p. Daniel H Della Valle Cauci
UMA OUTRA FORMA DE OLHAR PARA OS PROBLEMAS DE SAÚDE
Desde que nascemos, nascemos em busca de um equilíbrio vital.
Muitas circunstâncias e processos devem agir simultaneamente
para termos saúde, e mesmo assim, apesar de adversidades e conflitos, o nosso
organismo, na sua sabedoria intrínseca, vá atrás do equilíbrio e em geral o
consegue.
Desde este ângulo, pode ser que “equilíbrio” seja a mais
verdadeira e ampla definição de saúde, inclusive deixando para atrás a irreal pretensão
de enumerar todas as áreas que teríamos que equilibrar para ter saúde,
justamente, por ser este conceito de natureza dinâmica e complexa. Ao tentarmos
definir cientificamente fazemos da saúde um conceito utópico.
Outro motivo que dificulta a tarefa de reduzir o
multifacético conceito “saúde”, é pelo fato de que o conhecimento não é produto
exclusivo da dedução ou da indução.
O conhecimento se desenvolve constantemente e nem sempre de
forma programada, abrindo pequenas janelas ou até grandes portais para a nossa
mente em cada novo campo de estudo, criando novas fronteiras, novas formas de
ver e de compreender que mais tarde se transformarão nos novos paradigmas,
sempre à sombra de novos desafios, e, desta forma, nos conduzindo
multidirecionalmente a uma compreensão cada vez maior do nosso universo.
O que hoje parece uma verdade irrefutável, amanhã pode não o
ser.
O que hoje parece ser uma proposta incoerente, amanhã poderá
ser a chave da compreensão de algo maior. Como aconteceu nos primórdios da física
quântica ou com a aceitação das doenças psicossomáticas por parte da Medicina.
Ter saúde é estar em equilíbrio funcional, ou seja, que com o nosso organismo nas suas melhores condições possíveis, respondendo às necessidades de independência e de interação efetiva, o nosso organismo faz parte efetiva e equilibrada[i], não limitada nem limitante da realidade, nem DAS interações pessoais, nem das interações com o meio ou consigo mesmo.
Viver..., existir em equilíbrio, não entanto, nos
apresentará desafios, que, por sua vez, poderão ser simples ou complexos.
Estar em equilíbrio para um objeto simples, como uma cadeira
ou uma bola, é se manter estável, mas, quando falamos do equilíbrio, no nosso
caso como pessoas, ou no caso de outras estruturas biológicas, os parâmetros da
estabilidade e do equilíbrio serão bem diferentes.
E no caso de pessoas que fazem parte de sistemas, como por
exemplo, poderia ser a família, ou a empresa onde se trabalha ou a estrutura
social à qual se pertence, sem dúvidas, os vectores que ajudarão a definir o
equilíbrio serão muitos mais e sem dúvidas, muito mais complexos.
Pode ser que seja essa a causa de que até agora tenha sido
tão difícil definir a saúde corretamente, pois esta existe e se define para
nós, de tal forma que se amplia e aprofunda em cada uma das formas nas quais
existimos, e ainda, esse consenso é fácil para alguns e impensável para outros.
Bem. Mas a maneira em que o homem tem compreendido a saúde
através da história tem mudado muito. Desde a explicação Mágico-religiosa dos
Egípcios até a aceitação da saúde como um problema social e coletivo bem no
começo do século XXI.
Todo essa mudança tem acompanhado a história da humanidade e
seus avanços sociais, científicos e tecnológicos, gerando soluções teóricas e
práticas para problemas de saúde e para a qualidade de vida em geral.
Tem se gerado sim, soluções, porém, na prática nem tanto,
pois apesar de que as soluções estão aí, nem sempre estão ao alcance do ser
humano que as necessita.
Fora da crítica social que a questão merece, existem outros
limites que a prática na saúde sofre no atual momento histórico.
O principal deles, desde o ponto de vista da Naturologia,
numa visão holística, integral e sistêmica, é o modelo biomédico que responde a
uma forma enrijecida de ver o mundo, apesar de que grande parte da ciência já
tenha se “soltado” dessas amarras.
Em contrapartida, para a medicina, a observação do ser de
forma integral, holística, fora das regras do modelo científico como o são o
mecanicismo, o determinismo e o reducionismo, é um verdadeiro sacrilégio
dogmático, que, quase nem merece a atenção de nenhuma mente séria.
Da própria crise do cartesianismo surge a nova percepção do
mundo na visão holística, num processo que podemos situar historicamente em
meados do século XX, principalmente em ocidente, pois para grande parte da
humanidade, através dos conhecimentos tradições orientais como a Medicina
chinesa e o Ayurveda indiano, o paradigma cartesiano em termos de saúde, nunca
foi dominante.
Enfim..., a grande virada na forma em que percebíamos a
saúde foi no advento da visão holística, onde se considera ao indivíduo como um
todo, como uma unidade de múltiplas formas existenciais – corpo, mente,
espírito, energia... – e suas interações com o mundo, para investigar
responsavelmente as causas dos desequilíbrios (doença) e encontrar suas
possíveis soluções (cura).
Dentro desta nova forma de ver a saúde, a “doença” deixa de
ser uma avaria, um acidente, um acaso um mero erro de programação, como algo
que pode e deve ser manipulado como ente separado da nossa existência.
Sem negar os princípios da visão holística, surge quase
simultaneamente ao Holismo, a visão sistêmica. Ambas as formas de cosmovisão
interagem perfeitamente.
A primeira olhando para a globalidade, para o todo, sabendo
que a totalidade é bem diferente que a soma das suas partes.
A segunda, a visão da saúde sistêmica, que se expande desde
a Teoria Geral dos Sistemas, a partir de uma nova compreensão das dinâmicas relacionais
e organizacionais, em estruturas coesas de componentes inter-relacionados e
interdependentes de qualquer índole, simples ou complexas, olha para a saúde
prestando atenção não só para as questões biológicas.
A visão sistêmica aprofunda nesse sentido à visão holística,
reunindo multidisciplinarmente áreas de saber e ciências como filosofia,
física, sociologia, biologia, cibernética, matemática, psicologia e outras,
para perceber a saúde, como uma das possíveis consequências das inter-relações
desequilibradas, dentro da trama o rede de relacionamentos que se define no
sistema ao qual os indivíduos pertencem.
Basicamente a visão holística e a visão sistêmica da saúde
falam do mesmo sujeito, mas sistemicamente, se observa que para além das causas
orgânicas, muitos desequilíbrios, disfuncionalidades e doenças que o nosso
organismo sofre, possuem sua etiologia principalmente em dinâmicas
inconscientes e em comportamentos e sentimentos apreendidos ou herdados, os que
se manifestam primeiramente no campo energético, mental e emocional.
Tanto holística como sistemicamente se procuram as causas
originais dos desequilíbrios ou doenças, que geralmente estão nas existências
sutis das pessoas, sem priorizar o tratamento sintomático físico, que leva ao
alivio e não a resolução do conflito.
Mas na visão
sistêmica se presta especial atenção aos relacionamentos e as regras dinâmicas
(não dogmáticas) que as regem e as ordenam.
E que é o que isto significa na prática?
Significa que à organização global da nossa vida, através da
alimentação, do exercício, da recuperação funcional natural dos sistemas e
tecidos que possam estar afetados pelos mais diversos fatores, cuidando da
poluição, da sustentabilidade, da expansão da mente e do aprendizado nas nossas
emoções, de espaços sociais sadios etc., de tudo o que nos rodeia, desde o
ponto de vista sistêmico, toda essa leitura deveria ser realizada mas não somente
para o indivíduo em questão e sim para o indivíduo que ele realmente é,
incompreensível e inseparável fora do seu contexto e das circunstâncias
advindas do seu sistema familiar, e/ou de outros sistemas de pertencimento.
Ou seja, que, para atingir um estado de saúde holístico e
sistêmico, que é olhar para saúde de uma outra e nova forma de ver, não há como
olhar somente para aspectos biológicos e circunstanciais, não há como olhar
somente para as doenças, disfuncionalidades nem para o estresse físico, mental
ou emocional.
É necessário não só ampliar com novos conceitos, princípios
e características da antiga visão holística, mas também modificar a compreensão
do nosso objeto de estudo, DO SER, através de uma ressignificação ontológica,
onde o nosso objeto de estudo deixa de ser indivíduo, para passar a ser ele e
seu coletivo, com infinidade de elementos, ancestres, pautas, sistemas de
crenças, scripts, consciências e lealdades que o definem como um ser único e
complexo, e, ao mesmo tempo, o aprisionam na expectativas cega de poder e
de livre arbítrio que acredita poderá exercer
guiado pela sua “aguda e certeira visão da realidade” e uma “generosa dose de racionalidade”.
A partir de esta outra forma de ver a saúde e com o
indivíduo ressignificado numa dimensão muito mais profunda, É que poderemos
trabalhar terapeuticamente para obter resultados verdadeiramente
transformadores do ser como um todo, por cima da circunstancialidade e dentro
do seu contexto, através do fortalecimento sadio do pertencimento a seu sistema,
e com isso, reforçando a coesão, a funcionalidade e saúde do sistema todo.
Qualquer outra forma de encarar doenças e desequilíbrios,
trará resultados parciais, sejam estes biológicos ou históricos, principalmente
por deixar de fora à visão real do indivíduo, e com isto também, por perder a
origem da sua maior força vital.
[i]
Podemos mencionar como base desta compreensão e a maneira de exemplos, a Nova
Biologia de Lipton ou a Medicina Germânica do Dr. Hamer
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