p. DANIEL DELLA VALLE
Já que estamos falando da maior idade, este é um bom momento
para falarmos sistemicamente das pessoas maiores da família... tanto do seu
papel familiar como da sua influência em nós, os descendentes…
Este tema da filosofia sistêmica, aparece frequentemente no trabalho das
constelações familiares, e hoje, o integraremos a nossas reflexões sobre a
saúde natural na maior idade.
Sem dúvidas, o destaque dentro do trabalho das constelações familiares é o
resgate da LIGAÇÃO COM OS NOSSOS PAIS.
A mãe, pelo seu significado estratégico e gerador, como o pai, também gerador e
encarregado de nos apresentar ao mundo.
Pai, Mai e filho/a são a célula primaria da sociedade e das relações humanas.
Do pai e da mãe bebemos nossa história e a nossa essência e só podemos ter
acesso à felicidade, ao êxito, à abundância, à saúde, à criatividade… à vida em
se, através deles, e, com a condição de mantermos uma relação equilibrada, ou
poderíamos dizer, verdadeiramente sistêmica com eles.
De uma relação saudável e tendo livre acesso às figuras da
mãe e do pai, obtemos a possibilidade de transitar pela vida de forma positiva
e leve, e assim, reduzir enormemente as vezes que transgredimos nossos limites.
A importância da figura dos progenitores para compreender, construir, e
consolidar a nossa vida é tanta, que na hora de constelar, independentemente do
tema que se trate, muitas vezes devemos primeiro, harmonizar a percepção da mãe
e a do pai no consulente. E a maioria das vezes essa ação acaba por ser a
solução.
É deles que recebemos o maior presente das nossas vidas: A VIDA
E quem são as pessoas maiores da nossa família, se não aqueles que foram a
célula primária da sociedade e de todas as relações humanas?
Quem são eles, se não os pais dos nossos pais... elo imprescindível na
continuidade da vida. As pessoas mais importantes para a existência e
sobrevivência dos nossos pais. Ou talvez dos pais dos nossos pais…. Sem
importar sua ordem na árvore genealógica, pois, de qualquer forma, sem eles,
não estaríamos aqui.
E qual é a diferencia entre nossos pais e eles, os adultos maiores?…,
simples... vieram primeiro.
Eles são a origem para nós, e mas, pois como acabamos e dizer, na corrente da
vida são os elos que fazem possível que tudo exista.
E há que observar, que o deterioro da sua saúde… não é suficiente para opacar o
serviço que já prestaram, e que ainda prestam a nosso campo familiar… e isso
exige de nós muito respeito e dedicação.
Há excepções?
Sim!… sempre existem as excepções. MAS, EM UMA RELAÇÃO SISTÊMICA COM OS NOSSOS
MAIORES, NÃO HÁ ESPAÇO PARA O DESRESPEITO E A DESCONSIDERAÇÃO.
Desrespeito e desconsideração são formas de exclusão. E dentro da filosofia
sistêmica ninguém perde seu pertencimento.
E, ainda que alguns dos nossos familiares maiores perdem a lucides, a memória,
a saúde… jamais deixam de pertencer. Nem sequer após de sua morte!
Por vezes nossos parentes mais velhos ficam doentes ou impedidos de exercer sua
independência.
O próprio envelhecimento pode provocar essa condição, ou as doenças adquiridas
ou decorrentes do processo senescente ... algumas bem conhecidas por todos nós.
E podemos afirmar que nestes casos, cuidar deles, pode resultar uma tarefa
muito difícil.
MAS, CHEGAR A ESTE PONTO DA VIDA E TER QUE CUIDAR DE UMA PESSOA MAIOR, TAMBÉM É
UMA CIRCUNSTÂNCIA SISTÊMICA. É uma proposta da consciência familiar que
assumimos ou aceitamos, o talvez um sacrifício por amor ou lealdade, ou a
consequência de não estamos no nosso lugar…, mas, em todo caso, NÃO É UM
CASTIGO DIVINO.
E se é uma circunstância sistêmica, se é um emaranhamento,
como tal deve ser resolvido. Essa será a tarefa… resolver o problema, resolver
o conflito e não transgredir as leis do relacionamento sendo
rudes, desrespeitosos e soberbos com nossos maiores.
Em tudo caso, não somos vítimas da vida... sempre somos coautores dela.
E se chegamos a esse ponto, é porque tudo conduziu a isso. De forma consciente
ou por “obra e graça” da consciência familiar.
Por outra parte, as pessoas da maior idade podem ser difíceis de compreender.
Eles têm sua própria velocidade, seus valores, sua forma de pensar, uma forma
de julgar e de ver o mundo com seus próprios parâmetros, que as vezes, são
difíceis de aceitar.
Mas, tirar sua importância ou relegá-los a um canto como se tratando de
criancinhas, destratando-os ou ridiculizando os só porque estamos numa posição
de poder (que sem dúvidas é passageira), não está certo, e não é, uma forma
humana de perceber às pessoas maiores.
Esse maltrato, muitas vezes inconsciente.... quase natural para com as pessoas
maiores, que aparece principalmente na sociedade ocidental, não surge do nosso
coração. Surge da incapacidade de ver que a vida vem de longe... Surge da nossa
pequenez, da nossa arrogância e das nossas dores nunca bem resolvidas. Surge da
necessidade de mantermos uma certa velocidade, uma certa produtividade na hora
de viver que sem dúvidas é enfermiça, e é também uma cruel tentativa de
esconder as nossas próprias fraquezas.
A gente não se dá tempo para pensar, para ver realmente a essas pessoas
maiores, nem para compreender a verdadeira origem das suas dores e
dificuldades. E curiosamente, a origem de suas magoas e ressentimentos,
indefectivelmente, se encontra no amor ou na lealdade à própria família da qual
fazemos parte.
As vezes mais fácil de ver, outras não tão fácil, mas essas pessoas passaram
por situações muito dolorosas e nem sempre conseguiram passar por todas essas
experiencias sem ficar feridas ou magoadas…
tiveram que enfrentar os conflitos familiares, as vezes gravíssimos, e
assumir responsabilidades e roles, dentro da consciência familiar, amortecendo
conflitos, tentando resolvê-los... fazendo o que podiam... E eles assumiram…
por nós… para nós.
E assim, ELES FIZERAM O QUE TINHAM QUE FAZER E ISSO FOI SUFICIENTE.
E... veja bem... prestemos atenção a esta afirmação... ao fato de que aquilo
que eles fizeram na vida...foi suficiente.
Pois é...
Esta afirmação nos apresenta uma verdade que, para muitos, que não compreendem
a filosofia de Bert Hellinger, é uma das mais difíceis de aceitar.
Cada um de nós vive a vida segundo um roteiro praticamente desconhecido e cada
um faz o suficiente em tanto dura sua vida. NÃO ESTAMOS FALANDO DE FAZER CERTO
OU ERRADO. Estamos falando de que não há como fazer mais ou diferente daquilo
que fizemos porque já está feito; não há sentido em reclamar, ou qualquer
tentativa de corrigir o já feito, o já viveciado... se é que no nosso coração
existe a expectativa de avançar na vida... de ir para a vida, sem gerar
consequências negativas com nossos pensamentos e ações.
O conviveu com os maiores poderia ser mais construtivo se mantivéssemos com
sabedoria nosso lugar dentro da família; respeitando o nosso lugar e
respeitando o lugar deles.
Respeitando o lugar dos avós, das pessoas maiores, que é a de
ser avós, que é a de ser quem eles são, nos pouparíamos de muitos
emaranhamentos e conflitos e estaríamos sendo coerentes com uma das 3 leis
sistêmicas que todo relacionamento sadio e equilibrado deve respeitar: a Lei da
ordem ou da hierarquia.
QUALQUER QUE SEJA A SITUAÇÃO, E AINDA SENDO UM DESAFIO, PODEMOS NOS CONDUZIR DE
FORMA RESPEITOSA E RESPONSÁVEL PERANTE DOS NOSSOS MAIORES.
A OUTRA LEI SISTÊMICA, A QUE FALA DO EQUILÍBRIO, também reclama de nós atenção
à forma em que nos relacionamos com as pessoas maiores da nossa família. Na
realidade, na forma em que tratamos as pessoas maiores em geral, pois todas são
pais e mães, todos são elos da corrente da vida.
A lei do equilíbrio nos diz claramente que a relação que se estabelece com os
nossos pais é que os pais sempre dão e os filhos sempre recebem. Nos dão a
vida, os cuidados iniciais, nos vestem, nos alimentam...
A dívida que temos com os avós e com os pais e impagável e SÓ podemos amortizar
essa dívida COM ATITUDES PURAS E AGRADECIMENTO PROFUNDO.
Os meios que temos, o “Cash” a nossa disposição para “devolvermos” de alguma
forma a vida e tudo o resto, que recebemos dos nossos maiores, não chegam a
equilibrar nem a equiparar o recebido, e terá meramente um valor simbólico. No
entanto, é suficiente quando entregue com respeito e reverência.
Em todo caso, podemos respeitar, acompanhar, ajudar quando possível, facilitar
a vida deles e dar-lhes sempre o lugar que lhes pertence dentro da casa, da família
assim como dos projetos que ele ajudou a erguer (família, lar, empresa,
comercio, clube ou atividade filantrópica). Mas, também, fazendo da nossa vida
uma vida de sucesso, tendo boa índole, sendo perseverante e comprometido na
vida e a favor da vida, mantendo valores e fazendo escolhas que nos permitam
viver sem gerar consequências negativas, e finalmente, quando seja a nossa vez,
sendo bons pais e bons adultos maiores. Todo está ligado e todo é como é.
Nem sempre podemos dar tudo o que necessitam ou a quilo que queremos dar. Nem
sempre podemos responder a suas expectativas o agir de acordo às nossas
expectativas... Pela história dos relacionamentos, nem sempre podemos dar....
com amor.
Mas, eles pertencem à família, chegaram primeiros desbrozando o caminho, e ao
dar a vida aos nossos pais e a nós, sem querer e graças a uma longa história de
doação na medida certa conseguiram a façanha de fazer o suficiente para que
hoje possamos estar aqui.
Como já dizemos, isso, só se paga com respeito, consideração, doação amorosa
quando possível e com um aceno reverente da alma que habita o campo superior.
Após tudo isto... Se você não pode se relacionar corretamente com os seus
maiores... o problema é seu.
Muita luz a todos,
Um forte abraço
Se cuidem!
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