p. Daniel Della Valle
Dizíamos
que a disfuncionalidade na relação Mãe/Filhos, começa sempre no amor...
estranho... Não é?
É
que há muitas formas que acreditamos sejam formas de amar.
Mas,
confundimos o amor com identificação, com possessão ou até com um laço que
amarra e submete.
O
amor na “versão popular livre” pode ser todo isso. Pode ser enamoramento,
paixão, arrebatamento… até uma simples qualificação para aquilo que para nós
possa ser muito importante… Nós, nas constelações familiares sistêmicas, o
compreendemos como algo bem maior; como a percepção do outro como um todo, como
compreensão, gratidão e assentimento por ser o que é… O amor além de um
sentimento maior, é o que nos permite observar o geral percebendo que esse tudo
se encaixa naturalmente no seu lugar, onde se realiza e flui na vida.
Ao
nascermos, como já dizemos, nascemos com o que chamamos um laço de destino com
os nossos pais e familiares diretos. Essa é a primeira forma de amor, que ainda
não é aquele amor espiritual. É um vínculo com aqueles que nos deram a vida e
com todos os indivíduos que de alguma forma contribuíram para ser quem sou e
onde sou. E esses laços de destino trazem para a criança influências e
consequências, já que ainda muito dependente, a criança segue por estes laços
os destinos dos maiores, principalmente dos pais, numa espécie de assentimento
e amor implícito.
Os
filhos procuram se parecer aos pais. Através de ver-se iguais aos pais, eles
se sentem verdadeiramente pertencentes a sua família e, se parecer, ser como
seus pais, inclui inevitavelmente ter que ver e experimentar a vida como eles.
Os pais são como eles são pois possuem uma grande coleção de informações e
experiências, e seu jeito de ser se fundamenta em experiências e sentimentos
que o filho não tem. Na tentativa de ser como seus pais, os filhos vivem a sua
vida com uma “caixa de ferramentas” que não se ajusta às necessidades destas
circunstâncias, deste contexto, e assim, se geram atritos, desajustes e
consequências.
Além de seguir seus pais e sua família nas
suas características, o observado na prática das Constelações Familiares é que:
… “o vínculo atua
de uma forma que aqueles que possuem alguma vantagem, queiram assemelhar-se a
aqueles que estão em desvantagem.” …
Isto
é o que nos diz Bert Hellinger no livro “O amor de espírito na Hellinger
Sciencia”.
… “Esse vínculo
atua de uma forma que os saudáveis sentem-se responsáveis pelos doentes, os
culpados, pelos inocentes, os felizes, pelos infelizes e os vivos, pelos
mortos. Assim, muitas vezes aqueles que têm alguma vantagem em relação a outros
estão dispostos a arriscar e renunciar à sua saúde, inocência, felicidade e sua
vida em favor da saúde, inocência, felicidade e da vida de outros.” …
Este
é o amor “cego”, que contribui para estabelecer os primeiros “laços” e gera
emaranhamentos na família e nos relacionamentos horizontais. Especialmente em
relação aos pais. Um vínculo de amor que obedece aos laços de destino que
chegam junto ao pertencimento sem que possamos opor muita resistência.
Nas
constelações se observa que o fato de que o consulente perceba esse vínculo de
amor, esse amor de criança, é, muitas vezes suficiente para compreender que
esse amor em realidade procurava um objetivo fantasioso e inalcançável, como é
viver pelo outro, sofrer pelo outro… se sacrificar pelo outro.
Sua
percepção faz que, o mesmo amor que conduziu ao desequilíbrio, agora conduz a
harmonização procurando novas soluções. Só que agora já não se trata de um amor
“cego”. Agora se trata de um amor inclusivo, com potencial como para promover
um movimento de cura e de harmonização.
E
de destacar que existe um salto qualitativo quando entramos no amor que cura,
pois antes, o amor era pesado, difícil e inconstante. Mas, no amor que cura, a
sensação é de que tudo se encaixa sem esforços; de que tudo é compreendido e de
que tudo é como deve ser. Nele, os conflitos perdem sua força e sentido.
O
amor, então, na dualidade do mundo manifesto, é um enorme portal que conduz à
experiência da vida. Com sabedoria, pode nos conduzir a algo maior, que
poderíamos chamar do “verdadeiro”. Como contraponto, se esse amor é clara ou
disfarçadamente um amor menor, ele não terá a virtude de ser uma referência de
estarmos no bom caminho da construção de um bom viver, e possivelmente,
oferecerá atalhos, que com sorte, nos conduzirão à sobrevivência e não à
plenitude. Pode ser um portal à disfuncionalidade, já que na relação Mãe/Filho,
há incontáveis emoções em jogo e vínculos, que obedecem diretamente ao destino
pelo pertencimento.
Mesmo
assim, o “amor” sempre está latente por trás destas dinâmicas relacionais
AS
MUITAS FORMAS DE AMOR
Há
muitas formas de amor agindo como laços ou vínculos, catalisando as relações
dentre Mãe/Filho assim como os demais relacionamentos dentro dos grupos
familiares ou clãs.
O
amor cego, o amor que adoece e o que cura, o amor interrompido, o amor
infantil, o amor adotado, o amor gratidão e mais. E algum destes “amores”,
dentro dos relacionamentos disfuncionais, agem “congelando-os”, “cristalizando-os”
ou dando suporte para sua sobrevida, apesar das separações e as discrepâncias,
represando energias e sentimentos em vez de exercer o verdadeiro papel do amor
“verdadeiro”, que seria o de evidenciar e diluir aquilo que diminui a
vitalidade e provoca conflitos.
As
muitas formas de lhe damos ao “amor” são sem dúvidas um prato cheio que convida
inebriantemente a nos sair do lugar, experimentando soluções não sistêmicas, e
pelo tanto ineficientes, para sentimentos e emoções que necessitam de uma justificação.
OUTRAS
FORMAS DE DISFUNCIONALIDADE
Já
quando crescemos e nós descobrimos como indivíduos, a disfuncionalidade pode
vir da mão de uma ou mais dentre as cinco formas de emaranhamento descritas por
Bert Hellinger:
Triangulação;
Parentificação; Identificação; Repetição e Substituição.
Todos
estes movimentos e laços familiares se desenvolvem dolorosamente, de forma
comum, silenciosa e invisível, sobre as bases e condições dos conflitos e
emaranhamentos que a consciência grupal necessita resolver. Todos estes
movimentos obedecem ao amor. E para que isto mude, os movimentos de cura,
que levam à solução dos emaranhamentos para os quais estamos a serviço,
requerem de uma tomada de consciência, crescimento e da disposição para uma
transformação, que leve à ruptura com aqueles sistemas de crenças e velhas
ordens sociais e familiares originais, justamente para que uma nova forma
de amor se torne protagonista. Um amor ciente, maior, ativo e inclusivo.
Mais
De
uma coisa podemos estar seguros. Os problemas e conflitos na relação
Pais/Filhos na realidade não são pessoais ainda que assim
se apresentem.
Sem
dúvidas as dores e as angústias que estes nos levam a sentir são fortes e
verdadeiras. Isso não se nega. Mas a razão da existência dessa dor, assim...
personalizada nos nossos pais ou nos nossos filhos é uma questão de cegueira
ao essencial. A dor existe porque só vemos o superficial numa relação que é
disfuncional, estando fora do contexto e em médio de relacionamentos familiares
desequilibrados. Se perde de vista o essencial, e assim, o que resta são regras
rígidas, arcaicas e pesadas A razão da dor é na realidade a ausência de soluções
verdadeiras aos problemas históricos e sistêmicos, que necessitam do essencial
para compreender e assumir o que cada um dos integrantes da relação Pais/Filhos
gerou ou carrega a serviço do seu campo familiar.
Bert
Hellinger diz, no livro “A SIMETRIA OCULTA DO AMOR”, (Cultrix-1998), que
“O amor entre
pais e filhos, como em outros relacionamentos, é condicionado pela união, pelo
dar e receber, pela divisão adequada de funções.”…
Desta
forma, não podemos deixar de ver, que na relação Pais/Filho se parte de uma
“disparidade”.
Dentre
Pais e Filhos não há igualdade. Pode haver amor, lealdade, união,
funcionalidade e respeito…, mas não igualdade. Pais e filhos somos iguais no
plano da espiritualidade, mas, aí onde acontecem as dinâmicas relacionais… não
somos iguais.
Veremos
mais de perto esta “desigualdade” no próximo post.
A
RELAÇÃO MÃE/FILHO (3)
Um
forte abraço a todos e muita luz!
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