p. Daniel Héctor Della Valle Cauci
Este conceito, seja defendido pela filosofia ou pela
religião, pela moral ou pelo direito, se entende como a capacidade de
escolha autónoma, segundo a nossa própria vontade. Significa que posso
escolher entre uma opção e outra, por exemplo, entre o bem e o mal,
independentemente de qualquer coisa e em qualquer momento.
Ter ou não ter liberdade, é uma das primeiras coisas que
apreendemos em filosofia. “Liberdade e determinismo”.
No entanto, não é o nosso intuito trazer a discussão ou a
reflexão ao campo filosófico e sim para uma área muito mais prática, que é a
vida.
Também não pretendo achar a unanimidade no entendimento
deste conceito. Só convido a reflexionar e a observar o que acontece após
usarmos ou não a confiança de termos a autonomia que nos daria o livre
arbítrio.
Entre tanto é muito bonito dizer aos quatro ventos que temos
e fazemos uso do livre arbítrio, e serve para ressaltar nossas qualidades
morais assim como para reafirmar nossa adesão ao divino... O fato de termos a
possibilidade de exercer o livre arbítrio nos soma a estatura de quem tem a
fortaleza de ser adulto e capaz de conduzir sua própria vida...e isso é muito
forte! Melhora a nossa autoestima!
O fato de Termos ou não livre arbítrio, é e um tema
discutido faz tempo... mas sem dúvidas é uma grande frase de efeito!
O livre arbítrio, fazendo ênfase na palavra ‘livre’ é uma
ilusão, e uma ilusão que nos conduz corriqueiramente a equívocos enormes e
custosos pelos seus efeitos, já que nossas escolhas podem ser influenciadas por
uma série de fatores, como predisposições genéticas, experiências passadas,
ambiente social, processos inconscientes e até neuroquímicos.
Entre tanto, podemos pensar no livre arbítrio como uma
metáfora, para indicar a opção por um pensamento criativo ou fora da caixa.
Ter livre arbítrio não significa termos toda essa autonomia
de escolha, como se fôssemos Seres superiores ou deuses.
Ter livre arbítrio pode se compreender como a capacidade de tomar decisões tendo como base um conjunto complexo de informações conscientes e inconscientes que moldam nossa percepção da realidade.
Assim, podemos dizer “metaforicamente” que temos livre
arbítrio, ainda que seria mais exato dizer, que temos a possibilidade de
escolha em base a premissas e princípios que já existem em nós.
A perspectiva teológica desempenha um papel significativo no
debate sobre a existência do livre-arbítrio, especialmente em tradições
religiosas que enfatizam a responsabilidade moral e a relação entre a
humanidade e o divino. E Isto se observa em todas as vertentes teológicas
possíveis. Em alguns casos com mais ênfase na predestinação e outras na escolha
“livre” humana pelo seu destino.
E não é a nossa intenção contradizer o que sua convicção
religiosa lhe dita.
Vejamos.
Deus nos deu o livre arbítrio.
Isto significa que podemos decidir e então arcar com as
consequências.
Esta afirmação e correta para quem tem fé religiosa e até
para que não a tem, mas respeita integralmente a escolha dos outros. Seja como
for, cada pessoa possui suas razões (causas).
Mas, neste caso exercer o livre arbítrio, supõe viver uma
consciência religiosa que não é só ter fé. Isto seria simplificar de mais uma
longa história com um enorme significado.
Viver uma consciência religiosa supõe estar integrado a
algo maior, é ter responsabilidade, o conhecimento e o autoconhecimento que
essa consciência maior outorga. Supõe ter a capacidade de compreender a
realidade como ela realmente é, e de sintetizar a nossa experiencia para
definir, através de algo parecido ao livre arbítrio (que pessoalmente chamo de
“poder de decisão criativa”), as ações a tomar, o caminho a seguir, as palavras
a dizer, e os pensamentos e emoções a experimentar. Este “poder de decisão criativa”
é algo parecido ao Livre arbítrio. E é na prática o que chamamos genericamente
de livre arbítrio, da mesma forma que chamamos ao céu de azul ou o amor de
grande dentro de expressões semânticas.
Sem esta compreensão predominantemente holística, sem esta
consciência tão abrangente, o livre arbítrio que já não é totalmente livre, se
afasta cada vez mais da possibilidade de ser compreendido como a eventualidade
de ter e exercer uma liberdade absoluta, sem cair numa simplificação rasa e
absurda que pode nos induzir a erros garrafais.
A liberdade de escolha supõe um vazio anterior. Vazio anterior que nem o recém nascido
possui. Ou, supõe que o indivíduo possui a capacidade de deixar para atrás, sua
construção psíquica, sua consciência individual e coletiva, todo o ideário
moral e ético, as regras e experiencias que o fazem ser quem ele é, e isto
quase se conseguiria, em um grão extremo de sabedoria e de equilíbrio, ou,
sendo um santo ou um buda.
Por outro lado, fazer uso integral do livre arbítrio nos
outorga a possibilidade de escapar a um dos princípios universais da lógica
mais importantes, que é a de CAUSA E
EFEITO, ou como acontece na visão sistêmica, A LEI DE CAUSALIDADE CIRCULAR.
Se consigo este
feito, ou seja, fazer minhas escolhas livremente, realmente livres, obviamente
gerando consequências, seria como CRIAR
uma nova e diferente linha do tempo, uma nova história, que só se conseguiria
pela graça de um passe de mágica ou de uma “varinha de condão".
Exercer o livre arbítrio não é decidir sem outros
parâmetros, do nada... e sim eleger dentre opções pré-estabelecidas, sejam
estas conscientes ou inconscientes. Tanto filosófica como religiosamente.
Em todo caso, podemos pensar no livre arbítrio como a
possibilidade de fazer escolhas criativas, mas, a partir de um certo contexto
histórico. O melhor ainda, podemos pensar no livre arbítrio como um
comportamento emergente dos subsistemas dentro dos sistemas...
Em todo caso, é uma questão de semântica.
Acreditar que podemos exercer o livre arbítrio, para nós,
simples mortais em crescimento e evolução, pode ser, ou melhor é, uma atitude produto
da desinformação!
Ressignifiquemos!
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