p. Daniel Héctor Della Valle Cauci
Ainda que
pareça sutileza de mais para algumas pessoas, a autopercepção faz parte dos
processos que nos permitem a estruturação da nossa psique, assim como a “manutenção”
para mencionar, de alguma maneira, a sua constante remodelação, em pro da adaptabilidade,
e em relação a tudo o que nos rodeia e faz a nossa realidade.
Literalmente
autopercepção é a percepção de si mesmo.
Mas, não se
trata exatamente de como é que a gente se vê fisicamente, que seria o que se
denomina de autoconceito, e sim de como cada pessoa percebe suas ideias,
suas atitudes, seus pensamentos e emoções segundo é seu comportamento, assim
como o faria uma outra pessoa, desde fora de nós.
Mas, na
correria do dia a dia, e fomentado pela repetição de padrões de comportamentos
negativos, não é observado nem tido em conta pela maioria de nós.
Em vez de nos
autoperceber, preferimos pular o fato de ter que observar, e, ao mesmo tempo
reflexionar e apreender de nós mesmos, fundamentalmente, se como resultado
dessa reflexão, teríamos obviamente que deixar para atrás comportamentos e
pensamentos que até agora, deram certo... “resultado”, ainda que este seja um
resultado ineficiente em termos de responsabilidade, ainda que seja um
resultado egoísta e para nada fraterno.
Estamos
falando... de um resultado que se alcança pela transgressão as comprovadas leis
universais que regem as inter-relações humanas, provocando, a partir da nossa
inconsciência ou falta de informação, uma enxurrada de novos desequilíbrios e
de novos conflitos.
É só prestar
atenção ao que sucede ao nosso redor.
Pessoalmente
acho que a autopercepção é um passo prévio na consolidação do autoconhecimento,
que é essencial para agir dentro do grupo familiar e na sociedade com
responsabilidade, e, agregamos que se trata de uma responsabilidade sistêmica,
e não simplesmente de uma responsabilidade pequena ou circunstancial, referida
a só um dos aspectos da nossa vida.
Não se trata de
responsabilidades isoladas, por exemplo, para com os nossos pais ou para com os
nossos filhos, esquecendo das outras áreas da nossa realidade, compreendidas aparentemente
como menos importantes ou menos fundamentais. Na realidade a vida acontece de
uma vez.
Desde o nosso
lugar de pertencimento, ou seja, desde o único lugar da rede de inter-relacionamentos
que possuímos para existir em equilíbrio e sem gerar consequências negativas,
podemos e devemos observar com responsabilidade sistêmica o nosso agir e o
nosso pensar, para não gerar na consciência familiar nem na consciência de grupo
dos sistemas aos quais pertencemos, a necessidade de gerar dinâmicas de solução
e de reequilíbrio.
Vale dizer que
o nível de autoconhecimento de cada indivíduo vá a determinar sua eficiência na
integração da sua inteligência emocional, contribuirá com a sua autoconfiança e
seu autocontrole, dentro outras coisas, assim como para agir equilibradamente
em todas as áreas de interação social.
A
autopercepção, dentre tanto, é um movimento alternado e complexo, na constante
observação de quem somos e como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor.
É necessário
prestar atenção a como é que esse movimento acontece, pois da mesma maneira que
uma autopercepção positiva nos conduz a formas superiores e mais evoluídas de
ser, uma autopercepção negativa, equivocada, desviada do que seria uma
inter-relação apropriada com a realidade, pode nos levar à dissonância
cognitiva, e entrar numa espiral de confusões que só nos afastam drasticamente
do nosso lugar e prejudica o futuro das pessoas que amamos.
A consciência
de quem e como somos, se adquire aos poucos, na medida em que apreendemos a
vida, mediante pequenos, ou mesmo grandes insights.
Estes insights
são os momentos em que ocorre mais facilmente a autopercepção, ainda que seja
absolutamente possível chegar a autopercepção de outras formas, como através de
um processo lógico de dedução.
Por estes
motivos e mais, fica evidente que a autopercepção é importantíssima para a
estruturação do nossa personalidade e na eficiência responsável do nosso
comportamento.
Podemos
abreviar de alguma forma toda a nossa conversação, dizendo para quem já possui
um olhar sistêmico, que a autopercepção é determinante para chegar a uma boa
harmonização do adulto em nós, o que fará possível e viável, seja de uma ou de
outra forma, o resto do nosso crescimento pessoal, equilibradamente, dentro das
inter-relações nas quais nos inserimos.
Para que tudo
isto venha a acontecer, é de se esperar um nível saudável de autopercepção, sem
nada que force esse processo.
A procura de
uma autopercepção constante, absoluta, é sempre uma utopia, justamente pela
dinâmica proposta pela complexidade da vida dentro dos sistemas sociais aos que
pertencemos e aos desafios que esta nos antepõe.
Assim, o
esforço da autopercepção e do autoconhecimento, de forma exclusiva e
excludente, em geral, não contribui com o propósito original de crescimento e
deixa tudo sujeito ao racional, fazendo do “esforço da percepção”, uma tarefa
infrutuosa. Ela deve fluir sempre em relação à capacidade pessoal de cada
pessoa e a suas circunstancias.
Mas, a
autopercepção, como já mencionamos, é dinâmica, complexa e cheia de becos sem
saída. É um processo cheio de curvas e de falsos atalhos.
É fácil se
perceber de tal o qual jeito, seguindo os caminhos dos sistemas de crenças, dos
scripts que em algum momento nos impusemos, para supostamente encaixarmos na
obra maior da qual somos meros atores.
A
autopercepção pode ser de tal o qual jeito, segundo as necessidades menores do
nosso ego, segundo o apreendido dos nossos maiores na primeira infância, e
dependendo do papel a que fomos chamados dentro do nosso lar, na escola, no
trabalho, ... na vida.
Podemos nos
perceber como quem deve resolver os problemas da família e inclusive, essa
percepção ser absolutamente sincera.
Podemos nos
perceber como alguém injustiçado física ou emocionalmente, desvalorizando-nos,
dissolvendo, como punição desnecessária, um a um os laços afetivos dos quais
recebemos a verdadeira força vital…
Às vezes, o
que acreditamos seja a nossa autopercepção, não é outra coisa que a dissonância
cognitiva à que antes fazíamos referência, que é quando procuramos razões
coerentes para justificar os nossos pensamentos e ações, ainda que estes não
estejam correlacionados com a realidade.
A
autopercepção, quando real, como um processo profundo e gradativo de tomada de
consciência de si mesmo, é o que nos dá acesso a uma das condições “sine qua
non” para agir de forma positiva dentro dos nossos sistemas, através da
inteligência sistêmica, definindo com absoluta clareza o nosso lugar de
pertencimento, e o possível e saudável alcance das nossas ações, dentro das
leis sistêmicas.
Se partimos de
uma ideia errada de quem somos, e, portanto, de qual é o nosso papel, por
exemplo na relação conjugal, na educação dos filhos, do nosso papel na
sociedade etc., pouco ou nada poderemos contribuir para adequarmos a realidade,
no fortalecimento do nosso lar e nos cuidados das pessoas a quem amamos. Menos
ainda em relação ao resto da sociedade.
Se perceber,
através da autopercepção, é descobrir e potencializar uma das características
mais importantes como seres em crescimento, que é a nossa plasticidade, e por
tanto, a nossa capacidade de adaptação.
Podemos
considerar à autopercepção como cada pequeno passo consciente que vai modelando
o adulto em nós; do adulto em equilíbrio, do qual nos falava Eric Berne.
Sem ter uma
boa autopercepção de nós mesmos, não poderemos contribuir com qualidade, no
crescimento e evolução dos nossos sistemas de pertencimento, principalmente o
familiar.
Bem.
O processo de autopercepção envolve a
compreensão e a consciência que uma pessoa tem de si mesma, incluindo seus
pensamentos, sentimentos, características pessoais, crenças, valores e
identidade. É um aspecto fundamental do desenvolvimento pessoal e da psicologia
humana. Isto, se observamos à pessoa isoladamente.
Porém, desde o
nosso ponto de vista, que é teimoso no fato de observar a cada quem dentro dos
seus sistemas, envolve também a compreensão e consciência de si mesmo em
relação as duas grandes linhagens familiares que nos precedem: a linhagem da
mãe e a linhagem do pai.
Todos esses
aportes ancestrais determinam que não exista nas nossas experiencias de vida, um
pensamento uniforme, um único sentimento, uma única forma de ver e sentir a
vida, e sim, características que se adaptam à necessidades de pertencimento de
cada grupo, às suas crenças e princípios, a seus valores, que podem ser até
contraditórios, emascarando quem somos, aquela parte real de nós que está para
ser percebida, e que fica escondida por uma identidade confusa.
Finalmente podemos
ver como a autopercepção age como um facho de luz intermitente que quando liga,
nos permite recalibrar a direção de nosso pensar e agir, na direção do que é
certo e apropriado segundo uma consciência superior, em direção à essência da nossa
existência espiritual ou quântica, como se queira denominar.
Lembremos que Bert
Hellinger falava de três consciências: a pessoal, a do grupo e a superior,
sendo que esta última é um lugar comum de quem faz bem sua tarefa de vida, seja
ela qual for, ... mantendo seus pensamentos e ações acordes a uma evolução onde
todos somos iguais e insubstituíveis.
Um abraço a
todos
Muita luz
Até
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