por Daniel Della Valle
Alimentos que nutrem, Alimentos que adoecem
O dilema começa, para nós os privilegiados, na frente do
“buffet” do restaurante e das suas gostosíssimas opções; mas também pode ser em
casa, na hora de decidir o que comer, ou perante da dificuldade de não ter
opções como para nos alimentar de forma correta.
Seja como for, na hora de fazer o prato, optamos por aquilo
que é gostoso e bonito, para aquilo que faz as nossas glândulas salivares
funcionar e inundar a boca de sensações mais que agradáveis… quem pode resistir
a esse pecado?
E… isso está errado?
Bem… depende de como isso se mire. Se falamos de matar a
vontade e satisfazer uma sensação, um gosto em particular… coisas da memória
gustativa... talvez não esteja errado.
Se procuramos acalmar a ansiedade oral… não o estará.
Mas, se falarmos de alimentação… então sim… está completamente
errado. Fundamentalmente quando esse “matar a vontade de comer algo gostoso”
passa a ser a regra, e todo dia acabamos por passar por cima da alimentação
para darmos o “gosto” de comer algo “gostoso”, ainda que se trate de algo que
potencialmente seja venenoso para nosso sistema.
Comer é um ato voluntário, é ingerir um alimento sólido. E
esse “alimento” pode ser qualquer coisa. Posso comer uma fruta, uma arruela,
uma tapioca ou um tijolo de olaria, uma pedra, um peixe cru ou numa paella.
Nos alimentar ou nutrir é outra coisa.
Alimentar-se é tomar alimento; nutrir(-se). Sustentar-se
Nutrir-se é um ato involuntário, resultado da ação “comer”,
e que consiste em uma série de ações e reações orgânicas que estão envolvidas
diretamente com a qualidade da saúde, através da preparação e transformação do
alimento ingerido em parte funcional e estrutural de nosso organismo.
Bem diferente.
Nutrir-se é incorporar o alimento a nosso organismo,
possibilitando a vida.
Sempre dou a meus consulentes o mesmo exemplo. Imagine que
Você entra numa perfumaria para comprar um perfume. Observa as prateleiras e
decide levar um perfume específico, simplesmente porque o vidro e sua tampa
possuem uma forma graciosa e delicada. No entanto, a importância do perfume não
está no seu vidro e sim no seu aroma, na mistura de essências, nos seus “tonos”
…
Da mesma forma escolhemos nosso alimento fundamentalmente
pela cor e sabor e pela memória gustativa, ou seja, pela memória afetiva que o
gosto recria. Todos estes, elementos não relacionados com a ação de se nutrir;
elementos que nada tem a ver com o fato de incorporar nutrientes fundamentais
para a nossa saúde.
Mas então...Podemos comer gosto e nutrirmos ao mesmo tempo…
claro que sim!
Mas na prática não é isso que acontece.
O que ressalta o sabor e dá textura às comidas é geralmente
a gordura, o açúcar e o sal. Os hábitos alimentares e a origem cultural da
alimentação não garantem a efetiva nutrição; o mais prático e rápido na hora de
cozinhar nem sempre e saudável; por ser mais caro ou por ser econômico o
alimento não ganha status de bom ou de ruim.
Simplesmente existem os alimentos nutritivos e os que não o
são. E dentre estes últimos, podemos depararmos com alimentos que além de não
serem nutritivos, são prejudiciais para a nossa saúde e até venenosos.
Não sei se é realmente válido comer algo que não é
nutritivo, mas podemos diferenciar em alimentação social e alimentação
responsável. A de todos os dias, a que nos dá saúde, a que nos permite estar
vivos é a alimentação responsável e não podemos negligenciá-la. A alimentação
social, é bem cada tanto… e ainda assim perfeitamente evitável.
Hipócrates dizia em um dos seus aforismos: “Que teu alimento
seja teu remédio e teu remédio seja teu alimento” e daí nasce a Trofoterapía,
que é outra das nossas ferramentas de trabalho: e que não é outra coisa que o
tratamento das doenças através da alimentação.
Vamos a nos alimentar com responsabilidade e gostoso, mas,
saudavelmente!
Muita luz a todos,
um forte abraço
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