Temos ouvido falar e falamos muito... da consciência.
Assim,
ouvimos e dizemos por exemplo:
“sou consciente disso!”
“você não tem consciência!”…
também falamos de inconsciente coletivo; falamos de respiração consciente e até de consciência quântica…
Mas a palavra
consciência é em realidade um conceito complexo, relacionado com a
mente, com a inteligência, com a capacidade de interagir... um termo
do qual deveríamos ser muito mais... conscientes!
Seja como categoria elementar da psicologia, seja como ter ciência ou conhecimento e algumas vezes como um grande receptáculo de valores e princípios… mas, no dia a dia, falamos de consciência.
Carl Gustav
Jung já nos falava de consciência individual que navega no mar da
consciência coletiva, como dois grandes espaços cheios de
características próprias, e que preservam um mundo psíquico
original por quem estão a serviço.
Segundo alguns pensadores,
à consciência se define como uma qualidade da mente ou dentro da
filosofia. Alguns deles, dividindo-a em duas consciências, em tanto
que outros mencionam oito formas diferentes para classificar e
compreender à chamada consciência.
De qualquer jeito, o consenso é que é difícil definir esta palavra, e, se conclui que a compreensão do conceito consciência é intuitiva e dificilmente descritível…
Não é por
tanto a nossa intenção, nem temos a capacidade de analisar este
tema em profundidade. Só falaremos da consciência dentro da
filosofia sistêmica e de forma simples, porque há consulentes que
já nos fizeram esse questionamento, e, porque faz parte da base
conceitual do nosso trabalho como facilitadores nas Constelações
Familiares segundo Bert Hellinger.
A filosofia sistêmica de Bert Hellinger veio a refrescar a nossa humanidade; a lhe devolver sua profundidade e sua lógica simples. Veio a trazer o equilíbrio e a naturalidade que nos acalma após do pesadelo, que é viver sem prestar atenção as consequências dos nossos atos, das nossas escolhas, sem respeito por nós mesmos e sem respeitar tanto aos nossos relacionamentos como a forma em que nos relacionamos. Nem sequer aqueles relacionamentos que deveriam ser os mais sagrados.
Hellinger não
descobriu a pólvora!
Mas, a partir do seu trabalho, percebeu, e
não é pouco, uma forma de olhar para a vida sem a necessidade de
medi-la e determiná-la como boa ou má, como certa ou errada, e,
para isso ele teve vários insights, a partir dos seus estudos e
experiências.
Um desses insight foi compreender a consciência
como um órgão de percepção.
Sim... pode parecer estranha
esta afirmação... Mas, é a mais pura verdade.
A consciência
nos diz, através de sensações de culpa ou inocência, de pesar ou
leveza, se as nossas decisões, nossas ações, nossas palavras ou
pensamentos, seguem as normas e valores do nosso sistema familiar ou
social.
A consciência
está avaliando constantemente se é que estamos de acordo com o que
se espera de nós dentro da família, e ele, Bert Hellinger, o
compara com o sentido do equilíbrio, que através de sensações
agradáveis nos diz que estamos em equilíbrio, em tanto que com
sensações desagradáveis nos “avisa” que o perdemos, para que
de alguma forma tentemos recuperá-lo o mais rápido possível.
Dá
para compreender?
Se estamos vivendo de acordo com as normas e
regras familiares ou sociais, nos sentimos inocentes e pertencentes
ao grupo, até para julgar e inclusive excluir aquele que não se
comporta honrando aquelas normas e regras.
Se em câmbio fazemos
alguma coisa que o nosso sistema o grupo desaprova, a sensação de
culpa que sobrevém e tão grande que em geral pesa de mais, nos
envergonha e até chega a nos adoecer.
E a maior parte das vezes
nem sabemos por que... simplesmente sentimos o “peso na
consciência” e a sensação de ter que fazer alguma coisa como
para reparar tais desatinos.
Esta forma de
perceber à consciência, define com clareza uma das três
consciências que Bert Hellinger identificou, e que hoje estão
na base da sua filosofia.
• A consciência que nos avisa
de ser culpado ou inocente em relação às expectativas que existem
sobre nós no nosso sistema, se denomina Consciência Pessoal.
E está tão impregnada em nós que achamos, em todo momento
que ela é a nossa personalidade, nosso intuito... que é ela quem
nos define tal qual somos, sem que possamos ser de uma outra forma.
É
dentro desta consciência Pessoal, que acontecem comportamentos e
sacrifícios que fazem sentido dentro de um sistema que se relaciona
de forma disfuncional, e onde acontecem doenças, tragédias,
compensações e até as violências mais absurdas, em nome de honor,
de lealdade e... do amor!
Bert Hellinger
descreve mais duas consciências:
• A consciência
oculta ou do Grupo e
• A Consciência Espiritual.
A consciência
oculta ou do grupo é muito mais ampla e abrangente... possui muito
mais força, ainda que esteja oculta a nossa percepção. Isto,
porque a consciência pessoal tem precedência à consciência
oculta.
Como vimos, a consciência pessoal está a serviço do
nosso pertencimento, da nossa sobrevivência dentro do grupo do nosso
interesse. A consciência oculta em câmbio, sempre está a serviço
do grupo.
Como o próprio Bert Hellinger o menciona em um dos
seus congressos, realizados na Alemanha em 2006, “...(a consciência
oculta ou de grupo) Está a serviço da sobrevivência do grupo
inteiro, mesmo que para isso alguns precisem ser sacrificados. Está
a serviço da totalidade desse grupo e das ordens que asseguram a sua
sobrevivência da melhor forma possível.”
Ou seja, que está
ao serviço das leis sistêmicas (pertencimento, ordem e
equilíbrio).
Uma das fortes características da consciência
oculta ou grupal (também chamada de consciência Familiar) e a de
ser absolutamente instintiva.
Bert Hellinger diz: “...Essa
consciência atua como um instinto. Um instinto grupal que quer
somente uma coisa: salvar e reestabelecer a totalidade. Por isso é
cego na escolha de seus meios.”
E que é o que isto
quer dizer?
A consciência oculta não escolhe de forma equânime
a quem lhe encarregará a tarefa de reestabelecer o equilíbrio
dentro do grupo familiar que, por transgressões de um ou de vários
dos seus integrantes, gerou emaranhamentos ou conflitos que
necessitem ser resolvidos. Pode ser que você não tenha motivos
pelos quais tenha que passar por experiências sistêmicas de
sofrimento, percepção e transformação, para restabelecer o
equilíbrio do grupo através da representação de algum ancestre,
mas, mesmo assim, a consciência oculta pode lhe designar.
E tudo isto, tendo
em conta que os ancestres podem ter perdido a vida, mas não o seu
direito a pertencer à família. Se foram excluídos, por qualquer
motivo, alguém os representará.
A terceira
consciência, é a chamada consciência espiritual.
A consciência
pessoal responde ao nosso pertencimento.
A consciência oculta
responde a necessidade de manter a integridade do grupo através do
respeito ás leis sistêmicas, e, a consciência espiritual responde
a uma força maior; a força que tudo o movimenta independentemente
das nossas vontades ou desejos. Responde a uma forma existencial onde
todos somos iguais e onde as leis sistêmicas se incorporam à
essência.
A consciência espiritual se baseia no assentimento a essa força superior e a sintonia que possamos experimentar com ela. Dentro dessa sintonia, experimentaremos uma sensação de paz e de segurança capaz de potencializar a nossa aliança com a vida e seus propósitos.
Porém, a não sintonia com essa força superior, a presencia de sentimentos e emoções que não se alinham com a energia da vida, com uma sensação de comunhão com o todo, se experimentará como desconforto. Uma sensação de desconexão com a vida, um vazio, inquietação ou fraqueza sem se ter ciência certa de porquê.
Tudo bem, ...,
mas. Qual é o papel destas consciências?
As
consciências descritas por Hellinger marcam o ritmo da vida por meio
das dinâmicas que se tecem nos relacionamentos humanos. Quanto mais
evoluímos e aprendemos a lidar com as nossas riquezas e pobrezas,
mais conseguimos viver sem gerar consequências negativas, mais
conseguimos existir, experimentando uma vida leve e plena. E as
sensações de culpa ou inocência, de bem-estar ou mal-estar, de
conforto ou desconforto, assim como a vigília da consciência oculta
pela integridade do grupo, resultam indispensáveis para a nossa
existência, para o equilíbrio e para evoluirmos em direção a
nossa essência.
Estas consciências
fazem parte da complexidade da vida e do existir, e nos permitem
fluir dentro das nossas possibilidades, pelos diferentes estágios
evolutivos, e, uma vez que as compreendemos profundamente, assentindo
nosso contexto e nosso lugar, estas consciências serão o sustento
para termos condições de transformar positivamente, criativamente a
nossa realidade e o nosso entorno, gerando novos padrões de
ressonância.
No cotidiano, sem
informações, sem percepções e sem a compreensão das dinâmicas
dos relacionamentos, pareceria que estamos presos no jogo da
consciência pessoal e no arrasador governo da consciência
oculta.
Mas, nada disso! A prática das constelações
Familiares nos ensina que todos nascemos com a força necessária
para resolver os desafios da vida que recebemos desde nossos pais.
…
Cada estagio evolutivo traz aprendizados e perdas,
crescimento e dores. O crescimento, a evolução e a tomada de
decisões que cada etapa nos exige, nos colocam em encruzilhadas as
vezes difíceis, mostrando caminhos que até podem parecer
paradoxais, mas que ao percorrê-los nos permitem soluções novas e
satisfatórias.
Entender as
consciências, tanto a pessoal como a oculta, e, agir de acordo a
esse entendimento nos permite mergulhar no fluxo daquela força
superior, espiritual, que nada tem a ver com religiões ou
esoterismo. Nos permite perceber esse nível espiritual de existência
e aos poucos adquirir, tomar para nós, fazer parte do fluxo
ininterrupto da vida.
A viagem, através
das consciências que o Sr. Bert Hellinger nos descreve na sua
filosofia, vá desde o apego e a soberba infantil até a humildade e
a sabedoria de quem adquiriu a consciência espiritual.
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