consequências) dentro dos
sistemas de pertencimento de que se trate.
A explicação filosófica do Homem e
das suas circunstâncias, dentro da visão das constelações familiares, não existe
fora da filosofia sistêmica de Bert Hellinger, pois esta leva ao extremo a
neutralidade ao se tratar de aquilo que se considera certo ou errado; bom o
ruim, dentro de outras características únicas.
É um exercício de percepção dentro
de uma mistura de humanismo, existencialismo e fenomenologia, e ainda dentro de
uma perspectiva transgeracional que regula todas as conceptualizações. Por
tanto, seu objeto de estudo é muito específico
Essa perspectiva transgeracional,
só é possível na medida em que nos permitimos aceitar que as famílias ou grupos
específicos de pessoas se desenvolvem e crescem conformando um sistema
complexo, que se corresponde com a teoria dos sistemas, com seus níveis de
complexidade me suas características emergentes. E como tal, é autopoiético, ou
seja, capaz de reproduzir-se a si mesmos. Esta ideia pertence aos biólogos e
filósofos Maturana e Varela, e surge inicialmente na tentativa de compreender e
definir o que caracteriza a vida. Só que esta nova forma de conceptualizar a
vida se expandiu rapidamente chegando até as ciências sociais.
Esta nova forma de ver a vida,
contribuiu para o avanço da compreensão da vida e dos sistemas sociais de uma
forma não analítica tradicional, segundo o método científico, onde se analisa
um sistema através da redução aos seus elementos e sim através da forma em que
seus elementos se relacionam.
Assim, a complexidade de um
sistema familiar como objeto de estudo, não pode se desenhar numa folha
quadriculada, e, o método fenomenológico no caso das Constelações Familiares
não chega as essencialidades do relacionamento familiar e sim se transforma
numa trilha onde cada passo conduz a um novo nível de compreensão da
singularidade e do dissonante. Ou seja, que existe um mapa do geral e da
harmonia preestabelecido (que inclui a possibilidade de interações
transgeracionais). A cada passo se deixa de lado aquilo que não ressoa de forma
clara e forte e, avançando passo a passo, através de uma percepção intuitiva (aquela
que Husserl chama de Intuição Essencial), se flui até chegarmos à singularidade
que define o inviável, ou o chamado conflito ou emaranhamento.
Podemos dizer que é fácil chegar à
conclusão, que o objeto de estudo não é o consulente, o indivíduo, e sim o
sistema familiar e mais exatamente, o sistema familiar estendido a todos os
componentes do campo familiar que inclui várias gerações, e vários outros
indivíduos que de uma forma ou outra ingressaram a esse sistema. As
constelações Familiares trabalham sobre fatos, eventos, traumas etc., e
fundamentalmente sobre as características emergentes de cada indivíduo, de cada
relacionamento específico até chegar ao fervilhante “caos” das características
emergentes de todo o campo, transvestidas de exclusões, segredos,
intolerâncias, complexos de agressor-vítima, sacrifícios, autossabotagens etc.
Mas claramente ainda, podemos
dizer que o objetivo da Fenomenologia de rigor é a procura da essencialidade
através da redução fenomenológica e o objetivo das Constelações Familiares
através da postura fenomenológica é chegar à percepção dos conflitos e
emaranhamentos.
Quando o método fenomenológico
aborda sistemas vivos complexos, autopoiéticos e dinâmicos em relação ao meio
ambiente (ou vice-versa), sujeitos a uma causalidade circular e a uma
inter-relacionalidade transgeracional e por sua vez, modelados pela ressonância
morfogênica, o tempo necessário para sua realização é muito grande e
trabalhoso. Porém, por se tratar (as Constelações Familiares) de uma terapia
breve (minutos, horas) que possui em seu momento de realização uma intensidade
e conexão que cresce até certo ponto, até o auge do que aceitamos como aquilo
que nos é permitido perceber, e depois decai[iv],
as informações iniciais sujeitas à suspensão de julgamento, dão começo a um
movimento que, sendo fenomenológico, nos conduz a informações que dentro do
centramento, vamos aceitando como válidas na construção de uma imagem de
solução, que, necessariamente deve satisfazer ao sistema como um todo.
Como se pode ver, nas Constelações
Familiares o método fenomenológico a rigor não se aplica para o conhecimento
essencial do fenômeno, pois, de jeito nenhum é esse o objetivo das
Constelações. Mas, nos valemos de sua abordagem, para reconhecer o que está em
desarmonia ou desequilíbrio, assim como para trazer à percepção aquilo que está
faltando, para a reintegração e reequilíbrio do sistema a partir e para o
consulente.
O papel do Centramento ou
Redução Psicológica na abordagem fenomenológica nas Constelações Familiares
Dizíamos que o facilitador
necessita do centramento. Do seu, do centramento do consulente e do centramento
dos participantes, quando se trata de uma constelação grupal, para começar seu
trabalho.
No centramento aprendemos a nos
esvaziar; a retirar pensamentos, tensões e apreensões que possam nos afastar ou
meramente deformar nossa percepção da realidade e assim voltar ao nosso centro
vazio, desde onde interagiremos com o nosso consulente. Trata-se de silenciar a
mente e dissolver emoções e pensamentos, fundamentalmente, aqueles que mais
diretamente se relacionam com o grande campo dos relacionamentos humanos. Mas
também, é uma instancia onde cada um, e especialmente o facilitador, se
recompõe das circunstâncias, indo, na medida em que se esvazia, a seu próprio e
único lugar, confirma seu assentimento e reforça sua conexão com a sua força
original e ancestral, se colocando à disposição.
Agora bem. Apesar de parecer um
processo complexo, o centramento e a redução psicológica é condição para a
prática…e é possível. Se pode até resumir simplificadamente no exercício de
direcionar nossa atenção primeiramente à mecânica do nosso trabalho,
conhecida e amplamente estudada para depois dar um passo ao desconhecido,
saindo do papel de quem tem conhecimento e prática nas constelações familiares
ao papel do “observador da montanha”, como nos falava Osho ao nos
ensinar a meditação.
Após o centramento, a informação
virá através dos sentidos, da intuição sem intenção e da atenção fina e
específica, passo a passo, livre de preconceitos e de emoções em relação ao
fenômeno observado. Requer prática e a prática “faz ao monge”.
A forma em que se relacionam todos
os elementos de uma constelação é complexa e única para cada caso, e, a prática
das Constelações Familiares e seus resultados, oferecem elementos de juízo
suficientes para observar que o facilitador consegue atingir um centramento
efetivo, como redução fenomenológica, para realizar seu trabalho. Na realidade
somos treinados para isso, independentemente de que para uns, resulte mais
fácil que para outros; independentemente de que para alguns de nós, os motivos
pelos quais estamos a serviço da nossa ancestralidade, enevoem e deixem ao
descoberto elementos que não obedeçam ao centramento. É um processo dinâmico
pelo qual aprendemos, nos curamos e evoluímos… já que cada constelação
realizada traz harmonização e crescimento para o consulente, para os
participantes e para o facilitador[v].
De alguma forma podemos dizer que
no processo de centramento, o facilitador realiza uma redução fenomenológica
possível, suficiente e acumulativa.
A brecha que se abre dentre a
fenomenologia de rigor e a abordagem fenomenológica do constelador
Como dizemos, o objetivo da Fenomenologia
de rigor é a procura da essencialidade através da redução fenomenológica e o
objetivo das Constelações Familiares através da postura fenomenológica é chegar
à percepção dos conflitos e emaranhamentos. A fenomenologia aparece nos dois
casos. Em um como Método de conhecimento e outro como atitude, como uma forma
no convencional de abordar nosso objeto de estudo. Em um o que se procura é a
informação pura que emana do objeto. No outro, o que importa, é deixar a vista
aquilo que impede o fluir da energia do sistema, a partir dos seus próprios
sintomas ocultos no desequilíbrio relacional.
O Método de Husserl por um lado, e
por outro a aplicação do Método de Husserl, do único jeito possível, nas Constelações
Familiares.
Esta brecha que parece surgir na
aplicação da fenomenologia, num primeiro momento, dá a impressão de identificar
uma certa “superficialidade” na abordagem fenomenológica do facilitador, ao não
ir fundo no conhecimento das características puras do fenômeno, mas, mesmo
assim, ele vai até a essencialidade no que se refere a seu objeto de estudo.
Não é mais que uma brecha aparente. Não podemos esquecer, que na filosofia
sistêmica de Bert Hellinger não se procura esmiuçar os fatos até sua explicação
última. As características de cada indivíduo, sua construção psíquica, a
explicação última dos seus comportamentos, emoções ou traumas, a categorização
da suas patologias, e até a própria estruturação de uma família, são assuntos
de outras disciplinas. Não seria uma terapia breve se fosse de outra forma.
Nas constelações Familiares tudo
gira em torno dos fatos e consequências que surgem dentro da complexa rede de
inter-relacionamentos existente dentro de um determinado sistema familiar e não
da explicação desses fatos e dessas consequências.
Não há sentido em comparar a
quantidade de informação e sim, a informação dentro do seu contexto, e o
facilitador na sua atitude fenomenológica chegará ao essencial e à não
perceptível por outros métodos que não são os racionais.
A abordagem da vida através de uma
atitude fenomenológica e ainda dentro de uma concepção sistêmica, é uma prática
antiga que se evidencia na literatura das Constelações Familiares, nas várias
menções do Sr. Bert Hellinger ao Patriarca Taoista Mestre Lao Tze, que no livro
“Tao Te Ching: O Livro do caminho e da virtude”, ensina da forma que só um
Mestre poderia ensinar, através de 81 poemas, a união com a natureza como o
caminho que conduz a virtude e a superação da dualidade como maior expectativa
evolutiva. É isto, se realizaria através do desapego, da ação através da não
ação e dos ensinamentos sem intensão, através da não palavra.
Não seria esta, a “mãe” das atitudes
Fenomenológicas?
Muita luz a todos
Um forte abraço!
[i]
Epoché fenomenológica implica a "contemplação desinteressada"; livre
de quaisquer interesses naturais ou psicológicos na existência. Em outras
palavras, a suspensão de juízo fenomenológica se abstém de emitir juízos.
[ii]
Os que chamamos de “pontos cegos” nas Constelações Familiares.
[iii]
Lao Tze Fala nos primeiros versos do “Tao te Ching” da necessidade da ação
através da não-ação e da necessidade de eliminar o apego, que é básico na
prática do que se conhece como redução fenomenológica.
[iv]
As novas constelações exigem o respeito dos limites sistêmicos das intenções de
percepção.
[v]
Como acontece no Reiki. A energia é canalizada pelo Reikista e passa primeiro
por ele. Assim aquilo que está para ser ordenado dentro do Constelador, se de
alguma forma está presente no campo do consulente, fará seu trabalho também no
Constelador.
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