p. DANIEL HÉCTOR DELLA VALLE CAUCI
oi Amigos...
Hoje iniciamos a conversação sobre um tema difícil para mim
e que necessitará de vários encontros, de várias conversações e até do retorno
dos consteladores amigos que nos assistem. Falaremos da relação MÃE/FILHA, especificamente
dentro dos relacionamentos familiares. Isto, por ser uma relação que possui
dinâmicas ocultas tão diferentes para cada família por um lado, e por outro,
por ser uma relação que se vê profundamente influenciada pelo entrave existente
entre a vigência das leis ou forças do amor e as necessidades e compensações das
consciências pessoal e familiar.
Todos os relacionamentos são diferentes. Cada caso é um
caso. Não há como discutir essa questão e muito menos ainda quando observamos
os diferentes relacionamentos dentro de uma família, relacionamentos cheios de
nuances e matizes, cheio de histórias e de suas interpretações...
E quando olhamos para a relação MÃE/FILHO, (para mais tarde
abordar mais diretamente a relação mãe/filha) poderemos conferir que não
necessariamente, por ser mais específica, será um relacionamento simples ou
fácil de compreender.
Não há como estereotipar este tipo de relação, nem temos
como estagnar estes relacionamentos em caixas ou gavetas de manual.
Mesmo assim, tentamos simplificar essa complexidade com
fórmulas do que deveria e do que não deveria ser, como se isso fosse possível.
Na vida real, a tentativa ingênua de dar uma forma polida e
uniforme a este tipo de relação, acaba por idealizá-la e com isto,
fragilizá-la, restringi-la, transformando-a num manancial de conflitos
sistêmicos familiares.
Sim. Pois... a imagem de uma mãe e de seu filho, induz a uma
ternura peculiar. No imaginário, pensar em uma mãe e seu filho, pode facilmente
se transformar em um arquétipo, onde o cuidado, a suavidade, a serenidade e a
proteção primam, a partir do aconchego e amor, característicos no arquétipo da
mãe; por ser esta fonte da vida, do mais precioso, e por ser o filho sua
continuidade, criado supostamente nos mesmos valores e parâmetros.
Tudo o que fuja a esta visão idealizada de relacionamento
mãe/filho, será facilmente julgado como fora do padrão, ou pelo menos criticado
e taxado como dissonante.
Porém, as características dos relacionamentos familiares são
tão diferentes para cada grupo, para cada geração, para cada cultura e para
cada condição socioeconômica, que esse modelo de relação mãe/filho,
dificilmente é ideal... Ele na realidade é dinâmico e imperfeito, e assim,
quando não chega perto do modelo arquetípico, resulta ser inaceitável para
muitos de nós; passível de ser criticado e julgado como falho, insensato ou
doentio, pela MÃE e filhos e por todo aquele disposto a dar sua opinião...
É não é que não o seja... muitas vezes o são, e induzem a
outros problemas, que por vezes são fonte de dor e sofrimento individual e
familiar, agindo como verdadeiros tumores dentro da sociedade.
Este tema é tão delicado e complicado que exige uma reflexão
profunda, e esta, pode ser perfeitamente auxiliada pela ciência dos
relacionamentos através da visão sistêmica.
Esta forma de ver a vida e os relacionamentos, ajuda a
definir roles, deveres, direitos, contextos e lugares para cada um de nós, e
será desde estes e dos nossos aprendizados que iremos interagir com os outros.
É dessa forma que a gente se constrói.
Sendo assim, poderemos determinar que tipo de relacionamento
se estabelecerá dentre uma mãe, com sua carga genética e suas consciências,
geralmente carregadas de informações e de ideias limitantes desde seu próprio
campo familiar, desajustadamente mais fortes e maiores que as regras
estabelecidas no seu matrimónio, e um filho que recebe toda essa informação
morfogênica materna, mais, toda a informação do campo familiar do seu pai.
Compreender os conflitos existentes no relacionamento
mãe/filho, só é possível se conhecemos e respeitamos as influências familiares
e sociais, verticais e horizontais na sua basta complexidade tanto da mãe como
do filho.
Está tarefa já é de pôr se, extremadamente difícil, mas
podemos decifrar suas dinâmicas nas constelações familiares.
Fora destas, sem o devido centramento, sem nos livrar das
transferências e das contratransferências, sem permanecer no nosso lugar e como
adultos, sem estar em um nível espiritual sem julgamentos, sem expectativas e
sem preconceitos, não teremos as condições mínimas de perceber as histórias
verdadeiras, que se escondem por detrás dos erros e dos desencontros no
relacionamento de mãe e filho os filha.
E assim, a esperada compreensão destes relacionamentos se dilui em um
fraco poder de crítica, e na única e frágil opção de optar por um dos lados do
conflito.
Sim... Optar por dar a razão e apoiar irrestritamente
é o que se espera de um bom amigo, ...jamais de um terapeuta. Nem de
alguém que aspire a contribuir no processo de resolução dos conflitos que posam
já estar deteriorando a afetividade e a saúde desse relacionamento.
A nossa forma de ver, o principal problema surge na hora de
atribuir responsabilidades ao desequilíbrio na relação mãe/filho, sobretudo à
luz das dicotomias do tipo... certo-errado, bom-ruim, desejável-indesejável...
e por aí vai.
Catalogar um acontecimento de certo ou errado, após um fato
acontecer não agrega nada à solução da questão. Só divide as águas; separa em
atitudes irreconciliáveis que, uma vez julgadas, desenham um mapa de
relacionamentos impossíveis e excludentes.
Temos que ver, que numa relação mãe/filha, achamos como em
uma grande engrenagem, muitos elementos. A começar por um forte vínculo direto
de amor e lealdade que exige muito, fundamentalmente da filha, que ainda
aprende sobre a vida e depende dos pais, principalmente da mãe, para sua
existência e desenvolvimento.
Sistemicamente temos que observar que existe uma força vital
que conduz ambos, nem sempre, na mesma direção. E essa força vital que conduz e
impulsiona, o faz inevitavelmente através de um terreno sinuoso cheio de
obstáculos e circunstâncias como o são: os vínculos sociais, as normas e
atitudes exigidas pelos outros campos aos quais pertencemos, os direitos e
obrigações que são diferentes para mãe e filha, uma relação de hierarquia que,
independentemente da idade, estabelece normas de conduta bem específicas, só
para mencionar a pontinha desse “iceberg” ...
Existem também leis escritas e não escritas, legais, éticas
e morais, além de uma lei de equilíbrio sistêmica peculiar, que estabelece que
os pais sempre dão e os filhos sempre recebem.
E existem também as relações verticais, pelas quais estamos
a serviço da nossa família, chamados a representar excluídos e a “concertar”
emaranhamentos e conflitos dos quais nem tínhamos a mais mínima ideia da sua
existência...
Temos, por um lado, mães que ainda são crianças ou que são
muito rígidas, mães que não puderam superar as situações que herdaram dos seus
maiores. Mães que aprenderam errado ou que ainda estão aprendendo. E filhos que
não se sentem satisfeitos com aquilo que suas mães deram, incluindo a vida que
receberam, e que é o ponto de partida de todo... que é o maior dos presentes.
Filhos que, no futuro se comportarão como suas mães ou tremendamente
influenciados por elas, por não ter aprendido o assentimento de tudo o que foi
e como foi, para assim ter um novo e forte ponto de partida no comando, construção
ou reconstrução de suas vidas.
No entanto, a filosofia de Bert Hellinger nos convida a não
cair na distração ou simplificação de que alguma coisa é certa ou é errada. As
coisas simplesmente são.
Como no carteado, onde a gente recebe determinadas cartas do
baralho. O jogo a continuação depende do que você fará com aquelas cartas, e
não depende para nada dos protestos nem da indignação por não ter recebido
outras cartas, preferentemente mais favoráveis.
Recebemos as cartas e imediatamente mergulhamos na
continuidade do jogo. Esso é assentimento e assentimento é uma atitude tão
importante, que A Sra. Brigitte Champetier de Rives, uma referência na
filosofia sistêmica, a considera como uma quarta lei ou força de amor, junto a
pertencimento, ordem e equilíbrio.
Será muito bom receber comentários dos nossos amigos.
Um abraço a todos
Muita luz!
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